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Melhores Filmes de 2016

Antes de iniciarmos um novo ano cinéfilo, com as primeiras estreias de 2017 entrando em cartaz no país nesta quinta-feira (5), encerramos o ciclo de 2016 com nossa tradicional lista de melhores do ano no circuito comercial brasileiro. 

Como nas edições anteriores, a lista final é produzida a partir das listas individuais de nossos colaboradores, atribuindo a cada filme uma pontuação específica e crescente, conforme sua presença nessas seleções. 

Logo abaixo, é possível conhecer os participantes e os tops individuais de cada um. Neste ano, os filmes escolhidos são apresentados em texto por críticos do site, e também compilados em um vídeo cheio de cenas inesquecíveis. 

Confira nossa seleção e participe deixando a sua nos comentários. Um bom ano a todos, e excelentes filmes! 

Melhores filmes de 2016



10. Certo Agora, Errado Antes (Jigeumeun Matgo Geuttaeneun Teullida, 2015), de Hong Sang-Soo 

Os louros de direção e autoria para aquele que recicla suas técnicas num ritmo ''woody alleniano'' e para quem mais retorna aos procedimentos básicos do cinema para contar histórias simples sobre relações turbulentas. Um convite a olhar mais de perto: close-ups repentinos e simbólicos, elipses temporais e cortes oníricos emoldurando tudo o que é necessário ao cinema de Sang-Soo Hong: um homem e uma mulher. Com este Certo Agora, Errado Antes, o aperfeiçoamento mais icônico de um estilo próprio o faz dobrar a narrativa em dois e espelhá-la num estreitamento dos espaços e alargamento dos tempos: planos longuíssimos em que a interação dos pares se dá no micro dos corpos: o rubor repentino, o flerte sem anúncio, um gesto da mão, uma raiva ou um desejo incontidos, só para aflorar depois. O laboratório de Hong certamente está longe do fim, mas se algum filme puder, por enquanto, ser salvo como a síntese potente de sua obra, que este fique como o selecionado. (Felipe Leal)


9. Sangue do Meu Sangue (Sangue del mio Sangue, 2015), de Marco Bellocchio

Em um ano marcado pela presença de Marco Bellocchio no Brasil, participando de retrospectiva dedicada à sua obra na Mostra de São Paulo, nada mais simbólico que este grande cineasta italiano ainda emplacar dois filmes no circuito nacional. Belos Sonhos é um delicado drama sobre (des)estruturação familiar, mas é com Sangue do Meu Sangue que a criatividade do autor realmente se apresenta em toda sua potência, numa narrativa bifurcada de revigorante liberdade. Transitando por diferentes tempos históricos e flertando com fabulações fantásticas, entre a inquisição contra as bruxas na era medieval e os vampiros magnatas da contemporaneidade, a câmera de Bellocchio investiga o desejo e o pecado, a vida e a morte, em uma Itália às sombras do catolicismo e do fascismo – ontem, hoje e possivelmente sempre. Um filme, porém, que transgride suas implicações temáticas: maravilhoso mesmo é perder-se pelos belos planos e as imensas faces em close-up, todo um fascínio com a pele, a carne, o humano, que eventualmente renova o próprio significado das imagens. (Daniel Dalpizzolo)


8. A Chegada (Arrival, 2016), de Denis Villeneuve 

Embora baseado num premiado conto de Ted Chiang, A Chegada parece uma história que só poderia existir por meio do cinema. Nesse cruzamento do mito do sonho de Cassandra com fórmula sci-fi, um telão extraterrestre que só se comunica por meio de imagens e uma forma de vida cuja noção de tempo é totalmente abstrata, formam um conjunto de ideias que remete ao próprio cinema e sua característica única de linguagem imagética e manipulação temporal. Villeneuve cria essa ponte metalinguística e se vale somente de recursos exclusivamente cinematográficos (flashbacks, flashforwards, elipses, etc.), e com esse metafísico background parte para a discussão sobre o maior amor do mundo – o materno – e todas as suas formas de interação e linguagem centradas em uma Amy Adams gigante, que guarda em seu olhar todo o peso do universo, assim como todo o infinito amor e toda a infinita dor de ser mãe. (Heitor Romero)


7. Os Oito Odiados (The Hateful Eight, 2015), de Quentin Tarantino 

Goste-se ou não, Quentin Tarantino é o maior diretor americano dos últimos 25 anos. O precoce talento exibido em Cães de Aluguel e Pulp Fiction foi plenamente comprovado alguns anos depois em Jackie Brown, seu melhor trabalho até hoje. Já com o nome consagrado, o diretor sentiu necessidade de voltar às raízes do seu país e abordar a formação da sociedade americana, em especial a escravidão da raça negra imposta pelo homem branco. A primeira investida, Django Livre, ressente-se de uma segunda metade excessivamente falada, expositiva, embarrigada, e de um final meio frouxo. Não é de todo errado afirmar que estes problemas aparecem, talvez em menor grau, em Os Oito Odiados, sua segunda experiência neste mesmo tema. Mesmo para um admirador ardoroso da obra, é difícil não reconhecer a barriga provocada pelo longo flashback que revela determinados detalhes da trama que serão importantes para o desfecho da história. Mesmo assim, todos esses possíveis defeitos ficam em segundo plano diante dos saborosos diálogos que compõe toda a primeira metade, o toque De Palmiano na direção (primeiro e segundo plano em foco), a referência a John Ford (a tal carta que teria sido escrita – ou não – por Abraham Lincoln remete à máxima essencialmente fordiana “quando a lenda é mais importante que a verdade, imprima-se a lenda”), e o cheiro de Agatha Christie no ar (o filme pode perfeitamente ser visto como uma releitura de “O Caso dos Dez Negrinhos”), e o insuperável banho de sangue que sela o destino de cada personagem, certamente uma melhores coisas que o diretor já filmou na vida. Sem favor algum, Os Oito Odiados é um dos melhores filmes de Quentin Tarantino. (Régis Trigo)


6. A Bruxa (The VVitch: A New-England Folktale, 2015), de Robert Eggers 

2016 foi o ano onde o horror se fez presente de maneira definitiva, nas bilheterias e na ala crítica. Se o movimento teve um líder na temporada, esse lugar pertence a estreia em longa-metragem de Robert Eggers, que não se acanhou em sair da meca independente de Sundance com um merecido troféu de direção. Nesse estudo sobre a ascenção e a queda da fé, do lugar que nos leva até ela desembocar na desistência da mesma, o retrato de uma família fugindo da fome e expulsa pela incompreensão na Nova Inglaterra do século 17 vai se deparar com um teste definitivo em suas crenças e nos laços que os une. A reboque da mais elegante condução cênica e narrativa de 2016, Eggers mostrou que sabe onde quer estar na próxima década e que o horror pode ser tão sofisticado quanto o mais enigmático cinema de autor. (Francisco Carbone)


5. Cemitério do Esplendor (Rak ti Khon Kaen, 2015), de Apichatpong Weerasethakul

O cinema contemplativo de Apichatpong Weerasethakul nunca foi de fácil digestão: seus planos são longos, por vezes vazios, com histórias simples mas desenvolvidas de maneiras cativante, ignorando o limite entre o real e o fantástico; é o caso de Cemitério do Esplendor, um de seus filmes menos complexos. Um grupo de soldados que trabalhava em uma escavação cai em um sono profundo e alguns familiares e voluntários dedicam-se a cuidar deles. Entre um despertar e outro, um tratamento através de luz é implantado para fazê-los sonhar melhor... E isso não é o cinema? O tratamento do sonho através da luz? Não é ele também que ignora o limite entre o real e o imaginário em uma tela bem iluminada e envolta por escuridão total? E em um mundo onde princesas místicas são encaradas com tamanha naturalidade - assim como sua apresentação visual realista - discutimos a vida, o tempo, as ações e demais filosofias. Para quem gosta desses temas e consegue embarcar junto nesse mundo sem barreiras, é um prato cheio. (Rodrigo Cunha)


4. O Cavalo de Turim (A Torinói ló, 2011), de Béla Tarr e Ágnes Hranitzky

Densidade imagética e sonora, longos planos e poucos diálogos. O longa abre um leque de possibilidades imenso envolvendo maldições espirituais, síndromes usando o animal como catalisador. Nietzsche e o condutor da carroça, são, também, vítimas da inércia, supostamente oriunda do quadrúpede - debilitado e entregue à morte dentro do celeiro, mas representado por uma ventania infinita que espalha o terror psicológico pela casa. A visão de Tarr sobre a humanidade é pessimista a ponto de declarar que a história profetizada por Deus foi alterada e que não haverá descanso para os mortais. E sob  lenta entrega de forças através de árduo exercício contemplativo  enriquecido pela plástica, pungente por seu conteúdo e denso e soturno em analogias, O Cavalo de Turim é tão intenso que nos leva para análises que fogem à história, assim como o diretor faz por diversas vezes durante o filme. (Pedro Tavares)


3. Aquarius (Aquarius, 2016), de Kleber Mendonça Filho

Aquarius recebeu os holofotes do mundo em maio de 2016, durante sua estreia internacional no renomado Festival de Cinema de Cannes. Porém, antes mesmo da boa recepção da crítica e do público sobre a obra em si, Kleber Mendonça Filho e boa parte do elenco causaram um imenso burburinho em pleno tapete vermelho com abertas manifestações em defesa do mandato da então presidente eleita, Dilma Rousseff. Daí em diante, Aquarius passou a ser o centro das atenções do cinema brasileiro no ano que se findou, tanto por conta das questões de caráter político quanto pela repercussão vinda dos inúmeros elogios (merecidos) à qualidade do filme. Aquarius traz um frescor ao cinema nacional contemporâneo, sendo um excelente representante dessa nova safra de filmes, abordando premissas de caráter mais global, com roteiros inventivos e de crítica social. Tendo por base a especulação imobiliária, o pernambucano KMF entregou ao mundo um drama forte e sensível, sobre o tempo, memória, valores afetivos e morais e, acima de tudo, resistência. Tudo isso com Sônia Braga espetacular no papel da protagonista Clara e com uma trilha sonora de fazer comover os amantes da boa MPB. (Léo Felix)


2. Elle (Elle, 2016), de Paul Verhoeven

Se dá para traçar um denominador comum entre os personagens de Paul Verhoeven seria o seu pragmatismo contra as adversidades. Sua sina é enfrentar o campo de batalha do diretor, esculpido através de constante exposição, com pouca paciência para barreiras e didatismos. Elle é uma de suas personagens mais sintomáticas: antes de ser construída para a câmera como personagem o que vemos é seu estupro, sua quebra. No resto do filme, é construída não como exemplo ou vítima, mas como uma personagem tridimensional, sendo muitas vezes nem mesmo simpática. Até descambar para o jogo de gato-e-rato e a grosseria do último ato, temos um filme que entre seus momentos perturbadores do início e da conclusão filma sua protagonista avançar sozinha contra o mistério do maníaco, contra os patéticos personagens masculinos, contra o próprio passado sombrio. Cheio de referências ao mundo contemporâneo - como o subtexto com o mundo dos jogos eletrônicos - e metido na fôrma do exploitation europeu setentista, Elle é um teste de fogo para personagem e espectador, sem nunca facilitar para nenhum dos dois. (Bernardo Brum)


1. Carol (Carol, 2015), de Todd Haynes

Se Longe do Paraíso colocou o nome de Todd Haynes no mapa dos sucessores de Douglas Sirk e seus melodramas, e isso após o pioneirismo do new queer cinema, Carol leva Haynes para além do mero resgate deste classicismo. Antes de ser um road movie romântico sobre duas mulheres que descobrem o sentimento mútuo entre ambas, e a partir daí também as mudanças que uma traz para a vida da outra, Carol é uma obra sobre sentir. Construído sobre rigidez técnica e extrema sutileza que fazem alguns erroneamente traduzirem o filme como algo “frio”, Haynes e suas duas atrizes em estado de graça nos entregam uma nova referência sobre o que é o sentir. Há todo um sentimento latente que permeia cada enquadramento perfeitamente elaborado pelo diretor, uma paixão e um desejo ali prontos para explodirem e serem evocados com intensidade. O que não deixa de ser ainda mais acertada a “finalização” da história, quando as duas protagonistas, enfim, encontram a chance de viver aquele amor sem amarras. Amor esse que é construído através dos mais singelos olhares, toques e palavras. Entre Douglas Sirk e David Lean, Carol é antes de um filme apaixonante, um filme apaixonado. (Rafael Oliveira)


Listas individuais:

Alexandre Koball 
1. Aquarius
2. Anomalisa
3. A Lagosta
4. A Bruxa
5. Spotlight
6. A Chegada
7. O Regresso
8. A Grande Aposta
9. O Filho de Saul
10. Dois Lados do Amor

Bernardo Brum
1. Carol 
2. Elle 
3. Certo Agora, Errado Antes
4. Jovens, Loucos e Mais Rebeldes! 
5. Os Oito Odiados
6. Cemitério do Esplendor
7. Aquarius
8. A Bruxa 
9. Julieta 
10. Maravilhoso Boccaccio

César Castanha
1. O Que Está por Vir
2. Amor e Amizade
3. Ela Volta na Quinta
4. Tangerina
5. Carol
6. Academia das Musas
7. A Assassina
8. Ave, César!
9. Aquarius
10. Certo Agora, Errado Antes

Daniel Dalpizzolo
1. Carol 
2. Certo Agora, Errado Antes
3. Elle
4. Cemitério de Esplendor
5. Sangue do meu Sangue
6. Sully
8. Creepy
8. Caprice
9. Os Campos Voltarão
10. O Que Está Por Vir

Felipe Ishac
1. A Juventude
2. Cavalo de Turim
3. Cemitério do Esplendor
4. Sangue do Meu Sangue
5. O Filho de Saul
6. As Montanhas se Separam 
7. Do Que Vem Antes 
8. A Assassina
9. Certo Agora, Errado Antes
10. O Que Está Por Vir

Felipe Leal
1. Elle
2. Jovens, Loucos e mais Rebeldes
3. A Assassina
4. Carol
5. O Silêncio do Céu
6. A Academia das Musas
7. Teobaldo Morto, Romeu Exilado
8. Depois da Tempestade 
9. 45 anos
10. O Lamento

Francisco Bandeira
1. Sangue do Meu Sangue
2. Cemitério do Esplendor
3. Creepy
4. Elle
5. Certo Agora, Errado Antes
6. Sully - O Herói do Rio Hudson
7. Jovens, Loucos e Mais Rebeldes!!
8. Os Campos Voltarão
9.O Que Está Por Vir
10. Depois da Tempestade

Francisco Carbone
1. Na Ventania
2. O Cavalo de Turim
3. Anomalisa
4. Certo Agora, Errado Antes
5. As Montanhas se Separam
6. Visita ou Memórias e Confissões 
7. De Longe Te Observo
8. A Garota de Fogo
9. O Que Está Por Vir
10. Aquarius 

Guilherme Bakunin
1. A Chegada
2. Cavalo de Turin
3. Anomalisa
4. A Assassina
5. Carol
6. Elle
7. A Bruxa
8. Cemitério do Esplendor
9. O Lamento
10. Jovens, Loucos e Mais Rebeldes

Heitor Romero
1. Carol 
2. Elle 
3. Cemitério do Esplendor 
4. O Cavalo de Turim
5. A Bruxa 
6. Creepy 
7. O Silêncio do Céu
8. Aquarius 
9. As Montanhas se Separam
10. Sangue do Meu Sangue 

Leonardo Félix
1. Aquarius
2. Os Oito Odiados
3. O Quarto de Jack
4. Spotlight - Segredos Revelados
5. Capitão Fantástico
6. Trumbo - Lista Negra
7. A Chegada
8. O Regresso
9. Carol
10. A Grande Aposta

Marcelo Leme
1. A Bruxa
2. A Despedida
3. O Lamento
4. Estados Unidos Pelo Amor
5. Carol
6. A Ovelha Negra
7. A Passageira
8. Nossa Irmã Mais Nova
9. A Chegada
10. Elle

Pedro Tavares
1. O Cavalo de Turim
2. O Ignorante
3. As Montanhas se Separam
4. Sangue do Meu Sangue
5. Nossa Irmã Mais Nova
6. O Que Está por Vir
7. Elle
8. Sully
9. Carol
10. Cemitério do Esplendor 

Rafael Oliveira
1. Carol
2. Aquarius
3. Elle
4. A Chegada
5. A Criada
6. O Lamento
7. Chi-Raq
8. Anomalisa
9. A 13° Emenda
10. Cinco Graças

Rodrigo Cunha
1. Carol
2. A Chegada
3. Elle
4. Aquarius
5. Os Oito Odiados
6. A Bruxa
7. Jovens, Loucos e Mais Rebeldes!!
8. Cemitério do Esplendor
9. A Assassina
10. As Montanhas Se Separam

Régis Trigo
1. Carol
2. Os Oito Odiados
3. As Montanhas se Separam
4. Elle
5. Aquarius
6. Decisão de Risco
7. Deadpool
8. O Que Está por Vir
9. Ave César
10. Indignação 

Silvio Pilau
1. O Quarto de Jack
2. Decisão de Risco
3. Steve Jobs
4. Os Oito Odiados
5. Brooklyn
6. Aquarius
7. Jovens, Loucos e Rebeldes 
8. Capitão Fantástico 
9. O Regresso 
10. O Filho de Saul 

Victor Ramos
1. O Cavalo de Turim
2. Creepy
3. O Lamento
4. Elle
5. A Bruxa
6. Os Oito Odiados
7. A Assassina
8. Jovens, Loucos e Mais Rebeldes!!
9. Carol
10. Invasão Zumbi

Comentários (14)

Rique Mias | sábado, 07 de Janeiro de 2017 - 00:20

Noh.. tenho que ver "Carol"!

Mauricio Antunes | sábado, 07 de Janeiro de 2017 - 13:37

Na minha lista de favoritos só entrou Elle, Os Oito Odiados e A Chegada. Não assisti quatro desta lista.

Otávio de Souza Ribeiro Filho | segunda-feira, 13 de Fevereiro de 2017 - 22:25

Filmes ótimos e que marcaram o ano, porém, dificilmente algum deles será lembrado daqui 10, 20, 30 anos...

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