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Melhores Filmes de 2018 - Leitores

Depois de termos passado em branco em 2017, nossa tradicional lista de Melhores Filmes dos Leitores está de volta na sua edição 2018. Foram quase 100 filmes citados em quase 40 listas em votação realizada no nosso fórum, curiosidades essas que vocês podem ver ao final da matéria.
O Cineplayers agradece profundamente a participação de todos e não deixe de compartilhar / comentar para que esse artigo chegue ao maior número de pessoas possível!
Visite também a votação dos Editores.
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Confira abaixo a seleção final, com textos feitos por 10 de nossos grandes usuários.
10. No Coração da Escuridão - 910 pontos
O filme aborda uma crise pessoal engatilhada pela desilusão de percepções de um personagem, esta por sua vez acarretada por um momento de choque. O curioso é notar que aquela frustração sempre co-existiu com o ministro de Hawke, porém nunca se manifesta, justamente pela rigidez institucional na qual ele esta inserido de forma passiva, ainda que questionamentos surjam, o choque elevado ao extremo ainda é fundamental para o esclarecimento, especialmente porque o sistema que frustra o capelão é o mesmo o qual buscou quando em desamparo pelo luto. Processo que funciona muito mais como uma libertação que uma revolta regada por desejo de mudanças, o padre passa a ser posto entre sua posição e seus desejos mais humanos e ambíguos, mas é notável como Schrader concilia ambas as frentes dramaticamente. Interessante ainda como o diretor materializa toda uma preocupação com o perigo dessa passividade imposta pela forma que o sistema é constituído, como isto pode reverberar das formas mais perigosas e aí entraria a ambiguidade poderosa da "nova forma de oração" e como essa preocupação inicial torna-se um niilismo desesperado, resultando numa distorção na figura do mártir/suicida e na noção de que esta é única forma de redenção.
- Ravel Macedo
9. O Outro Lado do Vento - 1070 pontos
Orson Welles certa vez disse em uma entrevista que o pouso na Lua foi o maior ato de profanação já cometido pela humanidade. A tentativa de concluir postumamente “O Outro Lado do Vento”, um dos mais célebres projetos inacabados de Welles, carrega consigo o mesmo peso. É um empreendimento de tal forma ambicioso que, quando levado a cabo, suscita mais dúvidas e evidencia impossibilidades do que leva a conclusões. O papel de Jake Hannaford, que Orson Welles considerou interpretar ele mesmo antes de finalmente escalar o colega diretor John Huston, carrega uma masculinidade que é tanto exagerada e agressiva - como nas cenas com o professor que trazem um desconforto e claustrofobia que não estariam fora de lugar em sua adaptação de ‘O Processo’ – quanto frágil, como é perceptível na clara relação homoerótica do diretor com a estrela do filme dentro do filme, John Dale. O erotismo e o desejo de retorno ao ímpeto juvenil (“drain out the living virtue, suck out the living juice”) atravessam o filme, que tanto acena à essa juventude e modernidade representada no cinema pela à época emergente Nova Hollywood (“you shoot the great places and the pretty people”), quanto a coloca em crise, evidenciando o que tem fútil e superficial (“all those girls and boys, shoot them dead”). “Cut”.
- Polastri
8. Um Lugar Silencioso - 1200 pontos
No cinema, muitas são as fórmulas para causar medo. De monstros horrendos à expectativa de um perigo iminente, ou quem sabe mostrando sangue, gritos e correria, o terror vai se renovando na tentativa de surpreender. A verdade é que “Um Lugar Silencioso” (A Quiet Place), do novato diretor John Krasinski, realmente causa aflição pelo não-dito. É o silêncio mais perturbador que você verá em décadas, talvez desde o filme justamente chamado de “O Silêncio” (1963), de Ingmar Bergman. O barulho não é apenas a exceção das cenas filmadas neste surpreendente roteiro, é também o sinal do perigo, o aviso para o desastre. E o filme já começa com tal clima de tensão, se estendendo ao longo de toda sua projeção, num trabalho magnífico de ambientação, bem como na condução dos atores, uma vez que, aqui, até as crianças dão show: a expressão dos atores é o que mais “fala”. Uma ou outra opção do roteiro pode não agradar a todos, mas é o mínimo a dizer. Ou melhor, nem cabe falar muito. Não adianta espernear, nem fazer alvoroço: se há algum estardalhaço contra o filme, este foi suplantado pelo seu sossego agonizante. Prova disso é que virá o segundo, o qual iremos esperar silenciosamente, óbvio, sem estrépido, torcendo taciturnamente para que seja tão bom quanto este.
- Alan Nina
7. Em Chamas - 1310 pontos
Desde os primeiros minutos do longa, o diretor Chang-dong Lee consegue quase que imediatamente prender o espectador. Ao nos inserir na pele do solitário Jong-soo, logo desenrola as relações e personalidades dele e das outras duas figuras chaves da trama, a amiga de infância Hae-mi e o abastado Ben. Segue-se então um cuidadoso estudo do trio de personagens, com pinceladas críticas quanto à desigualdade na Coreia do Sul, que mantém quem assiste em uma névoa de desconfiança quanto a natureza da história. Mas então o filme nos apresenta sua virada, e qualquer fiapo de certeza se esvai, numa construção de um mar de ambiguidades cada vez mais agoniante, onde parece ser impossível captar algo além das aparências. Mas, claro, na jornada semi-investigativa de Jong-soo, as respostas não importam verdadeiramente. O que Em Chamas se pretende é instigar o espectador, tirá-lo da zona de conforto. No fim, a metáfora dita por Hae-mi sobre a “pequena fome” (física) e a “grande fome” (busca por um sentido) parece ser a central. Afinal de contas, não é preciso dizer qual das duas instiga os três personagens a cometer todos os seus atos, do mais banal ao mais extremo.
- Nick Barros
6. Projeto Flórida - 1350 pontos
As cores saturadas dos hotéis baratos que mimetizam uma arquitetura cafona dos castelos da Disney, paraíso fronteiriço a esse cortiço multicolorido, apresentam o Projeto Flórida. O cenário american way of life periférico de Sean Baker não está em prol de um mero retrato social, aqui a mise-en-scène está a favor de uma visão singela e particular de Moonee (Brooklynn Prince), uma criança à margem do refúgio da fantasia. O cotidiano infantil está em sua forma bruta, espontânea, e partilha com os seus “tutores” o desajuste, a irresponsabilidade e genuína ternura entre a prostituta e a garota, pela ótica de Baker - tal qual Chaplin (em “O Garoto”) - são traduzidos para seus verdadeiros e primeiros papéis, mãe e filha. Essa realidade marginal, contudo, só é compreendida por Bobby (Willem Dafoe) que atua como interventor e observador. Assim como o espectador, ele é o único consciente da insustentável relação entre a imprudência infantil e adulta. Esse conhecimento ditará diferentes sensações em uma jornada onde a ilusão é parte da rotina do microcosmo das personagens que habitam o filme. Essa efêmera harmonia caótica pontua o sabor desse projeto: uma experiência agridoce de realidade e lirismo.
- Ricardo Nascimento Bello e Silva
5. O Primeiro Homem - 1370 pontos
Não haveria cineasta mais credenciado para enfim adaptar a mítica narrativa da Apollo 11 ao cinema do que Damien Chazelle, notabilizado que foi por retratar protagonistas que devem arcar com enormes sacrifícios para atingir uma meta inalcançável. Mas se em “Whiplash” o jovem baterista de jazz tinha de sacrificar sua integridade física e mental pela proficiência e em “La La Land” o casal principal renunciava ao relacionamento amoroso para alçançar o idílio profissional, em “O Primeiro Homem” Chazelle consolida-se de vez como autor, retomando e, ao mesmo tempo, transcendendo essa temática, já que aos sacrifícios pessoais de Neil Armstrong somam-se os enormes custos para o restante do mundo, em meio ao clima de ebulição e transformação social da década de 1960. E mesmo ante tal conflito de perspectivas, Chazelle reafirma a validade dos sacrifícios para viabilizar a conquista com a catártica e derradeira sequência da caminhada em solo lunar, nela empregando toda magnitude e ampliada razão de aspecto do formato IMAX, em gritante contraste com os planos fechados e subjetivos prevalentes na fotografia até então. Porém a cena chave do filme é a do lançamento da Apollo 11, na qual, em meio ao design de produção impecável e à trilha e diegese sonoras complementando-se num clímax orquestral perfeito, destaca-se o olhar de Armstrong, inquebrantavelmente focado no longínquo, mas agora factível, objetivo.
- HELIO SOUZA
4. Infiltrado na Klan - 2090 pontos
Como de se esperar nos melhores trabalhos do Spike Lee, Infiltrado na Klan trata de um conjunto de situações com ideias e personagens complexos cuja “crônica completa” se estabelece mais dentro do espectador que na unidade narrativa do filme. Apesar das críticas compreensíveis que se fazem sobre Spike ser panfletário (ele gosta de ser explícito com seu público), o veterano nova-iorquino ainda guarda muito gosto pelo particular, e Infiltrado na Klan tem um foco rígido que combina bem com os interesses dele, numa trama policial que abarca mais observações sobre o presente que sobre o passado reimaginado. Faz parte, enfim, do olhar que o diretor levanta sobre Hollywood nos últimos anos da era Obama e começo da era Trump, tão extasiada por revisionismo histórico ou dramas de reconciliação, e a sequência do policial negro ensaiando com Adam Driver como “falar que nem ele” (o protagonista conversa ao telefone com membros da KKK) é o tipo de brincadeira que mergulha exatamente na brecha entre pragmatismo heroico e vazio sistêmico que existe por toda parte aqui. Um dos panoramas mais debochados sobre a América recente de tensões raciais, e o final é uma conjuração assombrosa da ansiedade absoluta que sempre moveu Spike, um cineasta imperfeito, mas muitas vezes visceral.
- Vinícius Aranha
3. Trama Fantasma - 2290 pontos
Ao propor um estudo de personagens, e não apenas um estudo de personagem, Paul Thomas Anderson, que assina a direção e o roteiro do filme, também acaba rejeitando os maniqueísmos e os artifícios caricatos que facilmente seriam utilizados em mãos medianas; enquanto ele vai descascando as complexidades na persona de Woodcock, a personagem de Alma, futura esposa dele, também vai acompanhando esta imersiva evolução. Sendo ela, não apenas uma mera companheira passiva, mas a responsável por descobrir e criar essas nuances em seu companheiro. Contrariando o que poderia parecer, toda a frieza e a rigidez na figura de Woodcock não significam uma pessoa desapaixonada e distante dos sentimentos de Alma; como os próprios nomes do casal já deixam claro, Alma é a responsável por preencher o vazio e “matar a fome” de Woodcock. E o que torna o filme tão fascinante é justamente a dificuldade em torno desta missão; Alma está inserida em um jogo, e ela tem total consciência disso. E o fato dela também ser dotada de uma forte personalidade, o leva a manter o pulso firme e jogar as suas cartas também. No final das contas, quem acaba vencendo este jogo são os dois.
- César Barzine
2. Três Anúncios Para um Crime - 2310 pontos
Um dos filmes mais discutidos do ano de 2018, “Três Anúncios para um Crime” em nenhum momento foi uma unanimidade - é numerosa a quantidade de críticos e cinéfilos com impressões positivas e negativas sobre a história de Martin McDonagh. Ao acompanhar uma mãe atormentada pelo engavetamento pela polícia do caso do assassinato de sua filha, a obra introduz de forma humana o desespero da personagem de Frances McDormand (ganhadora do Oscar por este trabalho). Paulatinamente, as situações dramáticas envolvendo a matriarca sedenta por justiça passam a sinalizar a falência de uma situação social calcada na crença do fazer justiça com as próprias mãos. Os conflitos das personagens evidenciam uma camada de tensão aparentemente oculta na vida cotidiana da pacata cidadezinha. Embora interessante a desconstrução dos envolvidos nessa trama de acontecimentos - em particular a quebra dos arquétipos de herói e vilão - o tom (altamente) moralizante adotado pelo filme pode incomodar em alguns momentos. Também pode gerar certo desconforto o desenvolvimento superficial de certos personagens, como é o caso do ex-marido de Mildred e sua atual namorada (numa cena constrangedoramente ineficiente). O próprio personagem de Sam Rockwell (também ganhador do Oscar) acaba prejudicado em alguns aspectos pelo moralismo.
- Pedro Garcia
1. Roma - 3230 pontos
Certa vez, o grande crítico de cinema Roger Ebert escreveu que para ele quanto mais um filme era específico ao abordar a experiência humana mais universal ele conseguia ser. Essas palavras vêm à mente agora ao escrever sobre Roma. Após vencer o Oscar de direção por seu último trabalho, Cuarón optou por retornar para suas origens e fazer um filme baseado em suas memórias da infância passada no bairro Colônia Roma, da Cidade do México, focando principalmente na sua relação com Libo, empregada que cuidou dele desde que era um bebê e por quem nutre um carinho especial, que transpira em Roma pelo modo terno com que Cuarón filma Cleo, a personificação de Libo nesta obra. Assumindo as funções de produtor, diretor, roteirista, diretor de fotografia e editor para que nada escapasse de sua visão, cada escolha tomada em todas essas funções se mostrou acertada. Desde a belíssima fotografia P&B em 65 mm ao design de som usando o Surrond Dolby Atmos, a impressão que se tem é a de assistir a um filme épico sobre o cotidiano. Que de tão específico e de tão pessoal sobre seu realizador consegue ser universal e poético o suficiente para comover a todos que o assistirem, seja em tela pequena ou tela grande. Uma celebração da vida por Cuarón.
- Carlos Eduardo
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Algumas curiosidades sobre essa seleção:
Leitores que votaram: 38
Filmes diferentes citados nas listas: 98
Filmes diferentes entre editores / leitores:
Editores: Zama, Amante por Um Dia, Me Chame Pelo Seu Nome, Arábia
Leitores: Um Lugar Silencioso, O Primeiro Homem, Três Anúncios Para um Crime e No Coração da Escuridão (não valeu para a contagem dos editores em 2018)
Filme mais votado: Roma (22 votos)
Filme que mais ficou em primeiro lugar: Roma (8 vezes)
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É isso, pessoal! Muito obrigado pela participação de todos e até 2020!

Comentários (8)

Antonio Montana | quarta-feira, 06 de Fevereiro de 2019 - 16:19

trama fantasma é de doer...deveria ser bottom

Walter Prado | quinta-feira, 07 de Fevereiro de 2019 - 16:09

"trama fantasma é de doer...deveria ser bottom"

Melhor do ano.

Antonio Montana | sexta-feira, 08 de Fevereiro de 2019 - 12:21

"Melhor do ano."

😏 Acho q temos gostos muito divergentes...hahahaha

Walter Prado | sexta-feira, 08 de Fevereiro de 2019 - 17:30

"Acho q temos gostos muito divergentes...hahahaha"

Eu tenho quase certeza. 😕

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