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A África em língua Portuguesa no Festin Niterói 2021

O FESTIN - Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa -, com sede (virtual) dessa edição em Niterói-Rj, disponibiliza GRÁTIS e via streaming até o dia 29 de março uma série de longas e curtas metragens em língua portuguesa (ou em idioma originário dos países lusófonos).

Oportunidade interessante para ter uma perspectiva dos artistas desses países, da cultura local e de uma noção moderna da África. Acessar esses filmes pode significar o começo da desconstrução de um idealismo nocivo defendido por muita gente de uma “passargada” negra do continente africano.

A produção artística em língua portuguesa (fora o Brasil, claro) quase não é consumida no nosso país. Filmes como o angolano Ar-Condicionado (2020), de Fradique, sucesso por onde foi exibido no mundo, não chega nem perto dos olhares brasileiros.

Há, é certo, um esquecimento das plataformas/exibidores com esse material, mas também há um público que vai até ao cinema do Pedro Costa - quando vai - e volta à superfície. Pensando em incentivar o nosso público nesse mergulho conosco, separamos entre os 15 curtas-metragens disponibilizados uma colinha com os 5 que mais chamaram a atenção:


1. Fim (2018), de Lara de Sousa - Moçambique

Lara de Sousa, formada em cinema pelo ICAIC, utiliza-se da estética documental cubana à lá Nicolás Guillén Landrián em conjunto com a história de luta moçambicana num relato familiar. O que podia ser extremamente pessoal, nas mãos da talentosa cineasta transforma-se num exercício de montagem experimental universal, sensível e muito potente.


2. O Mambo (2018), de Nuno Barreto - Angola

Mambo na gíria angolona quer dizer “alguma coisa”, por exemplo: temos de fazer um mambo juntos, aqui estabelece o ritmo de um relato cômico de ação, cheio de reviravoltas. Um contínuo movimentar da câmera nas ruelas de Lubango, somado a uma iluminação quase toda exposta dão ao filme momentos de muita correria, diversão, música e surpresas.


3. Hora di Bai / Hora da Partida (2018), de Samira Vera-Cruz – Cabo Verde

Filme sensível situado na Ilha de Santiago, em Cabo Verde. Os entrevistados mostram sua visão da morte e do processo religioso denominado Hora di Bai. A dualidade entre lamento e alívio, ou mesmo sobre o peso da ida e das contas que devem ser pagas pelos vivos entram em pauta de forma profunda, mas sempre com a voz dos protagonistas.


4. Tara Bandu (2018), de Victor Sousa Pereira - Timor Leste

Entre os selecionados, é aquele com o perfil etnográfico mais forte. O filme tenta centrar-se em mostrar uma prática tradicional timorense e os desdobramentos políticos que a resistência do ritual significa atualmente no país.


5. A Gravidez é Nossa (2019), de Tina Kruger e David Aguacheiro - Moçambique

Simples. O filme vai procurar mostras como quatro gerações de homens moçambicanos pretendem desconstruir o processo de gravidez ao homem contemporâneo. Numa sociedade machista, pequenas mudanças na forma de lidar com a companheira e com os filhos podem ser revolucionárias.

Comentários (1)

Ted Rafael Araujo Nogueira | domingo, 11 de Abril de 2021 - 10:35

O processo de construção de uma cinefilia coletiva depende das escolhas dos aportes culturais que cada sociedade decide abarcar, sejam eles de aspecto político via estado e educação ou pelas influências culturais de seus próprios criadores. A nossa visão ainda é viciada por nossas influências já conhecidas, o que acabar por relega cinemas outros, tais quais os africanos. A fuleiragem da colonização cultural que nos assola leva tempo para ser vencida - pelo menos embaçá-lo-emos então - , por isso a inclusão teimosa destes cinemas deve ser ressaltada e debatida.

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