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Direto do Festival do Rio

Começou no dia 21 de setembro o oitavo Festival do Rio, trazendo mais de 300 filmes de diversos países; um pouco menos do que no ano passado, mas reunindo a usual seleção de filmes badalados e obscuros, que freqüentaram os festivais ao redor do mundo. Comprar antecipadamente os ingressos foi bem mais fácil esse ano, uma grata surpresa, e grande parte dos filmes anunciados chegou a tempo com perdas notáveis do novo filme da Sofia Coppola, Maria Antonieta e do último do Stephen Frears, A Rainha.

Mas o festival está bem servido de diretores importantes, como a Palma de Ouro The Wind That Shakes The Barley de Ken Loach, ou os novos trabalhos de Robert Altman (A Última Noite - A Prairie Home Companion), Almodóvar (Volver) e Alejandro Gonzales Iñarritu (Babel), este prometeu vir ao festival assim como Darren Aronofsky que trouxe o seu A Fonte da Vida - The Fountain.

Para o público mais alternativo, trouxeram filmes que vêm chamando a atenção em Festivais lá fora como o canadense C.R.A.Z.Y. e o coreano The Host, além do favorito da crítica e público El Laberinto Del Fauno do mexicano Guillermo Del Toro, que volta a filmar na Espanha depois de alguns filmes de super-herói em Hollywood. Para a galera da meia-noite, o festival trouxe desde três filmes do mestre do cinema bizarro Alejandro Jodorowsky, a uma seleção de sci-fis mexicanos. Tem pra todos os gostos.

Eu costumo dar preferência a filmes que dificilmente serão exibidos no país mas, esse ano, três produções dos EUA que continuam sem data de chegar ao Brasil me chamaram atenção: 

O Homem Duplo (A Scanner Darkly, 2006), antes anunciado para lançamento em agosto, sumiu da grade e vai ser lançado diretamente em DVD.

Nova tentativa do cineasta Richard Linklater de empregar o estilo visual rotoscópico (técnica que consiste em ilustrar por cima de filmagens para obter um efeito de animação), utilizado por ele antes no longa Waking Life, aqui ele se sai melhor adaptando uma história do escritor Philip K. Dick.

Ao contrário das histórias de Dick que usualmente viram filmes, neste os elementos sci-fi são pano de fundo para um drama sobre viciados no estilo do clássico Mistérios e Paixões - Naked Lunch (1991) do Cronenberg, onde Keanu Reeves vive um investigador que tenta desbaratar o tráfico da droga chamada Substância D, sendo ele mesmo um usuário e suspeito. Daí se estabelece o "mind-fuck" da história: Será que as percepções dele estão claras? O filme é verborrágico como Waking Life, mas aqui as conversas são quase sempre bem-humoradas e interessantes, condizentes com o universo stoned que o filme retrata e o uso de animação não é apenas uma maneira de contornar os custos da produção mas ajuda a mergulhar o espectador ainda mais no universo esquizofrênico do personagem.

Como curiosidade, a trilha sonora do filme foi composta pelo cantor Thom Yorke do Radiohead, que fez um trabalho sutil mas de boa qualidade.

O Balconista 2 (Clerks 2, 2006), continuação do cult filme independente, foi exibido fora de competição em Cannes esse ano, onde surpreendentemente os normalmente sisudos franceses o receberam com aplausos.

Smith tem uma carreira sem muito brilhantismo, arriscou uma comédia besteirol com seus personagens mais populares em Jay & Silent Bob Strikes Back (2001) e um mal sucedido drama familiar com Ben Affleck, Jersey Girl (2004). Assistindo a Clerks 2, nota-se que ele está mais à vontade quando está falando sobre sua geração, vide o bom  Procura-se Amy (1997) por exemplo. Aqui ele consegue justificar a existência do filme injetando uma dose de melancolia pelos personagens, os losers Dante e Randall.

Após perder a lojinha do primeiro filme num incêndio, os dois passam a trabalhar numa cadeia de lanchonetes de quinta categoria (ilustrada pela abertura do filme onde os personagens passam batido por lojas das maiores cadeias americanas de fast-food ao som de Talking Heads) e se vêem obrigados a reavaliar sua vida. Mas o filme não é tão existencialista a ponto de desviar da fórmula que Smith popularizou e reúne a mesma dose de piadas nerd e grosseiras que se espera dele, repleto de diálogos sempre ácidos e hilariantes, fãs do original não terão do que reclamar.

O Ilusionista (The Illusionist, 2006) tem mais chances de chegar ao Brasil, o filme traz dois dos melhores atores americanos da atualidade: Edward Norton e Paul Giamatti, num drama de época com toques de fantasia.

No início do século 20, o mágico Eisenheim (Norton) se apresenta em Viena para assombro da platéia e fascinação do inspetor-chefe (Giamatti), este que é o braço direito do vilanesco príncipe Leopold (vivido por Rufus Sewel) logo descobre que Eisenheim e a futura princesa (Jessical Biel) possuem uma ligação.

É uma história clássica com mocinhos, vilões e amores proibidos, numa estrutura convencional cheia de reviravoltas. O filme é um pouco mais lento do que os produtos hollywoodianos atuais e a direção, por vezes, abusa de clichês, mas não há como desviar sua atenção do duelo dos dois atores, da primorosa direção de arte e da fotografia que às vezes remete ao início do cinema, com uso de íris e uma paleta de cores ligeirmente desbotada, combinando com a boa trilha sonora do Phillip Glass. O Ilusionista é uma bela sessão pipoca.

O festival segue até o dia 5 de Outubro.

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