Saltar para o conteúdo

Artigos

Paul Newman - A Biografia Completa (parte 3)

 

Biografia Paul Newman - Parte I

Biografia Paul Newman - Parte II

Biografia Paul Newman - Parte IV

 

Após o estrondoso sucesso de Butch Cassidy, Paul Newman poderia fazer o filme que bem entendesse. Ao contrário de embarcar num projeto mais comercial que o mantivesse entre os astros mais rentáveis de Hollywood, o ator resolveu apostar em A Sala dos Espelhos, drama produzido pela Paramount, baseado no romance de Robert Stone e que abordava temas mais contemporâneos, como o ultra-nacionalismo e a alienação da sociedade. 

Sabendo que o filme só sairia do papel se contasse com um grande astro, Paul Newman reservou para si o personagem de Rheinhardt, homem que chega a Nova Orleans sem lenço e sem documento. Fica sabendo que a WUSA, estação de rádio local, está com vagas abertas para locutores. Sem ter muito o que perder, ele aceita o emprego sem saber dos propósitos políticos de direita que estão por trás da empresa. No elenco, ao lado de Newman, Joanne Woodward interpretou Geraldine, seu interesse romântico. Os papeis coadjuvantes foram entregues a Laurence Harvey, cuja carreira empacara após sua participação em Quatro Confissões, e Anthony Perkins, ainda preso à imagem de Norman Bates. A direção ficou sob a incumbência de Stuart Rosenberg.

Durante as filmagens de A Sala dos Espelhos, Newman se associou a Sidney Poitier e Barbra Streisand para fundar a produtora First Artists. Na teoria, a proposta era dar aos três astros total controle sobre os seus filmes, desde a concepção até o lançamento nas salas de cinema. Naquelas produções em que também atuassem, não receberiam salários, mas sim 10% sobre os ganhos das bilheterias. Inevitavelmente, não faltaram comparações da nova empreitada com a United Artists, lendária produtora criada por Charles Chaplin, Douglas Fairbanks, Mary Pickford e David W. Griffith e que ainda se mantinha na ativa, cinqüenta anos após sua fundação.

Eram poucos dentro da First Artists que compartilhavam o mesmo entusiasmo de Newman por A Sala dos Espelhos. Um dos executivos, já pressentindo um retumbante fracasso, sugeriu que o ator largasse o projeto e se concentrasse na adaptação de Os Implacáveis, romance escrito por Jim Thompson. Newman não deu bola para os avisos e filme acabou sendo realizado dois anos depois, tornando-se num dos maiores sucessos da carreira de Steve McQueen.

A Sala dos Espelhos estreou em Nova York em agosto de 1970, com críticas unanimemente desastrosas. O público também não captou a mensagem, transformando o filme no maior fracasso da carreira de Newman até então.

Após duas experiências como produtor-executivo, a primeira ainda em 1970, com Puzzle of a Dowfall Child, protagonizado por Faye Dunaway (assumidamente seu filme preferido), e They Might be Giants, estrelado por George C. Scott e Joanne Woodward, Newman voltou a acertar sua participação em um novo filme, dessa vez para a Universal. Tratava-se de Uma Lição para Não Esquecer, saga rural baseada em romance de Ken Kesey, o mesmo autor que, em 1963, escrevera Um Estranho no Ninho. 

Desde o início, Paul Newman se viu dividido entre as opções de dirigir ou interpretar o papel principal de Hank Stamper. Ele achava que assumir ambas as funções era algo impensável, tal o tempo e o esforço que elas demandariam. O lado ator de Newman falou mais alto e ele, então, passou a procurar no mercado algum diretor confiável. O nome escolhido foi Richard A. Colla, profissional com carreira consolidada na televisão e que estreara na direção de longas-metragens no ano anterior.

Uma Lição para Não Esquecer contava com elenco ilustre. Henry Fonda interpretava Henry, o pai do personagem de Newman. Lee Remick, vivia Viv Stamper, sua esposa. O canadense Michael Sarrazin, interpretava Leland, seu meio-irmão. 

As filmagens começaram em meados de 1970, em Oregon. A atmosfera tranqüila que reinava no set foi logo perturbada por desentendimentos entre Colla e Henry Fonda. O ator estava mais acostumado com cineastas que lhes davam as coordenadas. Ao contrário disso, deparou-se com um diretor mais preocupado com os ângulos da câmera do que com o elenco. Newman tentou apartar as brigas, explicando a Colla o que os atores esperavam dele. Quando a resposta não veio, Newman se viu obrigado a dispensar o diretor. Assustado com a ameaça de ter que assumir a função, Newman convidou o amigo George Roy Hill, que recusou a proposta. Sem saída, o ator assumiu a bronca e passou a dirigir a fita. 

Uma Lição Para Não Esquece traz a história da família Stamper, comandada no cortado pelo patriarca Henry. O negócio deles é o corte de madeira. Independentes, eles não dão muita importância com a opinião popular e se recusam a aderir a um movimento grevista local. O filme tem poderosas sequências externas, no meio das densas florestas de Oregon. O elenco recebeu treinamento especial para as cenas mais perigosas, em que se exigia a escalada em árvores altíssimas e o manuseio dos aparelhos adequados. O momento mais forte do filme – e pelo qual ele até hoje é lembrado – é o acidente em que o personagem de Joe Ben Stamper, irmão de Hank, interpretado por Richard Jaeckel (indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante), fica com o corpo sob às águas, preso por madeiras que acabaram de desabar. 

O filme estreou com críticas bastante favoráveis. Apesar disso, o resultado nas bilheterias não se confirmou. A Universal resolveu retirá-lo do circuito e relançá-lo com outro nome, o que só aumentou o prejuízo. Chegada a temporada de prêmios, Newman ficou de fora das indicações ao Oscar, tanto na categoria de melhor direção quanto melhor ator. Apesar desta rejeição, Paul Newman sempre lembrava deste trabalho com orgulho, considerando-o bem melhor que a baixa receptividade parecia indicar. Henry Fonda, inclusive, julgava que sua interpretação em Uma Lição Para Não Esquecer era a melhor de sua carreira no cinema. 

Tendo optado por dois dramas mais sérios, Paul Newman colocava em risco sua condição de astro, conquistado há meros dois anos. Nesse período, ele recusou a oferta para viver o personagem do policial Harry Callahan, em Perseguidor Implacável, e o do detetive Jimmy "Popeye" Doyle, em Operação França. Apesar dos insucessos, Newman fechou o ano de 1971 como o terceiro maior astro de Hollywood, atrás somente de John Wayne e Clint Eastwood.

No ano seguinte, ao participar de Meu Nome é Jim Kane, Paul Newman tentou uma mudança de imagem. Produzido pela First Artists e lançado comercialmente pela Warner, Newman reservou para si o papel título, um inocente, ingênuo e fracassado criador de gados. Stuart Rosenberg foi escolhido para dirigir e John Gay, que escrevera Uma Lição Para Não Esquecer, contratado para adaptar o romance Jim Kane, de autoria de J.P.S. Brown. Quando o trabalho de Gay se mostrou insatisfatório, Newman pediu que a revisão fosse feita por um novato e promissor talento chamado Terrence Mallick.

O roteiro de Meu Nome é Jim Kane previa um personagem coadjuvante forte. Para vivê-lo, a First Artists não queria um ator qualquer. Suas atenções se voltaram a Lee Marvin, que trabalhara com Newman 14 anos antes, em Deus é Meu Juiz, e que estava em alta após o mega-sucesso de Os Doze Condenados. Marvin gostou da revisão feita por Mallick e da idéia de interpretar um fracassado, ainda mais ao lado de Newman. A maior prova de seu prestigio foi o salário de U$ 500 mil,  metade da sua cota habitual, mais 20% dos lucros da bilheteria, exatamente o mesmo valor pago a Newman.

A produção começou no segundo trimestre de 1971. Aparentemente as filmagens transcorreram sem grandes problemas, sem lances de estrelismos de nenhum dos dois astros. Ambos eram extremamente profissionais e gostavam de se envolver em vários aspectos da realização cinematográfica. Newman e Marvin descobriram compartilhar de alguns assuntos em comum, como a figura de um pai distante e as convicções políticas liberais.

Após ver o primeiro copião, Newman procurou Lee Marvin e lhe ofereceu o salário de U$ 1 milhão, sem direito a percentuais de bilheteria. Como resposta, ouviu um não. No entanto,  ao chegar a pós-produção e ver a montagem final, Marvin se arrependeu. Ele achou que Newman cortara algumas de suas principais cenas. Na condição de produtor, Newman podia fazer o que bem entendesse com o material e não havia como Lee Marvin interferir. Embora pareça improvável que Newman pudesse ser capaz de tesourar a participação de um colega, é possível que, de posse da versão final, ele tenha achado que Marvin roubava as atenções da fita e resolvido dar um ripada nas suas cenas.

Seja qual for a verdade, o fato é que Meu Nome é Jim Kane estreou nos EUA em fevereiro de 1972, com críticas mornas e baixo retorno nas bilheterias. Era o terceiro fracasso de Newman em seqüência.

Um ano após Uma Lição Para não Esquecer, em que fora obrigado a assumir a direção contra a sua vontade, Paul Newman resolveu voltar pra trás das câmeras, dessa vez sem atuar, no drama O Preço da Solidão. O filme era a adaptação de uma peça escrita de Paul Zindel, vencedora do Prêmio Pulitzer em 1965. Assim como Raquel, Raquel, o projeto foi concebido como um veículo para Joanne Woodward, que viveria a protagonista. 

O nascimento de O Preço da Solidão não foi dos mais usuais. Por volta dessa época, Woodward leu o romance Mrs. Beneker, escrito em 1968 por Violet Weingarten, gostou e achou que aquilo daria um bom filme. O agente que intermediou a negociação da compra dos direitos do livro sugeriu como roteirista o nome de Paul Zindel, que acabara de emplacar um sucesso nos palcos off-Broadway com a peça Gamma Rays. Woodward e Newman aceitaram a proposta e foram conhecer o tal Zindel. Os três se deram bem. Das reuniões, ficou acertado que Zindel começaria o trabalho de adaptação do romance.

Enquanto este se empenhava no roteiro, Newman e Woodward foram assistir a uma apresentação da peça Gamma Rays e ficaram encantados com o que viram. Beatrice, o personagem central, parecia construído a dedo para Woodward: uma mulher já na meia idade, insatisfeita com a vida e que se sustenta com o aluguel dos quartos a pessoas idosas. Vislumbrando a oportunidade, Woodward e Newman negociaram os direitos da peça com Zindel, que os vendeu por U$ 65 mil, quantia relativamente modesta para uma obra que rendera ao seu autor um prêmio tão importante quanto o Pulitzer. Provavelmente cansado da apatia da Universal, que não se empenhara muito no lançamento de Uma Lição Para Não Esquecer, Newman faz um acordo de distribuição com a 20th Century Fox. 

Ocupado com o roteiro de Mrs. Beneker, Paul Zindel disse que não conseguiria dar conta da adaptação da sua própria peça. Newman, então, contratou o ex-roteirista de televisão Alvin Sargent e que, três anos antes, escrevera o drama Os Anos Verdes, dirigido por Alan J. Pakula.

Joanne Woodward não era o único membro da família Newman a participar do elenco de O Preço da Solidão. O papel da filha mais nova da protagonista, Matilda, foi entregue a Elinor Newman, sua filha mais velha na vida real. Após uma pequena participação em Raquel, Raquel, Elinor não demonstrara muito interesse em atuar. No entanto, aceitou a proposta de contracenar com a mãe, desde que fosse creditada com o pseudônimo Nell Potts. Sua irmã mais velha, Ruth, foi interpretada por Roberta Wallach, filha de Eli Wallach e Anne Jackson.

Woodward se preparou para o papel de Beatrice como nunca fizera antes, tanto física quanto emocionalmente. Essa dificuldade de se desligar do personagem, trouxe uma série de problemas nos sets. Ela e Newman tiveram várias discussões a respeito das visões de cada um a respeito da personagem. Pra piorar, Woodward ficava exausta ao final de cada dia de filmagem. Por isso, ao voltar pra casa, não conseguia suportar aquele ambiente alegre, esfuziante, repleto de crianças. A atriz chegou a se desligar da produção por uns dias para repouso, o que só aumentou os problemas. À noite, os pesadelos eram constantes. Até hoje, Woodward tem lembranças terríveis de O Preço da Solidão, dizendo que o filme lhe deixou cicatrizes.

O Preço da Solidão estreou em Nova York em dezembro de 1972. As críticas foram unanimemente negativas. Aos poucos o filme foi saindo de cartaz no circuito americano, até poucos se lembrarem dele. Estranhamente – ou não – O Preço da Solidão se deu melhor na Europa. No Festival de Cannes de 1973, Woodward recebeu o prêmio de melhor atriz.

Para o projeto seguinte, Paul Newman foi exigente quanto à qualidade do roteiro. Ele encontrou o que queria em Roy Bean - O Homem da Lei, escrito por John Millius, e que tratava do lendário fora-da-lei. Após uma incômoda série de fracassos, voltar ao terreno de Butch Cassidy, seu último sucesso de bilheteria, parecia uma boa idéia. 

Produzido pela First Artists, Roy Bean foi a primeira parceria entre Newman e o veterano diretor John Huston. O elenco coadjuvante contava com as participações de Anthony Perkins, Ned Beatty (que narra o filme), Victoria Principal (que ficaria famosa na série Dallas) e as participações especiais de Jacqueline Bisset (Huston esteve doente nas duas semanas em que ela ficou à disposição da produção, e suas poucas cenas foram dirigidas, sem crédito, por Newman) e Ava Gardner. As filmagens começaram no final de 1971 com um orçamento de U$ 4 milhões. 

Se para Newman a experiência de Roy Bean foi das mais agradáveis da sua carreira, John Millius guarda péssimas lembranças. Para ele, Newman errara ao escolher John Huston para a direção, que não se mostrava interessado pelo material. Pra piorar, Huston fazia várias alterações no roteiro sem consultá-lo. A versão de Millius tinha um tom mais pesado e cínico, um pouco baseado nos faroestes de Sergio Leone. Além disso, Roy Bean era retratado como uma figura autoritária, quase militar. Millius percebeu que tanto Newman quanto Huston queriam dar ao protagonista – e ao filme de um modo geral – uma visão mais adocicada, quase cômica. Na verdade, estes problemas eram comuns na carreira de Millius. Prevenido, ele nunca escrevia seus roteiros com um grande astro em mente. Isso lhe dava mais liberdade de ousar nas ações de seus personagens, sem o receio de ver um grande ator, por questões de imagem, não concordar em filmá-las. Seu roteiro de Mais Forte que a Vingança, por exemplo, faroeste ecológico dirigido por Sydney Pollack por volta da mesma época, previa que o protagonista comesse carne humana, algo impensável na cabeça do bom menino Robert Redford, que interpretou o papel.

Roy Bean - O Homem da Lei conta de forma episódica a vida do famoso bandido do velho Oeste. O filme tem soluções bem originais, que vão do simplesmente engraçado ao bizarro. No todo, o ritmo é bem agradável. John Huston emprega algumas interessantes técnicas de filmagem, como o uso da câmera corrida, múltiplas narrações, congelamento de tela, cenas em tons sépia, atores falando diretamente para a câmera etc. No papel de Roy Bean, Newman está bem, sem demonstrar sua famosa insegurança em personagens cômicos. Talvez na parte final, de barba cinza para acentuar a idade do personagem, ele pareça um pouco novo demais para o personagem. O ator sempre considerou sua atuação em Roy Bean como uma de suas melhores. Apesar disso, não foram poucos os críticos que acharam errada a escalação de Newman.

O filme estreou nos EUA em dezembro de 1972. A crítica se dividiu e o público não aderiu à fita. Roy Bean arrecadou meros U$ 5 milhões em território americano e canadense, ficando a  anos-luz dos números de Butch Cassidy e mal e má se pagando. Os produtores tentaram fazer um lobby pela indicação de Paul Newman ao Oscar, mas o gênero faroeste nunca fora bem vistos pela Academia e Roy Bean não era exceção. Pra piorar, naquele ano de 1972, Paul Newman foi obrigado a ver Marlon Brando, sua eterna referência, ressurgir das cinzas com os filmes-eventos O Poderoso Chefão e O Último Tango em Paris.

O tempo passava e um novo sucesso não vinha. Newman começou a achar que perdera o jeito da coisa. Será que o público o abandonara? Para seu projeto seguinte, ele optou fazer um novo filme de espionagem: O Emissário de Mackintosh. O gênero sempre rendia bons resultados nas bilheterias, apesar da forte concorrência da série de James Bond. Ele mesmo, 10 anos antes, explorara com sucesso esse terreno em Os Criminosos Não Merecem Prêmios. Uma nova tentativa não faria mal a ninguém.

A escolha indicava o quanto Newman parecia pressionado a reviver os bons tempos dos anos 60. Suas opções eram apressadas, sem uma análise mais criteriosa do material. O Emissário de Mackintosh não fugia à regra. O projeto nascera de uma discussão entre o roteirista Walter Hill com a Warner. Hill queria se livrar do estúdio e seguir vida solo. O estúdio concordou, desde que ele deixasse em sua mesa, antes de apagar as luzes, um último trabalho pronto. Ressentido, Hill olhou a lista de romances cujos direitos pertenciam à Warner e resolveu adaptar aquele que, em sua opinião, era o menos propício para o cinema. Sua escolha recaiu sobre The Freedom Tap, escrito por um desconhecido Desmond Bagley. Escreveu o roteiro em cinco dias e, quando estava pronto pra dar tchau à Warner, qual não foi sua surpresa que seu trabalho despertou o interesse de Paul Newman.

Newman precisava de um diretor para tocar o projeto. Após ouvir um não de Robert Wise, seu amigo dos anos 50, Newman ofereceu a direção a John Huston. A princípio Huston não mostrou muito interesse pelo roteiro. Num segundo momento, percebendo que Newman estava com enorme dificuldade de conseguir no mercado uma santa alma que dirigisse o filme, aceitou a proposta como um favor ao ator e, claro, porque um dinheirinho àquela altura também não cairia mal.

As filmagens O Emissário de Mackintosh começaram em novembro de 1972 com locações em Londres e Malta. Se Newman e Huston acharam que iriam resgatar a camaradagem vivida no set de Roy Bean, estavam terrivelmente enganados. A primeira desavença se deu entre  Walter Hill e John Huston. De acordo com o primeiro, o filme só faria sentido se não o levassem muito a sério, na linha dos thrillers de Hitchcock. Huston, por sua vez, queria fazer do roteiro uma espécie de continuação de Carta ao Kremlin, drama sobre a Guerra Fria que ele realizara em 1970. Ao contrário de Millius, que passara por problemas semelhantes em Roy Bean mas ficara até o fim das filmagens, Hill pulou fora do projeto logo na segunda semana. Com a sua saída, o roteiro foi sendo reescrito durante a produção, pelo próprio Huston e alguns de seus auxiliares de confiança. Como desgraça pouca não é bobagem, o elenco coadjuvante reclamou da pouca atenção que lhes era dada pelo diretor. Ainda passando por problemas de saúde, Huston só se limitava a falar com Paul Newman e com os co-astros James Mason e Dominique Sanda. Várias sequências em que este trio não estava envolvido foram dirigidas pelo assistente Colin Brewer. 

Mesmo com todos estes problemas, O Emissário de Mackintosh é um filme perfeitamente passável. A trilha sonora de Maurice Jarre é um dos destaques. O elenco está claramente desperdiçado e o roteiro tem problemas de estrutura. Ao contrário da opinião de John Huston, a fita está longe de ser a pior de sua carreira.

O Emissário de Mackintosh estreou no EUA em julho de 1973. A crítica não considerou o filme desastroso, como se esperava, apenas descartável demais. O público, por sua vez, demonstrou pouco interesse, fazendo da fita um novo fracasso na carreira de Newman. 

Após mais um revés – o quinto consecutivo – Newman disse um basta. Pra sair do fundo do poço, ele percebeu que precisaria parar de escolher personagens que “tivessem algo a dizer” e voltar aos filmes de entretenimento, de onde o público achava que ele nunca deveria ter saído. E ele encontrou essa oportunidade em Golpe de Mestre, comédia farsesca sobre dois golpistas na Chicago dos anos 30 e certamente seu maior sucesso de crítica dos anos 70.

Golpe de Mestre nasceu de um roteiro original escrito por David Ward, que trazia a história dos vigaristas Henry Gondorff e Johhny Hooker. Nas primeiras versões, Hooker queria se vingar da morte do irmão, um boxeador que recusara a entregar uma luta. Ward desenvolvera o papel com Redford em mente. Quando este o recusou, o personagem chegou a ser oferecido a Jack Nicholson, à essa altura já livre dos filmes de terror com Roger Corman e em alta após o sucesso de Ânsia de Amar, de 1971. Nicholson também recusou, preferindo embarcar no projeto de A Última Missão, de Hal Ashby. O roteiro, então, foi parar nas mãos de George Roy Hill que, ao contrário de Redford, logo mostrou grande entusiasmo. Ele não se importava com a falta de aprofundamento dos personagens e com o fato de filme ser exageradamente dependente da trama.

Desde Butch Cassidy, Hill discutia os novos projetos com Paul Newman. Quanto este soube que o diretor preparava um novo filme com Redford, pediu o roteiro pra ver, quem sabe, se ele se encaixava em algum papel. Newman gostou do personagem de Henry Gondorff e perguntou a Hill se havia chance de interpretá-lo. Apesar de Gondorff ter sido imaginado como uma figura secundária, o interesse de Newman fez Hill começcar a pensar numa expansão daquele papel dentro da história. Na verdade, é bem provável que Newman tenha se sentido atraído não por Gondordff ou pelo roteiro em si, mas  pela perspectiva de sucesso que uma nova parceria com George Roy Hill e Robert  Redford poderia lhe render. Desde Butch Cassidy, feito na década anterior, todos os seus filmes fecharam no vermelho, tanto os que ele atuou, produziu ou dirigiu. Nem mesmo um astro do seu porte podia se dar ao luxo de tantos fracassos. Daí, não é difícil pensar que Newman tenha até mesmo forçado um pouco a barra pra conseguir uma vaguinha em Golpe de Mestre.

O roteiro de David Ward previa um vilão de peso, o temido Doyle Lonnegan. Inicialmente, pensou-se para o papel o nome de Richard Boone, que desempenhara algo parecido, num contexto obviamente diferente, em Hombre. Quando Boone rejeitou o papel em nome de algumas garrafas de uísque, os produtores tentaram Stepehen Boyd (que não sabia o quê fazer da vida desde Ben-Hur), Oliver Reed (que se recusou até mesmo a ser testado para o papel), Laurence Olivier e Hugh Griffith (ambos indisponíveis). Finalmente acertaram com Robert Shaw, ator que, apesar de já indicado ao Oscar há alguns anos por O Homem que Não Vendeu Sua Alma, não estourara no cinema.

Golpe de Mestre começou a ser filmado em fevereiro de 1973, após uma semana de ensaios. Os bastidores transcorreram sem maiores problemas, com a dupla central resgatando a camaradagem que ele experimentaram em Butch Cassidy. Nos seis anos que separavam as duas produções, Robert Redford se transformara num astro com vida própria (neste intervalo ele estrelara sucessos em sequência, como Os Amantes do Perigo, Os Quatro Picaretas e O Candidato), enquanto que Paul Newman, apesar dos recentes insucessos, ainda despertava muita atenção. As filmagens se encerraram em abril do mesmo ano. 

Ainda hoje, revê-se Golpe de Mestre com prazer, mesmo estando longe de ser uma obra-prima. George Roy Hill toca o barco naquele seu estilo mais próximo de  administrador do que de autor (o que ele nunca chegou a ser). Para acentuar o clima de nostalgia, ele faz uso de algumas técnicas antigas como a passagem de uma cena a outra por meio do fechamento da iris e cortes horizontais, verticais e diagonais. Logo na a abertura do filme, vê-se o logotipo da Universal em tons sépia. A direção de arte e os figurinos resgatam o espírito dos anos 30 e a época da depressão. Os créditos são ilustrados à moda antiga.

Não é um filme de interpretações mas de roteiro. Tudo esta a serviço da trama. Mal comparando, pode-se dizer que Golpe de Mestre faz o mesmo que fitas como Onze Homens e um Segredo, só que com mais classe. O papel de Henry Gondorff é claramente lateral na história (ele só entra em cena com quase 40 minutos de filme). Além disso, ao vermos Newman, ainda em forma, dando conselhos e chamando o quase quarentão Redford de garoto, de duas uma: ou Newman está muito novo para viver Gondorff, ou Robert Redford muito velho pra fazer Hooker. Da metade para o fim, quando o roteiro passa a se centrar no golpe ao vilão Lonnegan, Golpe de Mestre vira um filme essencialmente de elenco, com todos os personagens tendo participações igualmente importantes.

O filme estreou nos EUA em dezembro de 1973 com críticas bastante favoráveis. O público abraçou a fita de forma incondicional. Com uma arrecadação de U$ 78 milhões somente em território americano, Golpe de Mestre se transformou na sexta maior bilheteria da história até então. Preocupado com os problemas políticos dos anos 70, como o Vietnã e o escândalo de Watergate, as pessoas pareciam ver naquelas duas horas de projeção a combinação perfeita de escapismo, diversão e despreocupação. Na hora da entrega dos Oscars, Golpe de Mestre foi o grande vencedor do ano, conquistando sete prêmios, entre eles o de melhor filme (muitos ainda consideram o Oscar de 1973 como um dos mais incompreensíveis da história). Após Gata em Teto de Zinco Quente, Desafio à Corrupção, O Indomado, Raquel, Raquel e Butch Cassidy, era a primeira vez que Newman saboreava o gostinho de ver um filme seu receber o prêmio máximo da Academia. Sua interpretação não foi indicada, mas Golpe de Mestre já lhe ajudara bastante. Após quatro anos de fracassos de público e de crítica, Newman fechava o ano como o sétimo ator mais rentável dos EUA.

Diante de um sucesso tão estrondoso quanto Golpe de Mestre, Paul Newman achou que não era hora de arriscar. Para seu próximo projeto ele procurou algum material parecido, na linha da comédia farsesca. Achou o que pretendia em Os Aventureiros de Lucky Lady, cuja história sobre dois golpistas nos EUA dos anos 30 tinha óbvias semelhanças com seu filme anterior. O roteiro fora escrito por Willard Huyck, que acabara de estourar com Loucuras de Verão. Para dirigi-lo, Newman pensou em Steven Spielberg, de quem tivera boas impressões ao ver o recém-lançado Louca Escapada. Spielberg foi procurado mas, já envolvido com a produção de Tubarão, não mostrou o mesmo entusiasmo. Com a saída de Spielberg da jogada, Newman também perdeu o interesse e pulou fora do projeto (que seria realizado dali a um ano, com Burt Reynolds e Gene Hackman nos papéis principais).

A saída de Os Aventureiros de Lucky Lady jogou Paul Newman para outro de seus maiores sucessos de público dos anos 70: Inferno na Torre. O lançamento de O Destino do Poseidon, dois anos antes, fez com que os filmes-catástrofes voltassem à moda. Seu produtor, Irwin Allen, não queria mexer em time que estava ganhando e começou a procurar no mercado algum material que explorasse o mesmo gênero, de preferência algo que fosse ambientado em terra firme e não mais no mar. Encontrou o que queria no romance The Tower, de Richard Martin Stern, cujos direitos ele pediu para a Fox adquirir. Indecisa, a Fox dormiu no ponto e a Warner entrou na parada, oferecendo ao autor U$ 390 mil. Pra não ficar pra trás, Allen e a Fox pagaram U$ 400 mil pelos direitos do livro The Glass Inferno, de Thomas M. Scortia e Frank M. Robinson. Diante de duas super-produções sobre o mesmo tema, Fox e Warner combinaram de dividir meio a meio o orçamento de U$ 15 milhões (uma fortuna para a época). Os lucros também seriam divididos, ficando a Fox com os resultados nas bilheterias americanas e a Warner, nas estrangeiras. Inferno na Torre não tinha sequer saído do papel e já entrara para a história como a primeira co-produção de dois grandes estúdios.

O roteiro foi entregue Stirling Silliphant, não por coincidência o mesmo de O Destino de Poseidon. Silliphant trabalhou na adaptação dos dois romances, fazendo um bem bolado entre os personagens centrais e os momentos de tensão de cada um deles. A direção ficou sob a incumbência do britânico John Guillermin. Mas sua posição era mera figuração, já que o verdadeiro manda-chuva do projeto era Irwin Allen, responsável pela direção de segunda unidade (nos créditos seu nome aparece como “diretor das cenas de ação”) e por supervisar o trabalho de Guillermin.

Se o gênero de filmes-catástrofe já indicava que Inferno na Torre seria um sucesso, a certeza veio quando os produtores conseguiram reunir, pela primeira e única vez, os astros Paul Newman e Steve McQueen, feito que se tentava desde Butch Cassidy. Apesar de McQueen já fazer parte da produtora First Artists desde 1972, ele não fazia a mínima questão de esconder sua rivalidade com Newman. Pelo filme, os dois atores receberam U$ 1 milhão, mais 10% das bilheterias. Ao final daquele ano de 1974, ambos poderiam se considerar milionários.

Inicialmente Irwin Allen queria que Steve McQueen interpretasse o idealista arquiteto Doug Roberts, cuja construção da Glass Tower, seria seriamente comprometida com o corte dos custos  e corrupção de corporações industriais. McQueen, no entanto, preferiu viver O´Halloran, o chefe do corpo de bombeiros que não levava desaforo pra casa. Mais seguro com o seu lado masculino, Newman não via problemas com o personagem de Roberts. 

O elenco coadjuvante era encabeçado por William Holden, longe do prestígio que o transformara num dos atores mais populares dos anos 50. Apesar de detestar o roteiro de Inferno na Torre, Holden precisava urgentemente do salário de U$ 750 mil que os estúdios lhe propuseram. Faye Dunaway, que tinha acabado de filmar Chinatown, vivia o interesse romântico de Newman. Mesmo sabendo que, em termos de interpretação, aquele projeto não era o maior desafio do mundo, Dunaway via em Inferno na Torre a chance de trabalhar novamente com McQueen, com quem contracenara em Crown, o Magnífico, em 1968. A velha guarda era representada por Fred Astaire e Jennifer Jones.

Programadas para durar setenta e dois dias, as filmagens começaram em maio de 1974. Ao contrário dos que muitos previam, a inexplicável hostilidade que McQueen nutria por Newman, cuja origem vinha desde os tempos de Marcado Pela Sarjeta, foi deixada de lado e os trabalhos transcorreram sem grandes problemas.

Inferno na Torre estreou em Nova York em dezembro de 1974. Algumas críticas, como a do NY Times, foram francamente favoráveis. Como era esperado, o público pouco se importou com o roteiro raso e personagens pra lá de mal desenvolvidos e lotou as salas de cinema. Inferno na Torre rendeu em território americano mais de U$ 48 milhões e no resto do mundo, outros U$ 67 milhões. Paul Newman estava de volta aos negócios, fechando o ano de 1974 como o terceiro ator mais rentável de Hollywood.

Como sempre ocorreu na carreira de Paul Newman, seus projetos seguintes imediatamente seguintes a sucessos de bilheteria revelavam um ator com pouco faro comercial. Isso já havia ocorrido outra duas vezes: em 1964, logo após O Indomado, e em 1970, em seguida a Butch Cassidy. Em ambas as oportunidades, Newman tinha cacife pra fazer o filme que bem entendesse, e nas duas, aceitou entrar em barcas furadas como Quatro Confissões e A Sala dos Espelhos. Esse fenômeno voltou a ocorrer em 1975. Saído de mega-sucessos como Golpe de Mestre e Inferno na Torre, Paul Newman voltou a ser visto como um ator que valia o quanto pesava. Isso lhe dava armamento suficiente para negociar o roteiro que quisesse, eventualmente exigindo mudanças e adaptações à sua persona. Apesar disso, o que se viu foi Newman entrando em dois projetos com pouca perspectiva de deixar alguma marca, seja comercial ou artística. 

O primeiro deles foi o policial A Piscina Mortal, em que Newman reinterpretava o detetive particular Lew Harper, quase 10 anos depois do lançamento de Harper - O Caçador de Aventuras. O filme foi dirigido por Stuart Rosenberg (a quarta e última colaboração da dupla), e tinha nos papéis coadjuvantes uma desperdiçada Joanne Woodward e uma novata chamada Melanie Griffith (e que já naquela época mostrava que não sabia atuar). A Piscina Mortal é, mais que desinteressante, uma fita descartável e que não dizia a que vinha. 

O segundo foi o faroeste satírico Oeste Selvagem, dirigido por Robert Altman e que tenta desmitificar a vida de Buffalo Bill. Newman era fascinado por esse personagem, cujo nome de batismo era Frederick Cody. Segundo ele, Buffalo Bill era mais um dos vários assassinos transformados em heróis e mitos do Velho Oeste. Intrigado com a peça Indians, escrita em 1969, por Arthur Kopit, Newman comprou os seus direitos por U$ 500mil, quantia exorbitante para um texto considerado pelos especialistas quase surreal. Naquela época, chegou a ser divulgado que Newman interpretaria Bill e George Roy Hill seria o diretor. Não se sabe o porquê, mas a coisa não foi pra frente.

Os direitos da peça, então, foram parar nas mãos do italiano Dino De Laurentis, que via em Robert Altman um nome perfeito para verter aquele material para o cinema. Altman, por sua vez, não mostrou muito interesse pelo projeto. Seu foco estava voltado para o romance Ragtime, de E.L. Doctorow, cujos direitos pertenciam – olha só! – a Dino de Laurentis. Vislumbrando a chance de se aproximar do produtor, Altman voltou atrás e aceitou dirigir Oeste Selvagem. Newman, ainda ligado ao projeto, gostou da escolha de Altman.

As filmagens começaram em agosto de 1975 e os trabalhos transcorreram sem maiores turbulências. Newman se deu bem com Altman, destacando que o diretor estimulava seu elenco a improvisar e dar sugestões. Os  problemas começaram a aparecer mais tarde, na pós-produção. De Laurentis achou a versão de Altman excessivamente longa. Pretendendo lançar o filme em Nova York com toda a pompa e circunstância a que tinha direito, o produtor exigiu que Altman entregasse a montagem final num prazo praticamente impossível de cumprir. Nas sessões para a imprensa, havia um clima de desapontamento. Os críticos que esperavam uma nova obra-prima do realizador de Nashville, saíram frustados. Mesmo contra o desejo de Altman, o filme foi selecionado na mostra competitiva do Festival de Cinema de Berlim de 1976 e, ironicamente, abocanhou o Urso de Ouro.

Oeste Selvagem estreou nos EUA, ainda em circuito reduzido, em junho de 1976 e não conseguiu cair no gosto nem daqueles críticos que eram defensores de Altman, como Pauline Kael. Em termos de bilheteria, o filme fechou num vermelho mais do que berrante, tornando-se o maior fracasso da carreira de Paul Newman até aquela data. Ao final de 1976, o ator já não estava mais entre os dez astros mais rentáveis de Hollywood. Àquela altura, o número 1 da lista era - ora, ora! - Robert Redford.

Quatro anos após Golpe de Mestre, Paul Newman e George Roy Hill decidiram voltar a trabalhar juntos novamente em Vale Tudo, uma comédia dramática a respeito do mundo do hóquei sobre o gelo, distribuída pela Universal. Inicialmente, Vale Tudo foi pensado pela roteirista Nancy Dowd como um documentário. O projeto chamou a atenção de Hill que a incentivou a transformar o texto num filme de ficção. Ao ter o roteiro em mãos, Hill o mostrou a Paul Newman que logo se interessou pelo personagem de Reggie Dunlop, um treinador-jogador que dedicara toda sua carreira a um pequeno time de hóquei de uma liga secundária, prestes encerrar suas  atividades. No entanto, a confirmação de Newman no papel só ocorreu após a desistência de Al Pacino, àquela altura, um ator de maior peso para os estúdios que Newman.

O diretor teve dificuldades em encontrar atores que soubessem esquiar. O papel coadjuvante mais importante do roteiro foi entregue ao canadense Michael Otkean. Os irmãos Hanson, transformados em astros pelo treinador Dunlop, foram interpretados pelos amadores Jeff e Steve Carlson e David Hanson. Newman, que praticara hóquei na juventude, só aceitou iniciar as filmagens após sete semanas de treinos intensivos. Já o elenco feminino contou com Lindsay Crouse, que participaria de vários filmes de David Mamet, e Melinda Dillon, que seria indicada ao Oscar naquele mesmo ano por Contatos Imediatos do Terceiro Grau.

Vale Tudo foi filmado durante a primavera e o verão de 1976, durante sessenta e oito dias. O roteiro exigia a presença de Newman no set a todo o instante. O diretor Hill, que já conhecia o ator de outros carnavais, achava que ele começava a perder a paciência com a profissão. Pior que isso, Newman parecia estar com dificuldades de encarar a chegada dos anos. Já tendo ultrapassado a faixa dos 50, o ator era obrigado a ver a imprensa referir-se a ele e à sua carreira por meio dos cartazes antigos e viris de O Indomado, Rebeldia Indomável e Butch Cassidy.

De qualquer forma, as filmagens de Vale Tudo transcorreram num atmosfera calma e de grande camaradagem. O resultado final é uma comédia acima da média, com a arena do jogo de hóquei servindo como uma verdadeira metáfora da América. Os Irmãos Hanson roubam o filme, em cenas verdadeiramente engraçadas, como a seqüência da pancadaria generalizada antes mesmo do início da partida.

Nas sessões teste, Vale Tudo foi aprovado. A estréia se deu em fevereiro de 1977, com críticas divididas. Em termos de bilheteria, o filme rendeu U$ 28 milhões em solo americano, cifra que, se não indicava um novo arrasa quarteirão, estava bem acima dos números alcançados pelos últimos filmes de Newman. Anos depois, o ator lembraria de Vale Tudo como o seu trabalho mais original. Exagero ou não, ao menos o longa provava que Newman, aos 52 anos, ainda podia interpretar personagens atléticos, viris e de ação.

Após Vale Tudo, Paul Newman resolveu se afastar do cinema por um ano para se dedicar inteiramente às corridas profissionais, paixão da qual o ator nunca se desligou. Quando achou quer era de voltar, mais uma vez sua opção recaiu sobre o mais estranho do projetos: Quinteto, mistura de ficção cientifica, drama, suspense, filme-noir e tudo o mais que o espectador quiser, dirigida por Robert Altman e que seria distribuída pela Fox.

Supostamente baseado num sonho do diretor, Quinteto enfrentou problemas desde a elaboração do roteiro. Inicialmente, Altman contratou o teatrólogo britânico Lionel Chatwind, cuja primeira versão não agradou. Ainda sem saber ao certo o que queria, Altman pediu algumas revisões. Chetwind as fez, novamente não agradou, e foi demitido. Altman, então, chamou Patricia Resnick, com quem trabalhara em Três Mulheres e Cerimônia de Casamento. Alegando que Altman não lhe dava uma direção a seguir, Resnick pulou fora do barco enquanto era tempo. Por fim, Altman trouxe Frank Barhydt Jr. Ao final dessa epopéia, o Sindicato dos Roteiristas obrigou o diretor a dar crédito a todos os profissionais envolvidos.

Com medo que a 20th Century Fox cancelasse o projeto, Altman se apressou a iniciar a produção, mesmo sem ter em mãos um roteiro pronto. Para reduzir os custos, ele escolheu como locações as cidades canadenses de Montreal e Quebec. As filmagens ocorreram durante o inverno pesado, com temperaturas abaixo dos 40 graus negativos. Nem Newman nem o restante do elenco sabia exatamente o que Altman tinha em mente. Aparentemente todos confiaram no toque mágico do diretor, sem desconfiar que ele também estava perdido. 

Quinteto consegue ser intrigante e tedioso ao mesmo tempo. Altman lança mão de algumas técnicas cinematográficas que acentuam o lado hipnótico da trama – se é que existe alguma – como lentas e intermináveis panorâmicas e embaçamento dos cantos das telas. Os personagens são distantes, frios e difíceis de despertarem alguma conexão com o espectador. Newman interpreta Essex, um caçador de focas, num época e local não definidos, inteiramente formada por gelo. Sua esposa Vivia, interpretada por Briggite Fossey, representa uma esperança de salvação da humanidade. Ao invés de desenvolver esse aspecto da história (que tem pontos de contato com Filhos da Esperança), Quinteto prefere trilhar um caminho ao estilo dos filmes de detetive, com Essex investigando o assassino por trás das diversas mortes locais.

Sem saber como vender Quinteto para o público, a Fox entregou o filme à própria sorte. Ao estrear, as críticas foram as mais hostis possíveis, entre elas Pauline Kael, eterna defensora do Altman. As bilheterias foram tão fracas, que Quinteto chegou a custar o cargo do chefe de produção do estúdio, Alan Ladd Jr. Quanto a Newman, toda que vez era indagado sobre o resultado final da fita, sua  expressão fechada já dizia tudo.

Paul Newman olhava pra trás e via que não tinha muito do que se orgulhar em relação aos filmes que fizera durante a segunda metade da década de 70 – A Piscina Mortal, Oeste Selvagem, Vale Tudo e Quinteto. Nenhum deles tinha dado certo, quer financeira, quer artisticamente. Mesmo Vale Tudo, seu maior sucesso de bilheteria no período, não fazia nem cócegas a Golpe de Mestre e Inferno na Torre. Definitivamente, o ator precisava dar uma guinada na carreira. Um dos convites que recebeu, representaria uma mudança radical: Bob Fosse o queria para interpretar Joe Gideon, seu alter-ego no musical O Show Deve Continuar. Paul Newman num musical? Só de pensar, já bate a curiosidade. No entanto, Newman detestava trabalhar com diretores que se rotulavam como “autores”.  Feito semelhante ocorrera em 1973, quando ele recusara o convite de Peter Bogdanovich para filmar Lua de Papel. Forte nessa sua estranha convicção, resolveu dizer não a Fosse. Roy Scheider agradeceu de joelhos e embarcou no melhor filme da sua carreira.

Ao invés de um musical, Newman se via mais à vontade em filmes de ação. Até aí tudo bem. Mas não era por isso que ele precisava acertar sua participação em O Dia em que o Mundo Acabou, novo filme-catástrofe produzido por Irwin Allen para a Warner Bros. e dirigido pelo inexpressivo James Goldstone. Para um ator com tantos anos de estrada e que, mal ou bem, ainda irradiava um grande respeito da indústria, a escolha era das mais inexplicáveis. O Dia em o Mundo Acabou é certamente um dos piores – senão o pior –  trabalho de toda sua carreira.

Newman interpretou o perfurador de óleo Hank Anderson que se vê em sérios problemas com a explosão de um vulcão numa ilha do Pacifico. Para disfarçar o fraco roteiro, Irwin Allen tentou rechear o elenco com coadjuvantes de peso, como Jacqueline Bisset, William Holden (cada vez mais viciado na bebida) e Ernest Borgnine.  Boa parte do orçamento de U$ 20 milhões foi reservado pra pagar o salário desse pessoal (só Newman recebeu U$ 2 milhões), o que deixou pouco espaço para os efeitos especiais, constrangedoramente de baixa qualidade.

Já sabendo que tinha um enorme fracasso nas mãos, a Warner tentou até mudar o título original do filme. Foi em vão. O Dia em que o Mundo Acabou rendeu apenas U$ 1,7 milhão.  

De astro absoluto em Hollywood, somente atrás de John Wayne, Paul Newman viu seu posto entre os TOP 10 ser tomado por Al Pacino, Robert De Niro e Robert Redford (seu parceiro de Butch Cassidy, àquela altura, já tinha até levado um Oscar pela direção de Gente como a Gente). Dos 10 filmes que participou entre 1970 e 1980, apenas Golpe de Mestre e Inferno na Torre trouxeram dinheiro, sendo que apenas o primeiro deles pode ser considerado como um cinema realmente acima da média. Do ponto de vista artístico, salvam-se ainda Uma Lição Para Não Esquecer, Roy Bean - O Homem da Lei e Vale Tudo. Todos os demais podem ser considerados fracassos, tanto artísticos quanto comerciais. Se de um lado, o público parecia já não gostar tanto assim de Paul Newman, de outro, era inegável que as estranhas escolhas do ator davam uma tremenda colaboração.

Estava na hora de Paul Newman rever seus conceitos.

Comentários (0)

Faça login para comentar.