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Invasão Sci-Fi


Febre nos anos 1950, os filmes sobre invasões extraterrestres extravasavam a paranoia coletiva para com a guerra, o comunismo e a ameaça nuclear, entre outros temores da sociedade americana à época. Toda essa concepção visual trash de discos voadores, alienígenas infiltrados e armas a laser formou um conjunto de características que redefiniu a ficção-científica e criou todo um laço nostálgico entre ela e os amantes do cinema de gênero, por mais anacrônica e datada que pareça hoje. Em busca do resgate desses filmes, a Obras-Primas do Cinema lançou recentemente a coleção Invasão Sci-Fi: Extraterrestres, que reúne em dois DVDs quatro títulos inesquecíveis.

Logo no primeiro disco, um título controverso no meio cinéfilo, por ser tão amado quanto considerado como o pior filme de todos os tempos: Plano 9 do Espaço Sideral (1959), de Edward D. Woody Jr. O pai dos filmes B, que misturou invasão alienígenas com vampiros e zumbis e foi estrelado por um Bela Lugosi em fase de decadência, é um dos trabalhos mais adoráveis do cinema americano, que de tão ruim e absurdo passou a adquirir um status de cult e cool ao longo dos anos, até ser de fato canonizado após a delicada homenagem de Tim Burton ao diretor em Ed Wood (1994). É inacreditável que uma distribuidora brasileira tenha tido a coragem de lançar esse filme em DVD, o que faz dessa coleção um item precioso em nosso mercado. 

Ainda no primeiro disco, o trash Ele! O Terror que Vem do Espaço (1958), de Edward L. Cahn, se destaca por ser um dos precursores de Alien, O Oitavo Passageiro (1979), de Ridley Scott, lidando com o plot tradicional da nave espacial invadida por um alienígena monstruoso e predador. Com direito a toda a cafonice que um filme de baixo orçamento dos anos 1950 pode oferecer, esse filme também é uma pérola que vale ser mais conhecida apesar de toda sua tosquice e ingenuidade. 

O segundo disco reúne dois títulos muito interessantes. O primeiro é uma incursão do grande diretor Edgar G. Ulmer no terreno da ficção-científica, O Homem do Planeta X (1951). Muito mais sofisticado e elaborado que os demais filmes da coleção, este se destaca pela beleza dos enquadramentos e jogos de luz, pelo cuidado artesanal do diretor em valorizar a abordagem intimista de um alienígena amigável, porém acuado pela maldade humana. Assim como o mestre Jack Arnold, Ulmer usa o gênero para tratar de temas sociais como a hostilidade do homem perante o desconhecido. 

A Garota Diabólica de Marte (1954), por fim, encerra a seleção com uma história de inacreditável caráter feminista, que centraliza a narrativa em uma sedutora marciana embalada em roupas de couro, atrás de machos da espécie humana para procriação em seu planeta natal. Além de toda a vanguarda em explorar a temática espacial, esse filme impressiona pelo discurso direto sobre a igualdade de gêneros e a sexualidade feminina, dois temas muito polêmicos para o ano de 1954. 

Hoje vistos como bobos ou ultrapassados, muitos filmes dessa safra de ficções-científicas dos anos 1950 são de suma importância na história do cinema, mesmo que nunca tenham obtido o merecido reconhecimento. A iniciativa de trazer luz à tais obras é muito elogiável e válida para o resgate desse cinema de gênero tão fundamental e essencial na formação de qualquer amante do cinema. Nos extras, um documentário sobre o sci-fi cinquentista e três especiais sobre Ed Wood, desde seus comerciais até os filmes caseiros. Não deixem de conferir. 

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