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O cinema e seu poder de mudar vidas

Em um levantamento feito pelo IBGE em 2014, foi apontado que somente 10% das cidades brasileiras possuem pelo menos uma sala de cinema. A maior parte dessa porcentagem assustadora se concentra nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Por mais que esses dados possam estar ultrapassados agora que estamos nos aproximando de 2020, eles servem de base para entender pelo menos uma parte da razão pela qual o tema da redação do Enem 2019 foi “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”. Quase seis anos depois, a situação não é lá muito melhor do que era em 2014, embora não haja nenhuma pesquisa recente e atualizada com esse tipo de levantamento de dados. Nós brasileiros sabemos, mesmo sem pesquisas, que não houve muito avanço – pelo contrário, muito do que foi conquistado por nosso cinema e nossa cultura ameaça se perder.

Se esse primeiro dado já assusta, as proporções dobram de tamanho quando paramos para pensar que a distribuição de filmes dentro desses 10% de municípios privilegiados é bastante desigual entre os blockbusters e os títulos independentes e nacionais. Em determinadas temporadas, filmes de grande porte do cinema americano, por exemplo, chegam a ocupar quase 90% dessas salas, sobrando pouco para se dividir entre as demais produções brasileiras ou do resto do mundo. Isso limita ainda mais o pouco da cultura que chega ao povo brasileiro por meio do cinema. Some-se tudo ao fato de a Ancine, órgão do governo federal responsável por fomentar e regulamentar as produções cinematográficas em nosso território, estar sob ameaças de censura e passando por cortes orçamentários severos, e temos um cenário em que o caos e o descaso se unem para fazer do cinema uma espécie em extinção em nosso país.

O que isso implica? Além de enorme impacto social e cultural, também em um impacto econômico de grandes proporções, independente do que muitos pensam a respeito da classe artística em nosso país. Só como exemplo recente, o filme Bacurau (idem, 2019), de Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, foi um dos maiores sucessos de bilheteria do ano no Brasil, trouxe visibilidade positiva ao nosso país em festivais importantes de cinema mundo afora (Berlim, Cannes etc.) e gerou 800 empregos diretos e indiretos. Se multiplicarmos isso pela quantidade de produções nacionais que saem a cada ano, de maior ou menor porte, temos um retorno em cultura e economia que justifica mais do que nunca a importância da Ancine e o valor que um filme pode ter sobre seu público.

O Brasil é um país que sofre desigualdade em diversos níveis e esferas, e não caberia nesse artigo começar a listar cada uma delas. Mas é comum ouvir de muitos que, em um país assim, deve-se priorizar recursos para as áreas mais “importantes”, como a educação, a saúde e a segurança pública. Mas o que muitos ignoram é que a cultura tem um poder impactante sobre uma nação. A atriz Fernanda Montenegro afirmou recentemente durante uma entrevista que um país sem cultura é um país sem educação. Parece exagero? A própria trajetória de respeito de uma atriz desse porte prova que não. A arte está diretamente ligada à educação, e hoje poucas formas de arte são mais acessíveis do que o cinema na comunicação clara e direta com o público. O cinema pode ser uma ferramenta de alcance inimaginável para chegar mesmo àqueles Brasil afora (ou adentro) em que a educação ainda não chegou como deveria.

A maior prova disso é o fato de grande parte das salas de cinema se concentrarem nas regiões mais ricas e acessíveis do país – consequentemente as regiões com melhores índices de educação. Por meio do cinema pode-se alcançar e ensinar desde o público infantil ao adulto, homens e mulheres, ricos e pobres, brancos e negros. A possibilidade de enxergar novos mundos, expandir a mente para novas perspectivas, ter contato com diferentes culturas e idiomas, treinar a leitura, conhecer a História, descobrir referências literárias, assimilar outras realidades além da nossa, desenvolver empatia, treinar a capacidade cognitiva, estimular debates, quebrar tabus, aprender a pensar por conta própria, estimular o questionamento, experenciar diferentes sensações – aprender a ser mais humano. Tudo está incluso dentro da possibilidade que um filme oferece. É uma pena que tudo isso esteja limitado a algumas pessoas, e que mesmo dentro dessas poucas cidades ainda exista uma dificuldade clara de acesso de todos a uma sala de cinema.

A arte foi salvadora na vida de muitas pessoas. O acesso a essa arte pode ser o que falta para ajudar muitos a encontrarem essa redenção, essa chance de aprender em um Brasil em que a educação completa e de qualidade também se encontra limitada a poucos. Ela pode ser a diferença que leva alguém a mudar o proceder e se voltar para um caminho de melhoria e evolução. O cinema faz parte disso, uma parte importante. A democratização dele é fundamental. Você pode não amar, mas defendê-lo é fundamental.

Comentários (6)

Davi de Almeida Rezende | quinta-feira, 07 de Novembro de 2019 - 17:54

Um país sem cinema é um país sem história. E o cinema é e deveria ser uma das principais fontes de cultura de um povo (somente rivalizando com a literatura) por agregar todas as demais e ser essa uma de suas principais características.

No entanto, seu texto é incoerente. E sabe pq? Pq vc não consegue deixar de lado o viés político.

Como vc primeiro defende a militância ideológica no cinema brasileiro e depois vem falar de cinema arte que muda e informa as pessoas? Ou vc não sabe o q está falando ou está de má-fé. Política não é verdade muito menos informação ou cultura, política é interesses e, ainda mais no Brasil, fonte de ideologias nefastas e corrupção.

A Ancine q vc citou era ou ainda é dominada por marxistas que, como vc sabe, defendem e fazem apologia de organizações criminosos como o PT e o Lula. Aliás, bancaram até a cinebiografia desse presidiário condenado por corrupção.

Seu texto tbm cometer outro erro terminal, que é misturar cinema e entretenimento.

Ted Rafael Araujo Nogueira | quinta-feira, 07 de Novembro de 2019 - 21:13

Então a solução que tens no bolso é a censura e o avacalho da ANCINE? Porque o chefe de estado afirmou no começo do ano que iria acabar com a agência, mas como ele é um jumento batizado, não se ligou que a mesma não acabaria com gritaria e canetada. Portanto a tática agora é cansar a galera, fazer o desmonte do cinema nacional. Se não me engano, foram lançados 120 filmes em 2017. Todos marxistas então? Ah e a cinebiografia do Lula se pagou, deu lucro, que foi pago na prestação de conta à própria Ancine. Entre tantos outros. Mesmo com a intoxicação ideológica, exagerada obviamente, de acusa, é melhor ter o cinema ativo do que não ter porra nenhuma.

Ted Rafael Araujo Nogueira | sexta-feira, 08 de Novembro de 2019 - 00:53

O meu ponto é pragmático, mas sem esquecer da matriz ideológica. Ora, o cinema brasileiro tem um braço progressista muito forte, principalmente por conta de duas ditaduras controlando artistas por um lado, e por outro muitos deles ligados ao estado pelas mais variadas políticas buscadas para equilibrar a exibição, e existência, do nosso cinema. Políticas impetradas inclusive pelas ditaduras citadas, às suas maneiras, obviamente. E temos o fim da Embrafilme e a total recauchutagem do cinema nacional, a tal da retomada. E foram muitas pessoas ligadas ao campo progressista, esquerda, que batalharam por isso. Inclusive na criação da Ancine. Então não é um absurdo que a participação de quem gere a parada seja deste pensamento. Só pra lembrar, houveram vários filmes de reza contemplados nos editais. Vamos diminuir o choro.

Arte é a prova de nossa passagem pela bagaça, e envolve entretenimento sim. O resto é fuleiragem.

Ted Rafael Araujo Nogueira | sexta-feira, 08 de Novembro de 2019 - 15:55

A Ancine nasceu no Governo FHC e foi construída na ótica no governo Lula dando sequência. A a Paranoia, como citaste que é grande, tal qual a falta de argumentação decente.

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