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A Proliferação das Locadoras

No início, não havia o cinema. Até que os irmãos Lumiere deram vida à sua grande invenção: a câmera. E o cinema surgiu. No início, experimental, com o passar dos anos, virou comercial. No início, era mudo; logo se descobriu a voz. E as cores. E passou-se a Segunda Guerra, o cinema cresceu, cresceu, virou artigo cada vez mais popular. Vieram então os arrasa-quarteirões, filmes capazes de se tornarem eventos em nível nacional, e logo logo em nível mundial. A tecnologia evoluiu com o cinema. O vídeo-cassete apareceu nos anos 1980. As locadoras de filmes, então, não demoraram a surgir.

Ainda eram poucas, especializadas. Quem não tinha acesso ao cinema se esbaldava com os grandes catálogos de filmes, e a chegada de algum grande lançamento era motivo de ansiedade, afinal os VHS eram lançados muito, muito tempo depois de seus filmes terem deixado as salas de cinema. Para muitas pessoas, que não possuíam o benefício de viverem em grandes cidades com cinemas, as vídeo-locadoras foram fundamentais para despertar o amor pelo cinema. Ou, como acontece até hoje, para servirem como diversão rápida para um fim-de-semana. Sem dúvida o grande público hoje das locadoras é o popular, ou, como pode também ser chamado, quem gosta de filmes (não de cinema) casualmente.

Antes da chegada do DVD, comprar VHS não era definitivamente um costume de muitos: eram poucos os lançamentos para o público em geral. A Disney sempre lucrou muito com seus desenhos animados nesse formato, e ela era uma das únicas grandes empresas que disponibilizavam seus filmes ao público final. Mas ela era exceção. Os filmes eram caros e o próprio formato exigir espaço e cuidados especiais, para não mofar depois de dois anos encalhado em uma prateleira. E, com isso, as locadoras foram ficando maiores e surgindo em maior número. Já não existia apenas uma locadora no centro da cidade, elas foram para os bairros, para sua vizinhança, geralmente não com a mesma qualidade, é bem verdade, mas sempre estiveram lá, quando alugar no centro tornava-se mais complicado por qualquer motivo que fosse.

Então chegou o DVD. No início, de mansinho (como fará o Blu-Ray a partir de 2007/2008). Os aparelhos eram caros e havia poucos lançamentos para o público final. Mas eles foram barateando, e hoje podemos encontrar muitos títulos – até mesmo alguns interessantes – por míseros R$ 10 em qualquer loja ou super-mercado. Alguns, é bem verdade, sem qualidade nenhuma: embalagens praticamente descartáveis e qualidade da mídia horripilante; alguns, por outro lado, são bons negócios, fazendo sempre ser interessante para quem curte filmes dar uma espiada nas pilhas desses DVDs. Hoje há preços para todos os públicos, e mesmo lançamentos estão por moderados R$ 45, o que é um preço razoável.

É no ponto do preço que entra a justificativa para o título deste artigo. O barateamento dos DVDs abriu toda a possibilidade de um novo mercado para milhares de candidatos a negócio próprio no país. É comum ver, nessas lojas citadas acima, pessoas com uma dúzia de DVDs nas mãos, com um objetivo único: incrementar o acervo de sua recém-lançada vídeo-locadora. O preço baixo pode enganar a muitos realmente: fantasiar comprar um filme a R$ 10 e locá-lo algumas poucas vezes a R$ 1,99 (preço absurdamente baixo para ganhar clientela empurrando má qualidade para um cliente passivo) é uma oferta que não pode passar em branco. Hoje vemos em certas localidades, a 100 metros de distância, mais de uma locadora, uma encostada na outra. É a nova moda, o novo sonho de dinheiro fácil.

Agora, obviamente não sou a favor desse comportamento comercial. A falta de preparo dos novos gerentes para com seus estabelecimentos é visível. Não sabem selecionar acervo e acabam empurrando grandes porcarias para os clientes que, não tendo tempo ou interesse de procurar pelo melhor, acreditam que o que lhes é oferecido (hoje em dia, qualquer filme sobre carros ou motos, por exemplo) é realmente o melhor. Filmes bons (mas que não estão à venda por R$ 10 nas lojas) nem chegam a passar pela cabeça desses proprietários, que estupram a sétima arte em benefício de lucro fácil e acabam interferindo, por tabela, no gosto cinematográfico de seus clientes, já que para a maioria (a maioria NÃO vai ao cinema) o dono do “conhecimento cinematográfico” é o proprietário da vídeo-locadora. Total engano, pelo menos nos dias atuais!

Agora, para finalizar, uma pergunta que se passa na cabeça de muita gente. As locadoras estão com os dias contados? Pirataria exacerbada pela chegada da banda cada vez mais larga a cada vez mais gente; filmes cada vez mais baratos nas lojas; a proliferação das locadoras pequenas e sem conhecimento cinematográfico; a iminente venda de filmes legalizada pela televisão ou pelo computador, aqui no Brasil em alguns anos; ou mesmo o perigo do cinema começar a gerar desinteresse (como nos Estados Unidos, onde o público nas salas de cinema vem caindo este ano em relação ao ano passado). São todos os motivos que, somados, podem pôr um fim, em alguns poucos anos, ao negócio locadora. Para sobreviver, estas terão que melhorar atendimento, conhecimento e serviços. Modernizarem-se e assumir novas frentes. O fim não é iminente, mas já pode ser enxergado lá no final do túnel.

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