A Corrida do Ouro: o deslanchar dos televisionados
A partir de domingo, a corrida da temporada de prêmios entra em fase crucial, com a entrega do primeiro prêmio televisionado, o Globo de Ouro. A crítica americana praticamente está fechando o trabalho dela, com um total de 40 prêmios entregues até agora, que mostraram uma temporada plural de escolhas com uma espécie de unanimidade no meio, o Roma de Alfonso Cuaron. Mas tudo pode e deve mudar a partir das decisões da imprensa estrangeira nos EUA, que entrega o tradicional prêmio. A briga zera e as decisões passam a ter outro caráter, já que eles tentam provar uma espécie de personalidade. Ainda que os apontados até agora sejam referências, algumas fortes demais para ignorar.
O caso do filme de Cuaron, considerado por muitos lugares e críticos como um clássico instantâneo, difícil imaginar ele saindo de mãos abanando das premiações mais populares, até porque o filme já atingiu um público dos mais amplos a essa altura. Ainda que não vá se sagrar vencedor como filme e direção em todos os lugares, ao menos da categoria estrangeiro dificilmente sairá desprestigiado. Só que como já mencionado, sobram categorias e menções possíveis para o filme.
O ator mais premiado do ano tem uma situação das mais delicadas. Ethan Hawke é querido na indústria, mas ficou de fora das indicações ao Globo e ao SAG, provavelmente por seu First Reformed ser pequeno demais, ou ousado demais. No domingo, seu nome dará vez aos de Bradley Cooper e Rami Malek, que mesmo competindo entre si, são os prováveis favoritos ao Oscar - ambos vivendo cantores, respectivamente em Nasce uma Estrela e Bohemian Rhapsody. A Ethan sobrou a torcida pela indicação no dia 22 - até essa ficou difícil depois que John David Washington, o protagonista de 'Infiltrado na Klan', concorreu a todos os prêmios. Ainda assim, 24 prêmios acumulados não deveriam ser tratados levianamente.
Entre os coadjuvantes masculinos, é Richard E. Grant o grande favorito, a bordo das 17 lembranças que seu nome já teve. Mas não podemos esquecer que o ator de Poderia me Perdoar? terá como rival Mahershala Ali em Green Book e que o mesmo perdeu o Globo no ano de sua consagração, por Moonlight; o que acontecerá esse ano, com um filme de caráter tão popular quanto o desse ano?
As possibilidades em atriz estão abertas, para domingo e para o resto dos prêmios. Quase conseguimos imaginar cada cerimônia declarando uma vencedora diferente. Entre as atrizes de drama, Glenn Close e Lady GaGa travarão uma batalha que podem definir as favoritas ao Oscar; entre as atrizes de comédia, a briga tá entre Olivia Colman e Emily Blunt. Correndo por fora, Toni Collette foi muito premiada na temporada por Hereditário, mas a falta de hábito das premiações a excluiu das indicações principais televisionadas, e poderá fazer o mesmo no Oscar. Glenn e a eterna dívida da indústria com ela pode fazer tudo diferente dessa vez com A Esposa, mas será que GaGa deixará o rolo compressor Nasce uma Estrela passar imune? E Olivia Colman, não estaria ela em A Favorita muito acima da concorrência?
Entre as coadjuvantes provavelmente não haverá briga. Regina King tem a performance mais premiada do ano em Se a Rua Beale Falasse, muito talvez por causa de estar em companhia de protagonistas em fraudes da categoria. Sua rival direta segue sendo Amy Adams que mesmo tendo ganho apenas um mísero prêmio na corrida, deverá levar o SAG - porque sabe-se lá como, King perdeu a indicação. Assim, a estrela com já 5 indicações ao Oscar deve crescer na reta final como a esposa de Dick Cheney em Vice.
E o mexicano e recém premiado (por Gravidade) Cuaron, está na briga pelo bi? Sua concorrência vai de Bradley Cooper a Spike Lee no reconhecimento histórico por Infiltrado na Klan, e provavelmente essa vitória em todas as premiações dará o tom da categoria principal, podendo mais uma vez não coincidir e assim abrir o leque de opções a vitórias diferenciadas.
Faltando pouco mais de 2 semanas para o anúncio das indicações ao Oscar e com a votação para a mesma começando no dia seguinte à premiação do Globo de Ouro, num ano com opções tão amplas na corrida pode ser que esses resultados influenciem nos votos - e a ausência de alguns candidatos abrir possibilidades dúbias. Ex: Ethan Hawke pode não ser votado porque nem deu as caras nos Globos, ou pode ser justamente por isso, pra compensar essa injustiça. Em ano repleto de dúvidas, onde vários filmes não corresponderam, a essa altura os esquecidos esperam pelo reconhecimento através da revolta pelo mesmo. E os lembrados esperam não ser os próximos esquecidos... do mês que vem, ou da História. Você lembra mais de Rain Man ou de Pulp Fiction? O Oscar fica ótimo numa estante, mas como disse no primeiro capítulo dessa série, no final é só um prêmio. O tempo dá a real vitória, no fim das contas.
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