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Globo de Ouro 2007

Eram duas horas de manhã (horário de Brasília) quando um combalido Arnold Schwarzenegger (recentemente, ele sofreu um acidente de esqui), subiu ao palco do Beverly Hilton Hotel, em Los Angeles, para anunciar o prêmio final. Após longos 180 minutos de cerimônia, repleta de intervalos comerciais (a transmissão destes espetáculos precisa ser seriamente repensada), chegava a hora de dizer o grande vencedor da noite. Com dificuldades para se equilibrar, o ex-exterminador do futuro e atual Governador da Califórnia, abriu o envelope e leu o nome que lá constava.

Até aquele instante, Dreamgirls - Em Busca de um Sonho fazia barba, cabelo e bigode dos prêmios concedidos pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, já em sua 64ª edição. O musical de Bill Condon se consagrara como melhor filme comédia ou musical, além de conquistar também os de melhor ator coadjuvante (Eddie Murphy, na sua 4ª indicação) e melhor atriz coadjuvante (Jennifer Hudson, recém saída do American Idol).

Outro que vinha na sua cola, era A Rainha, vencedor de dois prêmios: melhor atriz (para Helen Mirren, a maior barbada da noite) e melhor roteiro. E ele ainda concorria ao prêmio de melhor filme drama.

Algumas horas antes, duas feras já haviam subido ao palco para receber o prêmio de melhor filme estrangeiro mais concorrido dos últimos anos (na verdade, pela primeira vez as pessoas se viram forçadas a pronunciar corretamente o nome da categoria – melhor filme em língua não-inglesa – já que, dentre os cinco finalistas, dois eram produções eminentemente americanas). Eram eles o produtor Steven Spielberg e o diretor Clint Eastwood, ambos vitoriosos por Cartas de Iwo Jima. Dois anos depois de conquistar o prêmio de direção por Menina de Ouro, Eastwood voltava a ganhar a atenção dos holofotes. Desta vez, porém, carregava no olhar um certo ar de desdém. Ele sabia que, no fundo, aquele reconhecimento era uma forma de consolação pela derrota na categoria de melhor direção que já se anunciava.

Tempos depois, já com seu Globo de Ouro devidamente guardado, Spielberg voltou aos palcos para anunciar o prêmio de melhor diretor. Pela segunda vez em quatro anos, Martin Scorsese foi o escolhido, por seu trabalho em Os Infiltrados. Para Martin, a vitória podia ser encarada como uma espécie de troco pela derrota que sofrera em 2004 para Eastwood.

No quesito das comédias, os vencedores confirmaram seus favoritismos. De um lado, Sacha Baron Cohen, bem distante da caracterização do personagem Borat e com um sorte sotaque britânico (ele nasceu em Londres), agradeceu o prêmio de melhor ator com um discurso pra lá de politicamente incorreto. De outro, a hexacampeã Meryl Streep consagrou-se por sua atuação em O Diabo Veste Prada.

A tantas horas, o sempre carismático e espirituoso Tom Hanks foi chamado para entregar o prêmio Cecil B. de Mille ao produtor, diretor, roteirista e ator Warren Beatty. Do alto de seus 70 ainda incompletos, Beatty viu sua carreira ser resumida através da exibição de pequenos trechos de seus filmes, como Clamor do Sexo, Bonnie & Clyde - Uma Rajada de Balas, Shampoo, O Céu Pode Esperar e Reds. Com um texto inteligente, Hanks roubou a cena ao pedir para que as ex-namoradas e namorados de Warren Beatty levantassem a mão e se identificassem. O discurso de agradecimento de Beatty, por outro lado, de tão sem graça, fez com que pedíssemos a volta de Hanks ao microfone.

Forest Whitaker foi consagrado como o melhor ator do ano, por seu trabalho em O Último Rei da Escócia. De tão emocionado, quase não conseguiu falar. A aparência era de que Whitaker estava prestes a sofrer um enfarte, ali mesmo no palco, tal a sua dificuldade de lembrar o nome das pessoas a quem queria agradecer. É interessante observar como os atores, tão confiantes em cena, se humanizam em frente às câmeras quando deles se retira as falas escritas previamente por um roteirista.

Escorado por muletas e com um indefectível sotaque austríaco, o ex-Conan bradou “Babel”. A equipe do filme não se conteve em pé e, motivada por algumas tequilas a mais, saiu comemorando pelo salão abarrotado de mesas. Do outro lado, o pessoal de Os Infiltrados, tido por muitos como o favorito da noite, não conseguiu esconder a frustração. Na verdade, mesmo com as suas sete indicações (o maior número entre todos os concorrentes), poucos esperavam a vitória de Babel. Vários motivos contribuíam para esta suspeita: Babel é uma fita densa, longa, pouco comercial (foi fracasso de bilheteria nos EUA), falada em várias línguas, dirigida por um mexicano e, pior, sem um astro americano como protagonista. Mas como no futebol, pode-se dizer que o cinema também é uma caixinha de surpresas.

Para Scorsese, as últimas edições do Globo de Ouro vem lhe trazendo um incômodo dilema. Naquela linha que diz que não se pode ganhar tudo da vida, o cineasta, ao que parece, terá que passar a decidir entre ele e seu filme.  Em 2002, ao se consagrar como o melhor diretor do ano por Gangues de Nova York, Martin viu o prêmio de melhor filme parar nas mãos de terceiros. Já em 2004, o Globo de Ouro conquistado por O Aviador não veio acompanhado da estatueta de melhor direção.

No resumo da ópera, com a vitória de Babel, Dreamgirls se tornou o dono da noite, recebendo 3 importantes prêmios, seguido por A Rainha, com 2. Dificilmente estes três filmes estarão fora da disputa do Oscar. Além deles, Os Infiltrados ainda mantém sua força e, apesar do reverso de ontem, é aposta certa entre os finalistas da Academi. Para a quinta e última vaga, a disputa permanece acirrada entre Pequena Miss Sunshine (o mais provável), Cartas de Iwo Jima, Pecados Íntimos e, correndo por fora, Vôo United 93.

Por fim, destaque para o discurso de abertura de Philip Berk, da Presidente da Associação da Imprensa de Hollywood. Ele ressaltou o fato de que três dos indicados daquela noite (Clint Eastwood, Jack Nicholson e Meryl Streep), há exatos 13 anos, concorriam exatamente nas mesmas categorias (Eastwood por Os Imperdoáveis; Nicholson por Questão de Honra, e Streep por A Morte Lhe Cai Bem). A menção servia para comprovar que Norma Desmond estava certa quando, há mais de 50 anos, no imortal Crepúsculo dos Deuses, prenunciava que “as estrelas são eternas” (no original, "the star are ageless"). Considerando que a frase veio da pena de Billy Wilder, quem sou eu para discordar.

Veja a relação completa dos vencedores:

Melhor Filme Drama
Babel

Melhor Filme Comédia ou Musical
Dreamgirls - Em Busca de um Sonho

Melhor Direção
Martin Scorsese (Os Infiltrados)

Melhor Ator em Filme Drama
Forest Whitaker (O Último Rei da Escócia)

Melhor Atriz em Filme Drama
Helen Mirren (A Rainha)

Melhor Ator em Filme Comédia ou Musical
Sacha Baron Cohen (Borat)

Melhor Atriz em Filme Comédia ou Musical
Meryl Streep (O Diabo Veste Prada)

Melhor Roteiro
A Rainha

Melhor Filme de Língua Não-Inglesa
Cartas de Iwo Jima

Melhor Trilha Sonora
The Painted Veil

Melhor Canção Original
The Song of the Heart (Happy Feet: O Pingüim)

Melhor Filme de Animação
Carros

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