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Oscar 2013 - O mais imprevisível em anos

Uma certeza é inquestionável para os amantes do Oscar: essa será a premiação mais emocionante e disputada dos últimos muitos anos. Diversas categorias estarão em aberto até a grande festa de Hollywood, o que é raro, e, em alguns casos, com mais de dois possíveis vencedores disputando voto a voto a estatueta. Isso é mais raro ainda.

Evidentemente, como de praxe, não será a mais justa. Isso fica bem claro com a provável vitória de Argo como melhor filme do ano. A boa, porém nada excepcional, produção de Ben Affleck, queridinho dos artistas, mas com prestígio contestável junto à Academia, deve alcançar feito raro. Vencer a categoria principal sem nem sequer ter seu diretor entre os cinco selecionados para o prêmio. Isso aconteceu apenas três vezes, tendo sido a mais recente com Conduzindo Miss Daisy, em 1990 (nas outras oportunidades, os vencedores foram Asas e Grande Hotel, em 1929 e 1932).

Entretanto, pela primeira vez na história, um filme sairá com o prêmio máximo sem a indicação na categoria de direção e com a vitória no Sindicato dos Diretores. Outra raridade é o prêmio desta associação não coincidir com o Oscar. Essa peculiaridade pode ser atribuída à antecipação do prazo de votação por parte da Academia de Hollywood, responsável pelo careca dourado, o que diminui a interferência dos sindicatos de classe. Mas, com as vitórias de Argo no Globo de Ouro, SAG (sindicato dos atores), PGA (dos produtores) e Bafta (da Academia Britânica) só uma catástrofe tira Affleck do palco do Oscar. Mesmo previsível a essa altura, a vitória contraria certezas do passado e isso é bacana para a essência disso tudo, uma festa de entretenimento. 

Com a ausência de Affleck na corrida pelo título de diretor do ano, e com a também surpreendente ignorada em Kathryn Bigelow (A Hora mais Escura), a disputa nesta categoria está totalmente aberta. Steven Spielberg, por Lincoln, a princípio parecia o mais provável, mas o fato de não ter vencido nada, muito menos o sindicato dos diretores, mantém o leque bem aberto, com Michael Haneke, do aclamado Amor, como possível vencedor.

A produção austríaca tende a não sair recompensada apenas como melhor filme estrangeiro após inesperadas cinco indicações. E o prêmio de diretor pode ser uma boa escolha para os votantes, pois a outra opção mais provável é escolher Emmanuelle Riva como atriz. Assim, já seriam três prêmios para um filme em língua estrangeira e, especificamente neste último caso, implica em deixar de premiar a nova queridinha e vencedora do SAG Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida). Só que a vitória no Bafta deu força para Riva. Soma-se a isso a atrocidade que será não premiá-la. Ainda também com chances, mas menos provável a essa altura, aparece Jessica Chastain, considerada a alma de A Hora Mais Escura e vencedora dos críticos.

A única barbada da noite é Anne Hathaway, melhor coadjuvante por Os Miseráveis. Essa pode preparar o discurso e ir tranquila. Amy Adams, em sua quarta indicação, vai trilhar o caminho de Kate Winslet e esperar mais um pouquinho mesmo com atuações sempre excelentes.

Do lado masculino, Daniel Day-Lewis também vive situação confortável. Assim como Anne, venceu tudo até agora e parece improvável que a soberba composição de Joaquin Phoenix em O Mestre seja capaz de derrotá-lo. E Phoenix já deixou bem claro que não liga para isso (o que sempre dói nos votantes), então, Daniel, fica o conselho: aproveite para pensar em um discurso original. O melhor, sobre um ator ter matado Lincoln e outro ator tê-lo trazido de volta à vida, você já usou no SAG.

O jogo mais aberto da noite, e provável categoria-chave para ganhar os bolões, é descobrir quem vencerá como ator coadjuvante. Pela primeira vez, os três principais prêmios precursores para a Academia votaram de forma diferente. O prêmio dos críticos ficou com Philip Seymour Hoffman por O Mestre; o Globo de Ouro escolheu o hipnotizante Cristoph Waltz em Django Livre; já o SAG, considerado o mais confiável dos termômetros, escolheu Tommy Lee Jones, por Lincoln.

É aí que entram as variáveis. O Bafta desempatou o jogou para Waltz, mas ele nem sequer foi indicado ao prêmio dos atores, o que, em outros tempos, poderia torná-lo carta fora do baralho. Contudo, dizem que, na verdade, Django como um todo não foi considerado no SAG por atraso nos prazos. Tommy Lee Jones, por sua vez, poderia estar um pouco à frente na disputa se não tivesse faltado à entrega do SAG. Isso sempre pega mal com Hollywood, afinal, os personagens precisam estar na festa. Só Woody Allen pode se dar ao luxo sem maiores punições.

Nesse caso, cresce o nome de Hoffman. Ser indicado pelo sindicato dos atores, lembrado no globo de ouro e vencedor dos críticos, além da grande atuação, já são fatores suficientes. Mas, ainda existe a possibilidade surpresa total – e o Oscar está adorando isso esse ano. Robert De Niro está empenhado em ganhar. Está cumprindo todo o script. Vai aos programas de tevê, fincou base em Los Angeles, distribui sorrisos, aparece em todos os eventos, desfilou simpatia no almoço oferecido pela Academia de Hollywood. É uma grande estrela que quer ganhar depois de 33 anos de sua última vitória.

Claro que toda essa loucura de possibilidades abertas causa efeito também nos roteiros. O original pode ir para Amor, mas nesse caso diminuiriam as chances de vitória em diretor e atriz. Mesmo assim, pode acontecer. Moonrise Kingdom tem todos os elementos para essa categoria, assim como Django Livre. A vitória no Globo de Ouro e no prêmio dos críticos impulsiona Quentin Tarantino para o palco. Mas, A Hora Mais Escura venceu o sindicato dos roteiristas e por isso precisa ser considerado.

Roteiro adaptado tende a Argo, até como forma de dar volume de prêmios ao melhor filme da noite e reconhecer a qualidade que eles enxergaram na produção. Fora que levou o sindicato dos roteiristas nessa mesma categoria. Mas Lincoln teve 12 indicações e venceu na escolha dos críticos. O Lado bom da Vida, que conseguiu indicação em todas as principais categorias, o que também é bastante raro, venceu o Bafta. A essa altura do campeonato, portanto, está difícil ter certeza do que se passa na cabeça dos votantes da Academia de Hollywood.

Oscar pouco previsível, algo que até ano passado parecia difícil. Melhor esperar ao som de Adele, intérprete da canção da noite, Skyfall.

Comentários (47)

George | quinta-feira, 21 de Fevereiro de 2013 - 22:34

Revi Rain Main. É melhor que Argo.
Então vou fazer a lista andar mais alguns anos.
Argo é o pior vencedor do Oscar desde Gandhi.

Alexandre Barbosa da Silva | sexta-feira, 22 de Fevereiro de 2013 - 04:04

Em um mundo perfeito (com essas indicações contraditórias ao conceito), Moonrise Kingdom levaria em roteiro original e Django em melhor filme.
Acho muito difícil de acontecer, mas meus amigos, é fato: Django Livre é o melhor filme da lista. Mesmo não sendo o melhor filme do diretor, é melhor que os outros, e Tarantino merce levar um Oscar desses depois de tantas obras-primas.

Em ator coadjuvante eu torço por Christoph Waltz ou Philip Seymour Hoffman, mas acho que dá Tommy Lee Jones.

Em melhor atriz, meu amor pela Jennifer Lawrence fala mais alto na torcida, mas ficarei satisfeito tanto com ela quanto com Emmanuelle Riva. Em ator, acho que quem deveria levar é Joaquin Phoenix, pois Daniel Day-Lewis ainda vai ser indicado zilhões de vezes e essa não é a sua melhor interpretação. Se der Hugh Jackman, fico contente também.

Bom, ficarei na torcida na noite da premiação principalmente e inutilmente por Django, mas querendo muito que Moonrise leve o seu em roteiro original.

Conde Fouá Anderaos | sexta-feira, 22 de Fevereiro de 2013 - 08:55

Argo me surpreendeu positivamente. Sóbrio, comedido, direto. Injusto seu diretor estar fora do páreo.

Lucyene Batista Soares | sexta-feira, 22 de Fevereiro de 2013 - 11:32

Gandhi de 1982 é lindo e importante, se existiram alguns momentos em que o Oscar escolheu bem o vencedor, um desses momentos foi com Gandhi vencendo o hiper-estimado E.T. O Extraterrestre, posso parecer previsível, mas amo filmes biográficos, claro que de qualidade. E Walter, eu seu que "Onde os Fracos não tem vez" era o favorito e pelo visto queridinho de muitos por aí, mas estava me referindo à divergência com os vencedores dos prêmios considerados termômetros do Oscar.

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