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Oscar 2014 - Temporada de caça

 

Dezembro já explodiu na nossa cara. Junto com ele, árvores de Natal, meias com promessas de presentes, 13º suado, listas (muitas listas!) de todo tipo (de promessas não cumpridas, a cumprir, de melhores do ano para tudo quanto é área de atuação), enfim... Quem não ama dezembro? Se você responder "eu amo mais que todos!", tenha certeza que você não é uma estrela hollywoodiana de primeiro time, ou um diretor que transborde talento. Porque enquanto você lê esse texto, quase 10 prêmios já foram distribuídos para a classe cinematográfica americana, representando diversos estados e cidades deles, em diferentes importâncias e qualificações.

Alguns grandões já foram (Nova York, Los Angeles, o badalado grupo National Board of Review) e alguns não tão grandes também (Boston, Washington). Com isso, o que parecia só especulação até o mês passado ganha vulto e status de confirmação; fica cada vez mais claro que a indústria do entretenimento americano tem nos profissionais que cobrem imprensa grandes aliados que os ajudam a perceber com meses de antecedência o rumo das coisas. Até agora, pouco foi dito do que já não ouvíamos há meses, sinal de que o que é bom fica sempre muito óbvio pelas suas próprias características.

Nomes que nasceram lá atrás começam a ficar cada vez mais fortes, e pra quem está chegando agora na corrida, o Cineplayers dará uma luz a vocês, categoria por categoria.

FILME

A briga principal parece que será tensa, mas de cara um favorito surge há algum tempo. 12 Anos de Escravidão parece ainda não ter encontrado um rival à altura da sua vibe 'importante demais para não ser premiado'. Mesmo que para muita gente tenha sido estranho ele não ter levado nenhum prêmio dos três grandões já citados, a verdade é que os prêmios televisionados darão todo o suporte necessário ao filme, que deverá ter o maior número de indicações do ano. Suas muitas qualidades também não devem atrapalhar, tampouco seu elenco e diretores em ascensão. Do outro lado do ringue temos Gravidade, com a força de 250 milhões de dólares em solo ianque (até agora!) e críticas que o colocaram literalmente no espaço; o prêmio de melhor filme em LA não atrapalhará sua jornada... mas será capaz de ultrapassar a marca que tem feito a sina dos grandes blockbusters indicados ao Oscar, morrer nos prêmios técnicos como Avatar, A Origem, A Invenção de Hugo Cabret e As Aventuras de Pi (ok, esse levou direção... mas Ben Affleck sabe que essa estatueta é dele).

Ainda podemos destacar como certos a bela nova tragicomédia de Alexander Payne, Nebraska; o novo rei da Academia, David O. Russell, com sua farsa Trapaça; um antigo rei que mais uma vez se reinventa, Martin Scorsese, e a história real por trás de O Lobo de Wall Street; além de Walt nos Bastidores de Mary Poppins (ô título xumbrega, meu Deus...), que só por se tratar de celebridades do porte de Walt Disney durante a produção do seu hit da babá voadora já renderia tudo (ser estrelado por Tom Hanks e Emma Thompson atrapalha nada). Da turma que tá lutando pra estar entre os indicados temos a nova possível obra-prima dos irmãos Coen, Inside Llewyn Davis; a nova possível obra-prima de Spike Jonze, Ela... mas como não só de obras-primas vive uma competição também temos a aventura "tela quente" de Paul Greengrass, Capitão Phillips, o 'típico vencedor de Sundance que tem conseguido vaga frequentemente', Fruitvale Station, a nova junção entre Stephen Frears e Judi Dench (Deus nos proteja desse!), Philomena, o 'exército de um homem só' All is Lost, o festival de estrelas que é Álbum de Família, e o horror absoluto que é O Mordomo da Casa Branca - felizmente essa bomba tá cada vez mais longe de ser indicado.

DIREÇÃO

Guerra de gigantes... estreantes. Steve McQueen nunca viu filme seu ser indicado a qualquer coisa no Oscar; Alfonso Cuarón por sua vez já concorreu, mas como roteirista (o que é um crime, tendo em vista que o moço tem Filhos da Esperança no currículo). Ambos, no entanto, estão muitíssimo bem na fita, e devem partir como favoritos até a bandeirada final. Resta saber se a Academia anima de dividir os prêmios de filme e direção; eu não acredito. Mas ambos tem predicados de sobra para o troféu. Entre os rapazes que devem acompanhá-los possivelmente estarão Martin Scorsese e Alexander Payne, praticamente certos. E pra última vaga, uma legião de gente, de talentos, estilos e características diferentes se colocam com disposição: Spike Jonze, os irmãos Coen, Paul Greengrass, David O. Russell, e os estreantes da brincadeira J.C. Chandor (por All is Lost), John Lee Hancock (por Walt nos Bastidores de Mary Poppins) e Ryan Coogler (por Fruitvale Station). Não se assustem se tivermos inclusive um Michael Haneke esse ano, representado por Abdellatif Kechiche e sua maravilha Azul é a Cor Mais Quente.

ATOR

 

Uma decisão que deve depender da combinação de muitos fatores. Vejo os votantes optando por escolhas práticas e juntando questões coletivas pra definir seus vencedores, e acho que nessa categoria fica tudo muito claro pra esse lado. Matthew McCounaghey como o HIV positivo de Dallas Buyers Club, e Chiwetel Ejiofor, como o comerciante feito escravo de 12 Anos de Escravidão, partem na frente. Uma dupla de velhinhos corre atrás: Bruce Dern (Nebraska) e Robert Redford (All is Lost), em papéis nada convencionais para suas idades e trajetórias. A quinta vaga provavelmente será decidida entre dois dos maiores astros de Hollywood hoje: Leonardo DiCaprio, o lobista e farrista de O Lobo de Wall Street, e o Tom Hanks sequestrado de Capitão Phillips. Praticamente não vejo chance pra mais ninguém entrar aqui, mas nada impede que o apaixonado Joaquin Phonix de Ela ou o jovem Michael B. Jordan de Fruitvale Station corram na direção desse sexteto e tentem roubar vagas. Hoje, vejo poucas chances disso.

ATRIZ

O nome dessa categoria é Cate Blanchett. Sua performance em Blue Jasmine é tão imensa e unânime que sejam quais forem as outras quatro, provavelmente irão à festa de março apenas para aplaudir sua vitória. Mil fatores contribuem para essa certeza: um filme de Woody Allen, uma das maiores bilheterias da carreira do cineasta, uma releitura da clássica Blanche Dubois da obra de Tennessee Williams, Um Bonde Chamado Desejo, todos os prêmios que ela ganhou até agora... não tem jeito de fugir dela não. A figuração: Sandra Bullock (Gravidade), Emma Thompson (Walt nos Bastidores de Mary Poppins), Meryl Streep (Álbum de Família) e Judi Dench (Philomena). As ameaças para quebrar esse quinteto vêm na figura de Amy Adams (Trapaça) e Adèle Exarchopoulos (Azul é a Cor Mais Quente), que terão de lutar muito para estar na final. Aplaudindo Blanchett, claro.

ATOR COADJUVANTE

Essa categoria parece que irá repetir o caminho do ano passado e se firmar com muitos candidatos com chances reais de levar o boneco dourado pra casa. Hoje temos na frente o travesti doente vivido por Jared Leto em Dallas Buyers Club, mas colado nele temos Tom Hanks vivendo SÓ Walt Disney em Walt nos Bastidores de Mary Poppins, Jonah Hill em O Lobo de Wall Street e Michael Fassbender como o carrasco de 12 Anos de Escravidão. Todos esses quatro têm chances reais de sair com o Oscar na mão; nem consigo fazer uma aposta particular, porque acho de fato que os quatro tenham essa chance. A quinta vaga tá bem aberta, e pode ir para atores bem diferentes como o falecido James Gandolfini em À Procura do Amor, o comediante Will Forte em Nebraska, o impressionante Barkhad Abdi de Capitão Phillips, o recém descoberto grande ator Bradley Cooper em Trapaça ou a fantástica performance de Jake Gyllenhaal em Os Suspeitos. Minha aposta? O mais fraco de todos, Forte, que a seu favor está no filme certo. Meu sonho? Que alguém lembre do que James Franco faz de mágico em Spring Breakers.

ATRIZ COADJUVANTE

Há meses se fala no nome de Oprah Winfrey para esse prêmio. Era uma espécie de Cate Blanchett por aqui. Mas a temporada chegou e graças a Deus, o óbvio parece estar sendo notado: Oprah não faz absolutamente nada no péssimo O Mordomo da Casa Branca. Sua indicação ainda parece segura (e nem isso merecia), mas seu favoritismo virou pó. No seu lugar, a fulgurante revelação chamada Lupita Nyong'o, uma das mais sofridas escravas de 12 Anos de Escravidão, começa a levar os prêmios da crítica e tomar a dianteira (e pensar que eu cantei essa vitória há meses atrás, por uma foto!); parece merecidíssima. Uma ameaça a ela hoje pode vir de June Squibb, a inacreditável senhorinha de Nebraska, e devemos ter uma vaga guardada também a Jennifer Lawrence pela dona de casa alcoolatra de Trapaça, mas essa ganhou esse ano e deve fazer só presença VIP na festa. Pra quinta vaga devem brigar Octavia Spencer, que emociona em Fruitvale Station, Sally Hawkins, que diverte em Blue Jasmine, e Julia Roberts, que brilha em Álbum de Família. Podemos sonhar com a sensacional entrega de Lea Seydoux em Azul é a Cor Mais Quente?

ROTEIROS

Adaptados ou originais, não interessa. O que parece é que o ano realmente está tão pesado que nem vendo essa categoria dividida em dois teremos a chance de ver todos os merecedores indicados. Entre os adaptados, a briga deverá ser entre 12 Anos de Escravidão e O Lobo de Wall Street. Antes da Meia-Noite e Capitão Phillips também não devem ficar de fora nessa categoria, e a quinta vaga deve ser decidida entre Álbum de Família, Philomena e é daqui que vem a grande chance de reconhecimento no Oscar de Azul é a Cor Mais Quente.

Entre os originais, a briga está mais aberta. Trapaça, Ela e Inside Llewyn Davis estão cabeça a cabeça na briga, que deve abrigar ainda Walt nos Bastidores de Mary Poppins. A última vaga será uma disputa entre Blue Jasmine, Dallas Buyers Club, Nebraska. Mas ninguém duvide de Fruitvale Station, Gravidade e do meu amado Frances Ha.

FILME ESTRANGEIRO

Das categorias mais surpreendentes todo ano, talvez a grande surpresa desse ano não sejam os indicados ou o vencedor final, mas observar o favoritismo do fraco O Sonho de Wadjda na briga. O filme é a estreia da Arábia Saudita entre as submissões e também é o primeiro filme árabe dirigido por uma mulher; na tela, nada disso vira qualidade. Com chances boas de aparecer temos os sensacionais A Caça e O Passado, candidatos da Dinamarca e do Irã, respectivamente. Também acho que a Bélgica tá com tudo com seu Alabama Monroe, e ainda com chances temos o Chile (Gloria), a Romênia (Instinto Materno), o Canadá (Gabrielle) e a Itália (A Grande Beleza). Nós e nosso O Som ao Redor temos mais chances que em outros anos, mas não acho que seja suficiente para barrar essa galera. Que ao menos sejam indicados filmes tão bons ou melhores que ele, ou seja, nada de Wadjda.

Comentários (37)

Eduardo Pepe | segunda-feira, 23 de Dezembro de 2013 - 13:33

A época exata é entre 1º de outubro do ano anterior da premiação (no caso desse ano, 2012) e 3º de setembro do ano das premiações (2013). \"Azul...\" estreou no país natal (frança) em 9 de outubro, por isso, não pode ser escolhido.

Raphael da Silveira Leite Miguel | segunda-feira, 23 de Dezembro de 2013 - 19:12

Hum, uma pena, pra 2015 então ficou difícil mesmo. Parece que Cidade de Deus teve problema semelhante, né?

Eduardo Pepe | segunda-feira, 30 de Dezembro de 2013 - 16:32

Isso, então a academia reconheceu o filme no ano seguinte, indicando a diretor, roteiro adaptado, edição e fotografia.

Raphael da Silveira Leite Miguel | segunda-feira, 30 de Dezembro de 2013 - 20:10

Entendi, merecido, aquele sim, estaria fácil entre os indicados a melhor filme estrangeiro e era grande favorito a vencer.

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