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Porque o Brasil acertou na escolha para o Oscar

A propagação do discurso preconceituoso contra o filme do Lula não foi suficiente para barrar sua escolha como o representante brasileiro no Oscar. A comissão responsável pela decisão, que pela primeira vez contou com integrantes da Academia Brasileira de Cinema, foi coerente ao optar pelo longa-metragem sobre a trajetória do presidente Lula. Duas perguntas básicas logos vêm à mente. 1) Esse era o nosso melhor filme? 2) Temos chances de ser indicado?

A resposta para a primeira pergunta, creio eu, é unânime. Não! Outros filmes nacionais lançados dentro do período de elegibilidade tinham mais qualidades cinematográficas do que o selecionado, como é o caso, por exemplo, do aparentemente inocente As Melhores Coisas do Mundo (idem, 2010). Mas nenhum outro tinha tantas características – e tanto apelo – para cumprir o objetivo maior como Lula - O Filho do Brasil (idem, 2010). Com essa afirmação a resposta para o segundo questionamento está dada. Temos chances reais – como há muito tempo não tínhamos – de sermos indicados ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira.

O longa-metragem dos Barreto, que já têm duas indicações ao Oscar – O Quatrilho (idem, 1995) e O Que é Isso Companheiro? (idem, 1997) -, parece ter sido desenhado dentro da fórmula que agrada os eleitores da Academia: história de superação, que narra a infância do personagem; elementos históricos do país de origem; trajetória de um homem conhecido mundialmente; grande atuação da protagonista feminina – e há quem acredite que ela também chegará lá; embalado por uma trilha sonora marcante e final de impacto. Ou seja, elementos para ser indicado ao prêmio mais famoso – e charmoso – do cinema não faltam a Lula – o Filho do Brasil.

Vale ressaltar que fora do país não existe esse discurso inflamado em relação à conduta do presidente, muito menos esse fanatismo causado pelo período eleitoral. Ou seja, fora daqui, Lula é considerado um grande líder mundial e sua fama pode auxiliar ainda mais no processo de seleção dos membros da Academia.

Os demais filmes nacionais poucas chances tinham de conseguir essa nomeação, mesmo os que evidentemente são superiores à produção selecionada. Isso porque muitos se enquadram no perfil de festivais, já que são mais contemplativos ou exploram com eficiência a linguagem cinematográfica, caso de Os Famosos e os Duendes da Morte (idem, 2010). Além disso, outras produções, como o líder das enquetes populares Nosso Lar (idem, 2010), não teriam a mínima condição de fazer parte da festa de gala do cinema. Além de serem cinematograficamente sofríveis, os filmes não teriam o menor apelo junto à Academia.

Nos dois últimos anos, o Brasil errou feio ao indicar Última Parada 174 (idem, 2008) e Salve Geral (idem, 2009), filmes sobre violência, tema que pouco agrada os selecionadores. Seria um equívoco escolher novamente uma produção sem pensar qual teria mais chances de conquistar os integrantes da Academia. Dessa vez, a escolha unânime foi acertada, justamente pela consideração de todas essas variáveis. É por isso que eu acredito que temos totais condições de, enfim, voltar à noite do Oscar. Agora, é fazer campanha – e nisso já vimos que o Lula é bom. 

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