Roman Polanski talvez tenha como maior mérito a sua habilidade em conduzir thrillers. Desde a chamada “trilogia do apartamento”, composta por ‘Repulsa ao Sexo’(1965), ‘O Bebê de Rosemary’(1968) e ‘O inquilino’(1976) até o mais recente ‘O Escritor Fantasma’(2010), o que testemunhamos foram filmes extremamente perturbadores, tensos e com personagens marcantes analisados a fundo. Em 1988, o diretor entregou ‘Busca Frenética’, filme que contou com Harrison Ford como protagonista.
O Dr. Richard Walker (Harrison Ford) e a esposa Sondra (Betty Buckley) viajam à Paris para uma conferência de medicina. No hotel, enquanto o marido está no banho, Sondra desaparece misteriosamente. Em busca da mulher, Richard se envolve com Michelle (Emmanuelle Seigner) e se vê dentro de uma complexa trama internacional.
Só pela sinopse já é possível notar o tom Hitchcockiano do filme. Do enredo misterioso aos personagens comuns que se veem jogados em um mundo estranho e hostil, muitas são as características do cinema do mestre inglês no filme de Polanski. Outra “referência” à Hitchcock é o uso do MacGuffin (recurso narrativo popularizado por Hitchcock que consiste na utilização de um objeto que serve de motor para o desenrolar da história e muitas vezes perde sua importância no decorrer desta), no caso uma maleta.
A maneira como a história se desenvolve é magnífica. As informações vão aparecendo gradualmente para o personagem e espectador, e só depois de algum tempo o Dr. Richard se dá conta da complexidade da situação em que se encontra. Por boa parte do filme não sabemos o porquê do sumiço da Sra. Walker e nem quem está por trás disso; esse é um dos bons acertos do roteiro, que, infelizmente, tem algumas falhas, como a presença confusa dos agentes israelitas e a aparente impotência das autoridades para lidar com a situação, tornando-as ridículas.
A direção de Polanski é, mais uma vez, a grande atração: sua câmera é sempre bem encaixada e produz alguns momentos fantásticos, como a cena em que Richard está no chuveiro; o uso da trilha sonora de Ennio Morricone (por incrível que pareça totalmente anos 80) é perfeita; e o clímax final é magnífico. O diretor ainda faz com que o frenesi do título se faça presente do início ao fim, mesmo que o roteiro nem sempre ajude, como foi dito acima.
A atuação de Harrison Ford merece um destaque especial. Graças ao trabalho do ator, todo o desespero e raiva do Dr. Walker se transparecem no semblante do personagem, o que faz dessa a melhor atuação de sua carreira. Emmanuelle Seigner em começo de carreira está bem incorporada à pele de Michelle, que conduz o personagem de Ford por toda a história com uma dose de sensualidade contrastante com a situação – isso fica bem claro na cena em que os dois dançam. Aliás, essa tensão sexual que se estabelece entre os personagens é um dos pontos altos do filme.
Enfim, ‘Busca Frenética’ é mais um grande thriller de Roman Polanski, que desta vez carregou sobre os ombros um dos maiores cineastas de todos os tempos, Alfred Hitchcock, e fez jus aos grandes filmes do mestre.
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