(Texto originalmente publicado no blog Domicilio Cinematográfico: http://domiciliocinematografico.blogspot.com.br/2016/12/critica-medo-e-delirio-1998.html)
A busca dos sentido de algo irracional.
O cinema de Terry Gilliam pertence a um lugar muito longe do que se pode ser dito como normal. Sua ótica distorce todos os ideais de civilidade, sempre com uma narrativa que se constitui de personagens dos mais perversos. E em sua filmografia, o maior exemplo disso é "Medo e Delírio" (Fear and Loathing in Las Vegas, 1998), onde seguimos a trajetória de Raoul Duke (Johnny Depp), um jornalista, que junto com seu advogado, Dr. Gonzo (Benicio Del Toro), partem para Las Vegas para cobrir uma corrida de motos no deserto. Porém, eles almejam algo maior: O Sonho Americano, que a cada fotograma, seus sentidos são mudados, até um ponto onde ele revela-se ser algo nada menos que quimérico.
É necessário ressaltar que Duke e Gonzo são entorpecidos por drogas em sua jornada, propagando diversas cacofonias audiovisuais que fazem com que nós, espectadores, conseguirmos sentir todo o delírio que eles apresentam em sua busca pelo sonho americano, fazendo com que entremos na viagem psicodélica e perversa que sofre de uma transposição de sentidos em um tempo e espaço conturbado pelos excêntricos devaneios dos personagens centrais da trama apresentam.
Junto com Gilliam, Depp e Del Toro fazem um excepcional trabalho em captar toda a loucura que rodeia a busca do irracional, mostrando que tudo que está passando em tela não se trata de apenas um espalhafatoso e psicodélico entretenimento que se baseia no estapafúrdio, e sim de um compêndio sobre como a personalidade e atos de alguém são afetados pela inevitável procura pela sanidade ordinária, que dependendo das condições da mente e corpo de cada um, essa procura se torna insana e marcada pela falta de razão, que corrompe a composição do que seria correto na civilidade.
E é ao som de "Jumpin' Jack Flash" , da famigerada banda de rock inglesa The Rolling Stones que encerrasse toda a epopeia de entorpecidos por drogas na incessante procura do irracional, mas tudo no auge da mise-en-scene absolutamente lunática de Terry Gilliam, que modifica todos os conceitos de um road movie ao incrementar características de um stoner movie , fazendo com que alguns encarem a obra como algo sem nexo, porém, é exatamente essa falta de nexo que faz com olhemos de forma mais profunda o significado do filme, descobrindo a cada momento novos sentidos que são apresentados de forma sigilosa e critica, mas sempre preservando todos os sentimentos e razões que o subtitulo do romance de Hunter S. Thompson (cujo o filme se baseia) expõe: Uma Jornada Selvagem ao Coração do Sonho Americano
Seu comentário me fez querer assistir ao filme. E como está disponível no Netflix é já que vou vê-lo.
Abraços
Bacana ter se interessado pelo filme, acho ele uma obra-prima, pena que muitos acabam não gostando pelo excesso de excentricidade que o cinema de Gilliam possui. Pretendo fazer mais comentários de obras desse estilo.
Um grande abraço