Jarmusch é um diretor conhecido por priorizar em suas obras a falta de ação. Não que o filme não a tenha. Mas a atenção dada pelo diretor aos momentos da trama onde o nada(e entenda como nada as situações que não entregam nenhuma relevância aparente à trama) acontece se faz perceptível em toda sua filmografia. Seja em Only Lovers Left Alive(sua mais recente obra) onde os seus personagens devem lidar com o vazio de seu eterno existencialismo, seja em Dead Man onde nosso protagonista deve combater o "tempo morto" que afligia o western, se mostrando como seu fantasma e perseguidor. Mas é aqui que o Jarmusch atinge o seu ápice(ao menos no meu ver), ressaltando o valor da viajem em contraponto ao seu destino final/objetivo.
Neste filme, onde nos deparamos com um protagonista sem nome e qual o único objetivo é alcançar a tarefa pela qual foi paga: Matar um homem. E o nosso protagonista trilha seu caminho sem transparecer um som sequer, que não se expressa por palavras, mas por pequenos gestos. Que valoriza seu ofício como um ritual, onde nenhuma peça deve passar por despercebida na execução da mesma(basta reparar na cena dos dois expressos).
E como é de se esperar de uma obra do Jarmusch, essas representações emolduradas de seus personagens(acredito serem os mais icônicos e talvez "caricatos" já elaborados pelo cineasta) não buscam nenhuma simbologia específica senão criar uma personalidade própria de cada personagem, onde o espectador possa "catalogar" cada qual a sua aparência e discurso.
Falar deste filme sem mencionar a excelente fotografia do filme, sempre contrastando as cores fortes trazidas pelos seus personagens junto aos mais diversos ambientes, passando por edificações modernas, trens e cenários desérticos em conjunto com a musicalidade(característica esta uma das mais marcantes não nesta mas em grande parte das obras do diretor) inserindo o espectador num estado de transe.
E não haveria palavra mais perfeita para definir este filme: Transe. E este é, ao meu ver, o objetivo do Jarmusch com este filme. Nos lançar no seu universo de transe enquanto acompanhamos homens de paletó azulado adentram seus mini universos repletos de cores e de som. Onde não existe melhor lugar no mundo do que uma cafeteria para se trocar informações(da forma mais estilosa que você possa imaginar). Um lugar onde o preço da informação é tão alto que a mesma chega a ser digerida(literalmente) pelo seu receptor. Um lugar onde permanecemos numa roda interminável de digressões imerges na inércia, não por opção ou falta desta, mas simplesmente porque é o caminho mais proveitoso que se possa ter.
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