Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Egotrip.

4,0
A ideia de unir o diretor Abel Ferrara com seus amigos e compositores de trilhas de filmes emblemáticos de sua carreira como O Assassino da Furadeira, Vício Frenético e O Rei de Nova York para uma pequena turnê parece ótima. Tocar as canções desses filmes ao vivo para o público francês enquanto uma retrospectiva de Ferrara acontece paralelamente parece a cereja do bolo. Como uma espécie de diário de turnê de Ferrara somente, o filme ganha contornos estranhíssimos a partir deste ponto.

É justificável que a figura de Ferrara mereça a centralização e o poder da imagem, pois ela viabiliza o filme. Por outro lado é questionável como todos os personagens aqui estão à margem em cada plano, com raras chances da palavra, ainda que o filme lute sempre com a ideia de que se trata de um filme “com Abel Ferrara”. Nos bate-papos nostálgicos o filme tem seu único ponto de força real, pois parece que o grupo possui uma química, ainda no início do filme. 

Pois logo começa a produção dos shows a figura de Ferrara ganha novos entornos. A persona do diretor aparece refletida em ordens, péssimo humor e a fixação com a perfeição com funcionários das casas de shows por onde o grupo passa. Sua esposa também é uma representação muito torta, já que divide a figura de mãe cuidadosa e sex symbol e somente nesta última ganha a alcunha de “minha mulher” com certo orgulho por parte de Ferrara. 

Na retrospectiva, o diretor parece desinteressado, ainda que cartazes e banners sejam exibidos com frequência. Interessa mais a Ferrara a falsa noção de existência posta em monólogos, sem alguma força. Mais uma constatação que um desejo. E quando está para debater seus filmes, surpreendentemente Ferrara afirma o desejo de fazer filmes diferentes, e que seus filmes “americanos” não lhe dizem nada. Vale a lembrança de que Ferrara está lá para tocar trilhas justamente destes filmes. Para entrevistas o humor é ainda menor. 

Conforme essa simbiose entre dois Ferraras é exibida, mais forte fica a ideia que Ao Vivo na França foi um projeto que saiu pela culatra, com ações pouco condizentes com as palavras ditas e que refletem na câmera. Pois a tentativa de manter um filme frenético e guiado pelo bom humor é nítida, mas sem qualquer incentivo e boa vontade por parte de seu protagonista/diretor. 

Visto no Festival do Rio 2017

Comentários (0)

Faça login para comentar.