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Bixa Travesty

(Bixa Travesty, 2018)
7,5
Média
12 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Metralhadora apontada

7,0
Se alguém duvidava do poder supersônico de Linn da Quebrada enquanto fenômeno de comunicação, Cláudia Priscilla e Kiko Goifman dão um registro definitivo do contrário com o premiado Bixa Travesty, documentário que encerrou a competição do Festival de Brasília. Linn vem varrendo o mundo desde sua passagem por Berlim, de onde saiu com o Teddy de melhor documentário. Sem meias palavras, é realmente um filme incendiário ao tocar em certas questões, provocar reflexões e acenar para um certo público-alvo (ainda que o filme seja necessário para cada membro da sociedade), que responderá a ele com inegável catarse, tendo em vista a sessão-evento no Festival, que rendeu sem qualquer surpresa o prêmio do júri popular.
Se vendendo como artista marginal, Linn é múltipla. Cantora, compositora, performer, artista multimídia e multi plataforma, seu grito raivoso é uma arma a ser utilizada pelas mulheres, trans ou não, porque revela o quanto de união figuras periféricas e perseguidas precisam do coletivo. Sendo negra, nascida e criada em uma favela, assumindo pra si um lado não-binário e altamente provocativo e tendo sua transexualidade escancarada para o mundo, ela é uma mola propulsora de atos, palavras e agente de genuíno congraçamento, vide sua relação tão única e verdadeira com Jup do Bairro, a outra artista trans que junto a ela arrasta multidões a seus espetáculos repletos de camadas. Juntas, elas se potencializam e se encandescem, uma força poderosa que a arte como um todo precisava ter acesso, para que tratadas fossem da maneira justa, como a bomba magnética que são.
O filme tenta dividir o protagonismo, mas Linn tem destaque óbvio e sai na frente, se expondo muito mais e de maneira proposital pelos diretores. Sua mãe, suas amizades, suas alegrias e suas dores são rasgadas na frente das câmeras, mostrando tanto o que sabíamos como também o que só os mais íntimos tinham acesso. O filme acaba absorvendo a personalidade de sua retratada e vibra muito pro alto, provocando um certo afastamento por alguns pela sua estridência. Mas abrir mão disso é abrir mão da essência de Linn, uma artista de composição completa. O filme tem uma montagem bacana de, onde eles aproveitam pra equalizar as sequências de shows com a dita realidade da protagonista, em sua casa, em seu canto, fazendo suas coisas, e dando camadas imagéticas a alguém que não as teme.
O que rasura 'Bixa Travesty' é seu excesso de controle. Linn e Jup são duas mulheres de opiniões de impacto, que não se protegem, estão sempre em queda livre na direção do ataque, e o filme as encerra entre quatro paredes. Uma mulher tão exposta por escolha própria deveria ter sido levada ao confronto, era esse o lugar onde o filme deveria ter almejado. Seu discurso titânico deveria ter sido colocado em debate através de embates; a personagem merecia essas cenas, de explosão do ídolo e da construção de um ambiente confortável para todos os envolvidos. Assim sendo, a força motriz do filme tá intacta (a cena de Linn e Jup na sauna é uma das provas do material ainda mais explosivo e afetuoso que poderia ter sido), Linn é uma força da natureza, mas um longa que a consagra deveria ter nele a gênese do confronto livre; isso parece ter ficado no discurso de suas heroínas, mas que Cláudia e Kiko acharam ser suficiente. Pois bem, poderia ter sido mais condizente com elas.
Filme visto no Festival de Cinema de Brasília

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