6,0
Bom Comportamento abre com um plano de helicóptero da cidade de Nova Iorque. Uma longa sequência de tensão para os créditos após uma brincadeira entre dispositivos e gênero. Parece a primeira de muitas quebras no cinema de Ben e Josh Safdie que o filme oferecerá fora o maior alcance que o filme terá pela figura de Robert Pattinson como protagonista. Porém, não demora muito para que a linguagem típica dos diretores esteja impregnada em cada plano.
O filme se resume a um fio narrativo – uma história de fuga – com meandros que dialogam com o caos da cidade e que Ben e Josh Safdie julgam coniventes mais uma vez com seus macetes cinematográficos: o close e a textura. Parece uma busca mais discreta de um sentido ao qual referências modernas do gênero como Tony Scott ou Abel Ferrara já chegaram usando outros caminhos. Bom Comportamento se resume à tensão fantasma. Logo, é também um filme fantasma. Uma espécie de farsa, um filme de ação que inexiste, um jogo implícito da imagem e seu conteúdo jogado incessantemente ao espectador. Uma cidade que oferece apenas presas e caminhos tortuosos.
Logo, outra jogada: uma cena de perseguição. O helicóptero está de volta e seu retorno é questionável. É um filme de closes, por que esta discrepância sem uma justificativa? Assim como o lusco-fusco serve como parâmetro narrativo – dia e noite têm poderes distintos no filme -, estas quebras lutam contra uma espécie de moralismo dialético, sem permitir paisagens e elementos externos, não como variação de um método, mas como uma provável forma de amplificar o horror oral, a força da palavra em situações em que corpo e espaço são delimitados pela força do acaso.
E desta forma Ben e Josh Safdie exaurem forma, mise en scène e narrativa; há pouco a se mostrar e falar. O que é dito e feito logo no início e o que virá a seguir é mera redundância, ainda que seja notório o esforço de uma mudança de discurso em cada sequência – mas o mundo alusivo e sufocante é o mesmo. A partir que do momento em que a trama se justifica, logo nos primeiros minutos, o que se vê é mera repetição.
São reflexos atraentes, com algumas exceções aos espaços – a sequência do parque de diversões, por exemplo – e que dialogam com a monotonia da rotina sufocante de uma metrópole. Sobram dúvidas sobre as reais intenções de Ben e Josh neste diálogo entre personagens e cidade, mas a certeza é que a repetição é o grande norte do filme, um embate entre tradição e gênero que é minimamente curioso, ainda que nem sempre seja funcional.
Visto no Festival do Rio 2017
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