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Críticas

Cineplayers

Com longos plano-sequências e escassez narrativa, Ming Ling instala em seu filme um outro tempo para a ação no cinema.

8,0

Um experimento de decupação do tempo e do movimento no cinema – talvez essa seja a forma mais simples de tentar adentrar no último filme de Tsai Ming Liang. O diretor traz à tela novamente a figura do “walker” (andarilho) vivido por Lee Kang-sheng em vários dos seus últimos trabalhos. Dessa vez, o monge andarilho movimenta-se lentamente pelas ruas de Marseille na França. A câmera quase fixa acompanha o vagaroso deslocamento do personagem e a reação das pessoas ao redor, que oscilam entre nem perceber a presença da figura e dos seus microgestos ao incômodo/incompreensão com a performance e o seu registro.

Alternadamente, o filme mostra planos fixos do personagem vivido por Denis Lavant, que aparece a princípio deitado quase imóvel mostrando sinais de grande exaustão. Assim, a quase uma hora de filme é composta por poucos e longos plano-sequências em que somos confrontados ou com a frontalidade do cansaço de um homem ou com o lento deslocamento do outro. O que Ming Ling instala em seu filme com esse procedimento é um outro tempo para a ação no cinema – em processo similar ao seu andarilho que impõe um outro tempo de deslocamento na cidade em relação aos transeuntes normais.

Nesse processo de espelhamento, o espectador ocupa o lugar de incômodo e de incompreensão que ocupam as pessoas que passam pelo monge. Quando o movimento é prolongado ao ponto de quase se tornar anulado pela extensão do tempo, o que cabe ao olhar? O que resta para se ver? Se aos transeuntes ainda há a opção do seguir sem ver (ignorar o monge e a câmera que registra), o espectador do cinema está obrigatoriamente implicando a permanecer no que vai se tornando cada vez mais um jogo – a medida em que o plano se abre e a figura do monge perde-se no ambiente urbano. As últimas sequências parecem propor justamente esse desafio: em meio a tudo o que se movimenta agilmente, como encontrar o movimento quase imperceptível?

Se o cinema, junto com sua matriz fotográfica, nasce em parte do desejo de parar/explicar/decupar o movimento transformando estes em sequência de imagens no tempo (basta lembrar dos experimentos de Muybridge), o que Jornada ao Oeste nos propõe com sua escassez narrativa é um exercício de volta às origens e ao essencial. 

Visto durante o Festival do Rio 2014

Comentários (2)

Davi de Almeida Rezende | quinta-feira, 28 de Abril de 2016 - 02:04

Rsrsrs que esforço pra tentar justificar um filme sem noção e besta.

Felipe Ishac | quinta-feira, 28 de Abril de 2016 - 10:34

que esforço para tentar desmerecer o trabalho dos outros, davi. rsrsrsrs

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