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Críticas

Cineplayers

A fase adulta.

7,0
Em um apartamento da zona sul do Rio de Janeiro, Domingos Oliveira reúne oito atores consagrados – todos globais, com exceção de Wagner Moura – para uma tarde de conversas sobre a profissão que exercem. À priori parece mais uma pausa nos filmes de revisita e nostalgia da vida do próprio Domingos, iniciada em Infância e sacramentada em BR716, mas há em Os 8 Magníficos lacunas suficientes para pensar que este também é um filme sobre o diretor.

Enquanto Sophie Charlotte, Carolina Dieckmann, Maria Ribeiro, Alexandre Nero, Eduardo Moscovis, Fernanda Torres e Mateus Solano se juntam a Wagner para os diagnósticos sobre o cotidiano dos atores, lá estão algumas colunas para a possibilidade do cinema de Domingos. E aqui elas não estão em close ou no extra-tela como geralmente estão, elas são figuras reconhecíveis, mas raramente com a atenção devida – as maiores representações são as presenças de Matheus Souza, pupilo e assistente de Domingos e Priscilla Rosenbaum, atriz, esposa e protagonista de boa parte dos filmes de Domingos na era do cinema digital. 

Os 8 Magníficos não é um exercício inédito para o cinema, porém é inédito para o pensamento do diretor; é a maneira frontal de colocar seus dilemas à câmera e ainda usando atores. Eles estão livres por boa parte do tempo, conversam sobre suas experiências, brincam, confessam, mas é notório como o caminho que Domingos sugere é de um norte existencialista, amplificado por textos ou anotações. Pode ser uma espécie de registro de uma preparação para o nada – tantos outros filmes fizeram um evento como o ponto referencial para seu crescendo, já Domingos usa o tempo. A tarde terá um fim. Assim como a vida. E a constatação é feita pelas bordas, com um letreiro que exige a felicidade dos atores e do público. É a confirmação: Domingos fala sobre si. 

Este é o filme sobre a fase adulta do diretor. É a fase de quem redescobriu as possibilidades do cinema, usou o mal gosto muitas vezes como resolução – e ainda usa, aqui diversas vezes são inseridos momentos de grande incômodo – e reassumiu a necessidade da palavra, da exposição, assim como estes atores. Eles se submeteram à exposição, resolveram mostrar seus desejos, anseios, vícios, inseguranças, ainda que a suspeita de releitura dos filmes de Woody Allen emulando Bergman seja pulsante.

Não é um adeus, mas a necessidade de passar a limpo mais um trecho da vida está clara. E esta é a parte profissional. A parte de quem sempre esteve pronto para a troca e entrega e resume da maneira mais simples possível. Um palco, câmeras, atores, as pessoas próximas e o diretor. Ele, Domingos Oliveira.

Visto no Festival do Rio 2017

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