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Críticas

Cineplayers

Stephen Daldry desiste de dirigir e passa a administrar um negócio: assinar produtos medíocres.

2,0

É impressionante o nível em que Stephen Daldry chegou. O cara tem um feito impressionante, seus quatro filmes anteriores todos foram indicados ao Oscar (Billy Elliot, As Horas, O Leitor e Tão Forte e Tão Perto). Por conta dessa média impressionante, obviamente que seu novo projeto, fosse ele qual fosse, estaria na marca do pênalti para repetir o feito e continuar a jornada do britânico. Aqui do nosso distante país, a torcida imagina-se ainda mais ruidosa por conta de termos sido palco das filmagens, com nossos atores na ponta do elenco, sendo falado em português e com uma realidade tão colada com a gente. Baseado num best-seller local, Daldry morou por mais de dois anos no Rio de Janeiro escolhendo locações, elenco, e estudando nossa geografia para fazer seu trabalho; tudo à toa.

Ao longo de sua curta, porém estrelada filmografia, Daldry foi perdendo as sutilezas como cineasta, passando do talento demonstrado há 15 anos atrás, vendo sua mise-en-scène minguar, cada vez mais exposta e óbvia. Mas nada nos preparava para esse Trash, a começar pelo projeto em si. Entendo o interesse do Brasil pela realização do filme, mas não consigo entender o interesse de Daldry de fazer um pastiche de produtos que Danny Boyle já tinha mostrado ao mundo, numa mistura de Caiu do Céu com o premiadíssimo Quem quer ser um Milionário?. No fim das contas é bem isso, crianças da classe mais baixa da sociedade em busca de um tesouro perdido; aqui, os três amigos Rafael, Garbo e Rato, que juntam um suado dinheirinho catando lixo. Ao achar uma carteira perdida, os três sabem que estão com algo muito valioso assim que a polícia oferece uma bolada por ela. Mas eles não revelam da posse do objeto, e vão enfrentar policiais corruptos e muitos perigos em busca de desvendar o mistério por trás dessa caçada.

Os problemas são quase todos. Além dos clichês já vistos nos filmes citados no parágrafo anterior, ainda temos o nosso próprio cinema "retratado" através de Cidade de Deus. Sem qualquer originalidade, vemos tudo sendo repetido e cuspido de volta na nossa direção. A mesma fotografia, a mesma montagem, a mesma trilha sonora; já vimos esse filme antes, com roteiros infinitamente superiores. O filme gira em torno da procura por uma carta escrita pelo personagem de Wagner Moura e que só lá pelas tantas é finalmente lida, infelizmente. Infelizmente porque a tal carta é um compendio dos maiores chavões já ditos sobre o Brasil e seu povo. Coisas do tipo "o Brasil vai dar certo", "nossa esperança são as crianças", "o povo vai salvar esse país", e similares são ditos pelo coitado do Wagner. Um texto paupérrimo e vergonhoso de tão clichê.

Outro clichê é a atuação de Selton Mello, como o líder dos policiais corruptos, sempre no tom Selton Mello de ser, que não cabe em nada com seu personagem aqui. "Perdidos da Silva" estão Martim Sheen e Rooney Mara, garantindo a entrada da grana gringa no projeto, e nada mais. Vale ressaltar ao menos o trio de meninos escolhido em comunidades cariocas, muito bons e naturais; a direção de arte também é boa.

Mas tudo empalidece diante do quadro geral, de uma mediocridade sem fim. Na verdade, Trash é muito mais um produto que um filme, um filme de produtor com intenções bem duvidosas e preocupado apenas em faturar uns trocados nos países latinos e concorrer a prêmios, sendo que a mesmice generalizada irá impedir se os deuses do cinema permitirem.

Comentários (6)

Jonas | quarta-feira, 15 de Outubro de 2014 - 23:56

No meio de tanto lixo sendo exibido, achei esse filme bem agradável! Curti muito!

Caio Henrique | quinta-feira, 16 de Outubro de 2014 - 08:59

Da outra vez deram a desculpa que as "críticas fast-food" se justificavam por conta da cobertura do Festival do Rio 2014. E agora?

Paula Lucatelli | quinta-feira, 16 de Outubro de 2014 - 11:10

Da outra vez deram a desculpa que as "críticas fast-food" se justificavam por conta da cobertura do Festival do Rio 2014. E agora? (2)

Tenho certeza que todos nós sentimos falta das críticas bem boladas e detalhistas do "antigo CP".

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