Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Sobre a (im)possibilidade do ver e do ser visto.

8,0

Perguntado sobre a origem do título do seu filme (que não faz nenhuma referência direta aos personagens ou acontecimentos da história) o diretor Bas Devos aponta três linhas de pensamento que se aproximam da narrativa de formas diferentes. A primeira, e menos interessante, seria a proximidade sonora e ortográfica da palavra “violeta” com “violenta” - destacando o caráter mais brutal da história do filme. Em segundo lugar, ele explica que Violet é o nome de uma música da banda Deafheaven – música ouvida pelo protagonista Jesse durante um show no filme. E, por último, o diretor lembra que a cor violeta é a última do espectro de cores – ou seja, ela marca o limite máximo do que pode e do que não pode ser visto (o ultravioleta) pelo olhar humano. Essa terceira explicação acerta o filme com precisão, pois Violeta é um filme acima de tudo sobre a (im)possibilidade do ver e do ser visto.

Os primeiros planos de Violeta mostram o adolescente Jonas sendo assassinado por dois rapazes dentro de uma galeria de lojas. Jesse testemunha a violência contra o amigo sem esboçar nenhuma reação. Assistimos ao crime a distância pelos monitores do circuito de segurança do prédio. Apenas após o ocorrido, saímos das telas filmadas para nos aproximarmos diretamente de Jesse. É o cotidiano desse adolescente após o acontecimento que o filme passa a acompanhar mostrando a forma como os amigos, a sua família e a família de Jonas vão absorvendo (ou sendo absorvidos) pelo interrompimento brutal e inesperado da vida do jovem.

Entramos assim na banalidade de um subúrbio na Bélgica, um ambiente de aparência aprazível, em que tudo parece ordenado e controlado: as casas parecidas com gramados bem cuidados, as ruas vazias em que apenas os adolescentes e suas bicicletas vagam eventualmente, o mundo dos circuitos e pistas de bicicross (esporte praticado por Jesse, Jonas e o seu grupo de amigos). A ausência de Jonas não é o suficiente para fazer com a rotina seja interrompida. Mas se tudo permanece superficialmente igual, as fissuras nas relações vão surgindo aos poucos.

O filme bastante escasso em diálogos privilegia os gestos e os olhares entre os personagens. A câmera mantém distância e frieza com as pessoas. Ainda que, esteticamente não estejamos no regime da câmera de vigilância dos planos iniciais, continuamos a acompanhar Jesse com os mesmo olhar de quem vigia, analisa, julga. É dessa sensação de ser constantemente acompanhado pelos olhares do amigos e do pai que o protagonista fala em uma das raras cenas em que se expressa verbalmente sobre o ocorrido. Por mais que se force o olhar, há algo que não pode ser visto/filmado para além do violeta é o que o filme de Devos nos lembra constantemente.

Visto no Festival do Rio 2014

Comentários (0)

Faça login para comentar.