Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Apesar de prender a atenção do espectador, é um trabalho medíocre e de roteiro risível.

5,0

É sempre uma pena ver grandes atores em produções medíocres e papéis que não fazem jus aos seus talentos. Infelizmente, esta é uma prática que, salvo raras exceções, tem se tornado cada vez mais freqüente, vide escolhas recentes de Robert De Niro (As Aventuras de Alceu e Dentinho, Showtime), Jack Nicholson (Tratamento de Choque) e Al Pacino (O Novato, S1m0ne). Este último, aliás, segue seu flerte com a mediocridade neste 88 Minutos.

Pacino interpreta Jack Gramm, um profissional especializado em psiquiatria forense responsável pela condenação de Jon Forster, criminoso prestes a sofrer pena de morte. No dia da execução do presidiário, Gramm recebe uma ligação dizendo que ele tem apenas 88 minutos de vida. Desconfiando de todos ao seu redor, o doutor deve correr contra o tempo para descobrir a identidade e os motivos de seu assassino.

Lançado diretamente em vídeo/DVD e dirigido por Jon Avnet (Tomates Verdes Fritos e Justiça Vermelha), 88 Minutos é mais um filme que se aproveita do conceito de tempo real, no qual as ações vistas na tela transcorrem no mesmo período de tempo do filme. Tal abordagem já foi usada diversas vezes, como em Festim Diabólico, Por um Fio, 16 Quadras e na série 24 Horas. Ao contrário destas produções, que se valiam deste artifício para construir um clima de tensão eficiente, 88 Minutos jamais envolve de forma completa o espectador, tornando-se mais um suspense comum e repleto de problemas.

Na realidade, o roteiro escrito por Gary Scott Johnson (cuja melhor referência é Velozes e Furiosos, um filme divertido, mas que, convenhamos, não tem no argumento sua maior força) não consegue nem aproveitar a idéia de tempo real de forma inteligente. Certos acontecimentos parecem tomar lugar sem a menor lembrança desta abordagem, como o fato de um dos personagens, prender, interrogar e conseguir um mandado para invadir a casa de um suspeito, tudo em, no máximo, cinco minutos. E o pior: sem o menor motivo.

Mas não é só aí, porém, que o roteiro força demais a barra. As ameaças, por exemplo, exigem demais da boa vontade do espectador. Uma das formas do assassino torturar psicologicamente Jack Gramm é deixar avisos de quanto tempo ele ainda tem de vida. Em certo momento, por exemplo, Gramm encontra escrito “72 minutos” no seu carro. E aí vêm as perguntas: e se ele perdesse um minuto amarrando o sapato? E se dois minutos do caminho até o carro fossem pra paquerar uma das alunas?

Além disso, as ligações “ameaçadoras” são patéticas. As constantes lembranças do assassino para o doutor chegam a ser risíveis e a cara de Al Pacino ao ouvi-las parece dizer a mesma coisa. Fiquei esperando o ator cair em uma gargalhada. Aliás, por que os 88 minutos? Se a intenção era matar o doutor, que o fizessem logo. Tirando o fato de que sem isso o filme não existiria, o tempo de vida estipulado para o doutor parece mais uma desculpa para a utilização de um dos maiores clichês do suspense: o vilão não matar o mocinho quando tem a chance. E, claro, o final é patético, com uma justificativa implausível e sem lógica, não sobrevivendo a uma análise em retrospecto.

Nem tudo, porém, são defeitos. A direção de Jon Avnet, ainda que óbvia em cenas pontuais, é eficiente no construção do clima de mistério e o espectador é carregado até o final na paranóia de Jack Gramm. Claro que quem mais colabora para isso é Al Pacino. Mesmo atuando de maneira preguiçosa em um filme desnecessário à sua carreira, Pacino traz seu carisma e magnetismo ao personagem. É sempre um prazer assisti-lo.

Grann, aliás, poderia ter sido melhor explorado pelo roteiro. Há pequenos avisos de que se tornará um personagem interessante, com traumas de passado e personalidade única. Pena que Johnson e Avnet deixem de lado essa preocupação para perderem tempo desenvolvendo a trama repleta de problemas.

88 Minutos não é um filme desastroso ou uma vergonha à carreira de Pacino e dos outros envolvidos. É fácil de acompanhar e consegue prender a atenção até o fim, mas não se sustenta quando o espectador mais disposto pesa seus prós e contras. Não merecia mesmo um lançamento no cinema. Aguarde, em breve, em um Supercine da vida.

Comentários (0)

Faça login para comentar.