Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Uma comédia que remete os anos de ouro do cinema, com personagens que se encaixariam perfeitamente em um musical.

7,5

É muito fácil falar sobre Abaixo o Amor. Ele é um filme simples, de baixo orçamento e de muito bom gosto que, infelizmente, estreou em um período nada adequado, tendo que competir com vários blockbusters, o que levou o filme a fracassar nas bilheterias e logo cair no esquecimento em 2003. Esse ano está sendo muito difícil para que películas com orçamentos mais modestos chamem a atenção do público. 2003 está sendo, sem dúvida, o ano dos filmes blockbusters mundo afora. Matrix Reloaded, Matrix Revolutions, O Exterminador do Futuro 3 - A Rebelião das Máquinas, O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, Todo Poderoso, Kill Bill - Volume 1, X-men 2, O Último Samurai e muitíssimos mais estão ou irão, com certeza, abocanhar boas parcelas de público durante seus períodos respectivos de estréia, o que faz com que o desinteresse por outras produções aumente consideravelmente.

E a Fox não poderia ter escolhido uma data pior para a estréia de "Down With Love"... Uma situação verdadeiramente complicada para o diretor Peyton Reed, que fez um filme realmente muito bom, mas acabou por ver o mesmo batendo de frente do Matrix Reloaded, X-men 2, Todo Poderoso e Identidade em sua estréia nas bilheterias americanas na segunda semana de maio deste ano.

Mas vamos deixar um pouco de lado a situação Box-office do filme em si e tratar desta boa comédia que estreou no Brasil recentemente. "Down With Love" é o primeiro filme verdadeiramente bom do jovem diretor Peyton Reed, que até então só havia filmado o fraquíssimo Bring It On, de 2000. A princípio, a pergunta que fica é a seguinte: "Porque não gravaram esse filme como um musical?". Sim, o filme foi gravado como uma comédia qualquer, entretanto, você vai percebendo ao longo da projeção que se o mesmo fosse adaptado como musical, seria muito melhor aproveitado, mais profundo e aperfeiçoado.

E, acreditem, tudo indicava que o filme poderia ser um dos melhores musicais do ano (se você considerar que Chicago estreou em 2002, é claro). A ambientação e o clima são perfeitos. A direção de arte, o design da roupa e a trilha sonora contribuem também para que você fique ainda mais com aquele gosto na boca de "quero um musical". E para completar tudo isso, os dois atores principais do filme cantam e dançam uma seqüência musical que é mostrada durante a exibição dos créditos do filme ao final da película. Você que ainda não viu o filme deve estar pensando: "Oras, mas então é um musical!". Infelizmente digo que não. Mas que tinha potencial para ser um (e um muito bom!), isso tinha...

Para completar ainda tudo isso, temos no elenco dois atores que recentemente saíram de musicais soberbos, fantásticos: Ewan McGregor (de Moulin Rouge - Amor em Vermelho) e Renée Zellweger (de Chicago), sem dúvida dois grandes musicais desse início de século. Peculiaridades a parte, ambos os atores tem uma qualidade em comum: cantam tão bem quanto atuam. Mas claro que isso você já sabia.

Bem, falando um pouco sobre a trama do filme, o mesmo gira em torno de Bárbara Novak (Renée Zellweger) que acabara de chegar em Nova Iorque (dos anos 60), partindo do estado do Maine, após escrever seu livro "Down With Love". O livro instrui as mulheres a tratarem o "sexo" da mesma forma como os homens tratam. Ou seja, separando o "amor" do "sexo". Prega também que as mesmas tem o direito de terem relações sexuais casuais com quem bem desejarem entre outros pontos. Novak é, acima de tudo, uma feminista de carteirinha.

Catcher Block (Ewan McGregor) é um famoso e talentoso escritor de uma revista destinada ao público masculino de Nova York; e é dada a ele a missão de conhecer e entrevistar Bárbara Novak. Entretanto, é Novak que corre atrás do rapaz, que estraga todas as possibilidades de um possível encontro com a jovem escritora por cair na gandaia com comissárias de vôo que "eventualmente" apareciam em sua casa. Entretanto, logo o livro de Bárbara começa a fazer um sucesso absurdo até se tornar um dos livros mais vendidos no mundo. Então, Catcher se vê em uma situação desconfortável, correndo atrás da mulher que perdera a chance de entrevistar várias vezes e agora sendo rejeitado. A partir daí a trama começa a se desenvolver num ritmo muito bom.

O bom humor do filme está presente em todos os momentos. Uma coisa bem legal de ficar se observando também são os diferentes modelos de roupas utilizados por Renée Zellweger. Realmente algumas peças retratam toda a beleza dos anos 60 mas em contrapartida, outras revelam toda "cafonice" também. Mas observe, é uma experiência um tanto quanto engraçada.

A edição do filme realmente ficou muito boa para o que uma comédia como essa pode oferecer. Chamo atenção para a seqüência em que Bárbara e Block finalmente conseguem marcar um encontro a dois. Essa parte ficou realmente muito bonita. A escolha da música tema não poderia ter sido mais certa, "Fly Me To The Moon" (de Frank Sinatra), cantada em duas versões: uma mais light e suave na voz de uma talentosa cantora para Renée, e na própria voz de Sinatra para Ewan McGregor. As cenas em que os dois se arrumam para ir ao encontro se completam ao som da música, ora focando em Novak, ora em Block.

A direção de arte está realmente perfeita. Incrível mesmo, Nova York dos anos 60 está ali, na sua frente. Quem merece os créditos por tudo isso é Martin Whist, que também trabalhou no recente filme Por um Fio. Outro que merece muito destaque por essa parte técnica linda que o filme apresenta é o diretor de fotografia Jeff Cronenweth, que em sua carreira já possui excelentes trabalhos, além de Down With Love, como Seven - Os Sete Crimes Capitais, Retratos de Uma Obsessão e Clube da Luta.

As atuações de Ewan e Renée são ótimas, não tem nem o que muito palpitar sobre isso; os coadjuvantes Sarah Paulson e David Hyde Pierce (do seriado "Frasier" e da animação Planeta do Tesouro), que representam respectivamente os melhores amigos de Novak e Block no filme, proporcionam-nos boas risadas também e carregam o filme com um humor nada forçado, pelo contrário, espontâneo. A trama, apesar de um pouco previsível, ameaça pequenas ou pseudo-reviravoltas em seus minutos finais que irão deixar o público ainda mais atento aos detalhes em "Abaixo o Amor".

Apenas finalizando, não posso deixar de recomendar esse filme para você que gosta de uma boa comédia retro (e porque não de um musical também). É um filme de excelente bom gosto que vai agradar em cheio a uma platéia cansada de comédias pastelonas que andam surgindo no mercado. Um filme, acima de tudo, bonito. Assista antes que saia dos cinemas. Você não se arrependerá.

Comentários (0)

Faça login para comentar.