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Críticas

Cineplayers

Adrenalina continua divertido, mas é apenas uma sombra do anterior.

6,0

Em 2006 surgiu uma comédia de ação e humor negro que veio não para revolucionar o cenário em seu gênero, até porque seu lançamento foi muito modesto para tal, mas que trouxe um certo sentido de ar fresco e entretenimento que foi além dos tiroteios descerebrados e da direção burocrática a que o espectador moderno está acostumado a assistir. Adrenalina, obviamente, não foi universalmente bem aceito, mas acabou criando um pequeno grupo de admiradores que entenderam – e gostaram – de suas intenções de inovar e tentar fazer diferente. Neste grupo, está quem vos escreve. Sucesso comercial moderado, não foi surpresa quando a sequência foi anunciada, poucos anos depois.

Dirigido novamente pela dupla Mark Neveldine e Brian Taylor, de início já vale destacar que Adrenalina 2 - Alta Voltagem não tem metade daquele tal sentido de ar fresco e entretenimento do original. É tudo absolutamente mais burocrático, palavra injusta se fosse utilizada para o filme de 2006 em qualquer de seus setores, mas que aqui cai como uma luva. A história apresenta basicamente o mesmo argumento de antes: Chelios (Statham), agora com um coração artificial movido a bateria, deve correr atrás de seu coração de verdade, que foi roubado para ser implantado em um chefão da Triad. Ao mesmo tempo (e aqui está a justificativa para o termo “adrenalina” desta sequência) ele deve se preocupar em permanecer energizado, para o coração artificial não parar de bater. Novamente Chelios conta  com a ajuda de Doc Miles (Dwight Yoakam, um coadjuvante que continua interessante) no que se refere a dicas para continuar vivo, das formas mais bizarras possíveis.

Enquanto no filme original o ritmo do roteiro era incessante – tanto em ação quanto em humor – fica evidente o esforço, aqui mal-sucedido, dos diretores para tentar superar, ou pelo menos igualar aquele filme, e desse esforço surgem cenas que entram no terreno do gosto duvidoso, como toda a cena de sexo público envolvendo Chelios e sua mulher, Eve, em um hipódromo. Por falar em Eve, Amy Smart foi violentamente exposta nesse filme. Sabendo da beleza incontestável da atriz, os diretores-roteiristas simplesmente encaixaram o máximo número de cenas eróticas que fosse possível para sua personagem, mostrando a todo momento o volume do órgão sexual da moça sob roupas mínimas e, em determinado momento, sob apenas um quadro pixelado, como em um daqueles filmes pornográficos japoneses. Apesar de ser um delírio para o público masculino, tais inclusões são apelativas até o talo, e acabam tirando a atenção até mesmo da história principal. Se no primeiro Adrenalina Amy Smart era um objeto sexual inteligentemente utilizado, aqui essa inteligência deu lugar à vulgaridade extrema. Uma lástima, de certa forma.

A direção do filme, surpreendentemente, está mais moderada.  Não há o excesso de maneirismos na edição, que foi um dos grandes pontos positivos do primeiro filme – onde quase tudo que foi experimentado funcionou de forma muito eficiente; e os próprios planos de filmagem selecionados são mais naturais. Até mesmo o que era feio e que serviu para estimular o ritmo e a diversão agora é simplesmente feio e desinteressante; ou pelo menos menos interessante do que antes. O grande ponto positivo do primeiro filme foi seu perfeito timing em apresentar o humor negro, poucas vezes visto no cinema recente. Nesta sequência, os momentos inspirados podem ser contados nos dedos de uma só mão, embora o tom do filme continue sendo invariavelmente divertido. Por causa disso, Jason Stathan também parece mais contido, ainda que continue servindo perfeitamente para ao papel por causa seu estilo debochado.

Apesar da falta de capacidade em repetir a qualidade do roteiro de antes, Neveldine e Taylor continuam mostrando que têm boa capacidade para dirigir ação e comédia (mas seu último filme, Gamer, acabou se saindo muito mal criticamente e comercialmente). As cenas de tiroteio são certamente inspiradas (quando não repetitivas) e os vilões são interessantes, ainda que não passem de estereótipos do gênero. Há um certo exagero intencional no clímax do filme que soa deveras arrogante, quase uma necessidade de mostrar que a habilidade de ousar da dupla é excepcional. Infelizmente, pelo menos em Adrenalina 2, não é, é apenas um pouco acima da média.

É óbvio constatar que Adrenalina 2 é uma sequência absolutamente desnecessária, e repetir a felicidade do primeiro filme seria uma tarefa improvável. Isso resoou nos cinemas: as bilheterias foram muito baixas e o filme sequer chegou às telas grandes aqui no Brasil. Também o excesso de sexo (e apenas de sexo, pois a violência não é maior que antes) acabaria afastando boa parcela do público – este definitivamente não é um filme para os adolescentes assistirem ao lado de seus pais. Há um gancho para um terceiro filme (Crank 3D?), quase uma homenagem a Jason Voorhees, mas se este for produzido, a tendência natural é que seja mais um passo abaixo com relação ao anterior. Novamente vale pela diversão, mas agora Adrenalina pode ser colocado no mesmo balaio de tantos filmes do gênero ordinários lançados em sua década.

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