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Críticas

Cineplayers

Um super elenco perdido na terra de ninguém.

4,0

Dá pra entender a compra dos direitos da peça August: Osage County, um grande sucesso da Broadway vencedor de vários Tonys (o "Oscar do teatro") que obviamente renderia personagens ricos o suficiente para fazer a festa de premiações. Esse, porém, é apenas um dos problemas do filme Álbum de Família (August: Osage County, 2013): notar que essa adaptação cinematográfica foi produzida com o único intuito de concorrer e ganhar prêmios. Que motivo mais canhestro para produzir filmes, não? Me assusta ver George Clooney por trás do produto, um típico "Weinstein Brothers project", no pior sentido da expressão.

Possivelmente uma grande peça de teatro, foi chamado para comandar uma produção tão delicada simplesmente um "Zé Ninguém". John Wells é um bem sucedido produtor de TV, por trás de sucessos como West Wing, Third Watch e Plantão Médico. No cinema, arriscou-se como diretor pela primeira vez há 2 anos, com A Grande Virada (The Company Men, 2010), quando já tinha à sua disposição um elenco de primeira (Ben Affleck, Kevin Costner, Tommy Lee Jones, Maria Bello e Chris Cooper, ator este que retorna no novo filme), experiência que não rendeu absolutamente nada, nem bilheteria, nem elogios da crítica, nem indicação a nada. Aqui, ainda não temos certeza de prêmios (a não ser das tímidas aparições nos Globos de Ouro e no Critics Choice), mas uma certeza já temos: levem Wells para longe da carreira de diretor.

Se tem algo que é responsável por afundar esse Álbum, é especialmente sua direção nada inspirada, com nenhuma identidade visual, nenhum requinte, nenhum posicionamento de câmera em especial; nada. Imageticamente pobre, dá pena de ver como boas cenas (como o conflito no jantar) são levadas até o fim pela qualidade dos diálogos e pela força de seus intérpretes, pois, se dependesse de Wells, tudo seria um desastre - o que acaba acontecendo quando a cena pede apenas ação física, pois ele absolutamente não entende nada de montagem, ou escolher ângulos. Aliás, isso não é uma característica isolada dessa cena; todo o filme vai nessa batida: se algo físico vai acontecer, e o filme precisa abrir mão do talento de seus atores ou dos diálogos de Tracy Letts, pode acreditar que vem bomba aí.

Uma pena que Letts não soube ambientar sua própria peça na tela grande de maneira bem sucedida, ainda que ele já tivesse conseguido isso com o potente Possuídos (Bug, 2006), de William Friedkin. Os diálogos são excelentes, mas os personagens estão completamente estereotipados e as situações são pouco orgânicas. Aqui e ali as coisas ficam marcadas num ponto onde é fácil perceber a ausência de naturalidade, e o exército convocado para representar tais diálogos é de matar. Afinal, tecnicamente a obra não nos diz nada.

Então sobra a esse enorme grupo de talentosíssimos artistas colocar pra fora os ora divertidos, ora bem amargos diálogos que Letts concebeu. A família Weston, que precisa se reunir para o funeral de seu patriarca, é formada por mamãe Meryl Streep e suas filhas Julia Roberts, Julianne Nicholson e Juliette Lewis, seus genros Ewan McGregor e Dermot Mulroney, sua neta Abigail Breslin, sua irmã Margo Martindale, seu cunhado Chris Cooper e seu sobrinho Benedict Cumberbatch, além da empregada vivida por Misty Upham. Assim que Sam Shepard sai de cena, os dias que se seguirão naquele forno disfarçado de casa vai aumentando, e segredos, frustrações, inseguranças, amarguras e muita dor vão sendo despejadas, na mesa, no quintal, nos quartos, em frente à TV, em qualquer lugar. Que fique claro: todos os personagens estão encrustados em estereótipos, em maiores ou menores graus. A maior prejudicada é Juliette Lewis, que chafurdou no lugar comum. Quem não lembraremos que estavam em cena: Ewan, Dermot, Misty e Abigail, assim que sair do cinema. O resto todo brilha de forma muito intensa, variando e batendo uma bola sensacional cena a cena. Se Meryl e Julia foram as escolhidas para que esse elenco seja lembrado, menos mal; de um lado a considerada maior atriz americana hoje, do outro uma enorme estrela subestimada que só avança em talento, confiança cênica e inteligência dramática.

Tudo é sobre esse grupo de atores. Veja-os brilhar, e não esqueça que eles não foram ajudados por praticamente ninguém.

Comentários (25)

Guilherme Nervo | quinta-feira, 27 de Março de 2014 - 11:27

Essa crítica e essa nota subestimaram muito esse filme, que é literalmente um tapa na cara. Puxa o tapete, faz refletir, é visceral e poderoso. As atuações estão impecáveis, eu estudo atuação e posso dizer que elas estão muito afiadas. Quanto aos diálogos, são o segundo ponto mais forte do filme. Esses dois elementos são tão poderosos que a direção fica em segundo plano, não prejudicando tanto assim o filme como dizem. Aí já não é mais a minha área, então não posso criticar.

Destaque para a cena em que a filha Julia Roberts corre no campo atrás da mãe Meryl Streep, a cena é emocionante e a trilha sonora perfeita. Essa cena vai se repetir mais para o final, com Julia correndo atrás da irmã, que sai desesperada de carro.

Também achei genial como eles trataram o vegetarianismo, com bons argumentos e com deboche, típico de quem ignora essa forma de alimentação com vários princípios.

Não é um filme agradável, mas é um filme poderoso! Ótimo!

Daniel Oliveira | segunda-feira, 21 de Abril de 2014 - 01:48

A crítica foi boa, mas discordo da opinião. Particularmente gostei bastante da obra, me fez refletir e me emocionar em alguns momentos.

Escrevi uma crítica no meu blog pessoal, se quiserem conferir ;)
http://cinefiloemserie.blogspot.com.br/2014/04/critica-album-de-familia.html

Francisco Bandeira | segunda-feira, 21 de Abril de 2014 - 13:22

Eu não gostei muito desse filme graças a Streep e o roteirista. O over foi proposital? Sim, mas algumas vezes achei exagerada demais e realmente não consegui mesmo me prender a personagem. Eu gostei da Roberts que foi incrível... E do Chris Cooper, deu uma ótima atuação e teve uma construção melhor do personagem, o que torna aquele desfecho que deram ao seu personagem um erro. 🙁

Ricardo Nascimento Bello e Silva | segunda-feira, 21 de Abril de 2014 - 13:24

Eu me surpreendi com este filme. Gostei bastante do modo como tudo flui entre o drama e comédia, foras as atuações. A única coisa que afunda mesmo, é que depois da cena do jantar, o filme parece não saber mais para onder ir e vai se repetindo até o fim.

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