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Críticas

Cineplayers

Bom drama sobre a busca da felicidade que, aqui, nem sempre termina bem. Como na vida real.

6,5

Uma consulta rápida ao dicionário Luft e temos a seguinte definição de Felicidade: “1. Qualidade ou estado de feliz; ventura; contentamento. 2. Sucesso: êxito”. Ironicamente, este filme possui a palavra felicidade em seu título, embora não haja espaço algum para risos, muito menos para pessoas alegres. Os personagens são tristes, infelizes e vislumbram em um futuro distante a chance de encontrar a tão sonhada felicidade, o êxito. Como diz uma frase, grafada no cartaz do longa, Algo como a Felicidade é “de rasgar o coração”.

A produção explora a vida de um grupo de vizinhos de um subúrbio tcheco, afetados pelo processo de industrialização do local. Amigos de infância, cada um deles planeja algo diferente para sua vida: Monika deseja ir aos Estados Unidos para reencontrar seu noivo, que se mudou para o país à procura de dinheiro e sucesso; Tonik, por sua vez, saiu de casa, devido ao conservadorismo de sua família e foi morar com sua tia em uma fazenda, onde ajuda a manter a casa. Dasha é mãe de dois filhos pequenos. Com a piora de seu quadro clínico, ela é internada em um hospital psiquiátrico, e é Monika quem passa a cuidar das crianças. Mas ela não está sozinha. Tonik está apaixonado por ela, e decide ajudá-la na tarefa de cuidar dos meninos.   

Algo como a Felicidade é para fazer qualquer pessoa sair mal do cinema. Não espere de maneira alguma se deparar com algo parecido com felicidade. Estamos diante de um produto extremamente triste. Os personagens perseguem o sonho da vida ideal, ou ao menos, de uma vida que os complete. Todos desejam algo que o outro possui ou pode oferecer, como família, filhos, saúde e amor. Porém, nenhum deles admite isso, e no fundo são todos pessoas que se sentem inferiores umas as outras. 

Apesar da tristeza na maneira como a história é narrada, o filme aborda temas como o inevitável amadurecimento de seus personagens - após passarem por situações complicadas – e o amor, que está presente na vida de todos, mas de maneiras diferentes. O diretor Bohdan Slama dirigiu e escreveu esta história de amor (classificada como comédia) intensamente dramática. O amor está presente em pequenas ações, em atos, em sentimentos – sejam eles declarados ou subentendidos. Porém, o amor não é um mar de rosas, é também sofrido, e ao retratar isso o longa é competente até demais. Acabamos sofrendo também com a pequena jornada de cada personagem. Alguns proporcionam mais emoção do que outros, mas todos são de difícil digestão. 

É notável a competência do elenco escolhido, principalmente levando-se em conta a dificuldade na composição de personagens tão complexos, que estão constantemente se decepcionando, sendo expostos a sofrimentos de todos os tipos. Mas, quem surpreende e chama atenção pela veracidade e intensidade na interpretação de seus personagens, são as duas crianças. Elas são fantásticas e demonstram estar à vontade em cena. Essa sensação de que os dois estão à vontade não é à toa. Eles interpretam duas crianças que acabam sendo criadas por pessoas que não seus pais, o que para eles é normal, já que, na vida real, são irmãos e órfãos. O diretor ficou encantando com a duplinha, e acabou por adotá-los.

O que ajuda a conferir dramaticidade é a belíssima trilha sonora, responsabilidade do musicista Leonid Soybelman, que pontua algumas passagens do filme.  É uma pena que a trilha só seja executada, se não me falha a memória, quatro vezes no decorrer da projeção. Mas, talvez, ela seja tocada poucas vezes de propósito. Se fosse mais presente, Algo como a Felicidade seria muito depressivo.

A bonita cena final renderá interpretações diferentes: pode transmitir uma sensação de esperança ou de que nada irá mudar na sofrida vida daquelas pessoas. Acredito que tudo vai continuar sendo como sempre, vidas sofridas, desencontradas, e cheias de problemas. Mas não posso afirmar isso com toda certeza, pois a batalha pessoal de cada um, nunca termina. A premiada produção venceu, entre outros prêmios, sete Czech Lion – prêmio do cinema nacional da República Tcheca -, em 2005.

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