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Críticas

Cineplayers

A união de dois monstros da interpretação para retratar a difícil relação entre casais da meia idade poderia ter sido um pouco melhor.

6,0

De certa forma, pode-se dizer que Alguém Tem que Ceder é o American Pie da meia idade. Isso porque o filme utiliza praticamente as mesmas piadas que seu irmão mais velho, só que com muito mais inteligência e charme, e troca os casais novinhos que só querem saber de zona e sexo pelos já vividos Jack Nicholson e Diane Keaton, redescobrindo a vida através do amor. Apesar da premissa meio piegas, o filme diverte bastante em sua primeira metade, com piadas afiadas na medida certa, belos diálogos e interpretações bem inspiradas. Só que na segunda metade o filme procura resolver tudo bem explicadinho demais do que havia construído no ato anterior, resultando em uma quebra de ritmo, funcionando quase como um sonífero e se torna desnecessariamente longo demais.

Harry Sanborn (Jack Nicholson) é um rico dono de uma gravadora que adora sair com menininhas 30, 40 anos mais novas. Erica Barry (Diane Keaton) é uma famosa escritora de peças teatrais, sozinha e totalmente dedicada ao trabalho. Quando Harry começa a namorar a jovem Zoe, filha de Erica, começam também os conflitos e confusão da história. Não, o roteiro não cai, pelo menos nesse início, no clichê das famílias proibirem o amor. O filme segue outra linha, explorando as situações constrangedoras que uma relação desse tipo poderia causar, como por exemplo um divertido jantar em família. Óbvio que alguma coisa vai acontecer para que Harry comece a conviver com Erica, onde eles passam a se conhecer e algumas ótimas brincadeiras são discutidas no filme, como o fato de Harry nunca ter se apaixonado, muito menos se relacionado com uma mulher de sua idade ou então o fato de pessoas se relacionarem pela Internet.

Para completar a história temos Keanu Reeves, menos canastrão do que costume. Seu personagem, o doutor que cuida de Harry (chamado Julian Mercer), serve para balancear a relação por parte de Erica (já que Harry tem por complicação a relação com a jovem), mas sua função na história é forçada. Não que um jovem daqueles não possa dar em cima de uma cinqüentona, apenas acho que sua participação foi por demais forçada, talvez por cenas mal escritas, talvez pelo personagem ser 'perfeito' demais para a situação, ou talvez por ele simplesmente não ter força suficiente para que ameace a relação entre o casal principal. E já que estamos falando de atores, claro que não pode-se deixar passar comentários sobre a dupla de protagonistas, já que, para variar, Jack Nicholson está maravilhoso, com novas caretas, arriscando um papel de galinha mesmo com mais de 60 anos de idade, com novas cenas, fazendo nu traseiro em um certo momento! É um monstro e, por essas e por outras, além de sua filmografia invejável, que o acho o melhor ator do mundo. Diane foi indicada ao Oscar e ganhou alguns prêmios, também arriscando coisas novas. Também tem cena de nu, só que frontal! Mesmo que tenha sido por poucos segundos, é um recurso que geralmente atores consagrados não se dispõe a fazer.

As falhas do roteiro, depois de ter criado tanta coisa maravilhosa (como o argumento que uma mulher madura pode ser muito mais interessante que essas novinhas siliconadas por aí - o que é verdade), interferem no resultado final da obra. A comédia é simplesmente deixada de lado para se tornar um romance convencional e sem nada de novo - já que os atores nos deixam tão a vontade que o fato do filme ser baseado em uma relação madura não influencia em nada. Ainda que todos achem a personagem de Diane maravilhosa, isso simplesmente é dito no filme, mas nunca mostrado, o que fica um pouco ruim de se convencer (apesar de Diane ser maravilhosa e nunca ter feito plástica no rosto). Isso é apenas um exemplo para mostrar que há diversas falhas na construção dos personagens.

Foi engraçado ver que um filme de amor e comédia protagonizado por atores já consagrados pudesse causar tantas gargalhadas dentro do cinema (reforço o que disse antes: pelo menos na sua primeira metade). Foi um tremendo sucesso de bilheteria nos EUA, onde esperava-se justamente o contrário, já que o grande público que costuma freqüentar as salas de cinema geralmente são jovens onde esse não é o tipo de filme que possa ser direcionado a eles. Nancy Meyers (de Do Que as Mulheres Gostam?) volta a trabalhar o lado feminino nesse trabalho, e mesmo sendo feliz em alguns pontos, acabou por cometer velhos erros em outros, o que deixou a obra bem balanceada. Bem simpática, vai servir tanto para jovens quanto para adultos apaixonadinhos dentro do cinema.

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