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Críticas

Cineplayers

Quem nunca imaginou sua vida com trilha sonora?

9,0
"O que veio primeiro, a música ou o sofrimento?".

Assim somos apresentados a Rob Gordon (John Cusack), um sujeito frustrado com a vida, proprietário de uma loja de discos e que acabou de levar um pé da namorada, Laura (Iben Hjejle). Já de cara ele quebra a quarta parede, e conversa com a câmera. Desabafando sobre suas decepções amorosas, Rob mergulha em uma reflexão e relembra seus namoros passados através de um "top 5 piores términos", artifício que se repete várias vezes no filme, e uma das sacadas que contribuíram para o seu status cult. De início nos compadecemos de Rob, e qualquer um que já tenha passado pela mesma situação se vê na pele do personagem. Ele conversa o tempo todo com o espectador, o que nos aproxima ainda mais e nos torna quase íntimos do protagonista. Mas ao decorrer da história, vamos vendo o quanto o cara é egocêntrico, mimado, machista e esnobe. Mesmo assim, por mais detestável que seja a sua personalidade, também nota-se o quão humano ele é, e a identificação aparece mais uma vez: Quem nunca se comportou de maneira irracional e quase infantil em uma crise pós-término? O filme acerta a mão em fugir do tom maniqueísta que geralmente toma conta das comédias românticas, e isso é um dos fatores que o destaca neste nicho. Relacionamentos são complexos, nem sempre existe um culpado e uma vítima. Em um primeiro momento Rob pode parecer um coitado que foi injustiçado por sua ex, mas aos poucos vamos conhecendo mais de sua persona e vendo que ele não era o companheiro perfeito que aparentava, e o próprio assume isso ao recapitular os motivos que o fizeram ser deixado por Laura.

Apesar da maturidade com que o diretor Stephen Frears conduz a história, o clima é bastante leve e a dupla de vendedores Barry (Jack Black) e Dick (Todd Louiso) proporciona grande parte do alívio cômico do filme, com as discussões impagáveis sobre álbuns, listas e títulos de canções, em caricaturas perfeitas dos "bolhas" que frequentam esse meio, e debocham dos "leigos" que conhecem pouco de música.  Black tem papel de destaque aqui, em uma atuação que alavancou sua carreira. Difícil imaginar outro para o papel de Rob que não seja John Cusack. Sua postura sarcástica e expressão melancólica casam perfeitamente com a personalidade quase depressiva e passivo-agressiva do lojista.

A música, que inclusive, é o grande protagonista de Alta Fidelidade. O ambiente da loja de discos, as listas de top 5, as referências pop. Tudo gira em torno da obsessão de Rob com esse universo. Ele conheceu Laura enquanto discotecava em uma boate. Seu sofrimento pós-termino tem sempre uma música que serve de fundo para o momento. Enquanto tenta recuperar Laura de volta, Rob acaba conhecendo uma cantora. Pessoas que têm a música como parte essencial de sua vida, se identificam imediatamente com as personagens e essas situações e são atraídas por esta ambientação. Tudo isso acompanhado, obviamente, por uma trilha sonora incrível, recheada de canções muito bem escolhidas que vão de Love a Peter Frampton, de Velvet Underground a Stevie Wonder e de Stereolab a Stiff Little Fingers. Sem esquecer a incrível interpretação de Jack Black em Let’s Get it On de Marvin Gaye.

Alta Fidelidade foi baseado no best-seller de mesmo nome, escrito por Nick Hornby. Diferente do livro, ambientado em Londres, o longa se passa na chuvosa Chicago, que deu um charme extra ao clima da história. Mesmo 15 anos depois, a adaptação permanece como uma das grandes comédias românticas de todos os tempos. Dinâmica, madura, original, bem conduzida e extremamente divertida.

Comentários (1)

Alexandre Koball | segunda-feira, 16 de Novembro de 2015 - 07:20

Faz muito tempo que vi, mas pelo que lembro o excesso de referências pop (de forma forçada) acabou estragando um pouco.

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