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Críticas

Cineplayers

Humor colombiano fugaz.

5,5
E de repente no meio do Cine Ceará surge um filme pop, de identificação popular clara e comprovada na sessão, com um olhar mais convencional sobre o cinema e de intenções mais modestas. Isso não é um problema per se, mas fica no ar a sensação de deslocamento. Como festival pode até definir recorte mas jamais definirá qualidade, a discussão sobre o longa de Andres Burgos não tem como passar por essa seara. Produção colombiana feita como uma receita de bolo caseiro, o filme não ofende ninguém e se empenha em promover diversão sem promover falta de qualidade ou queda de nível. É um filme adulto com elementos já conhecidos, que vai encaminhando cada vez mais rumo ao clichê, mas que responde a eles com graça genuína e sem subestimar o público.

A protagonista é uma secretária 'caxias' que herdou seu emprego da própria mãe e atualmente precisa lidar com a aparente depressão do chefe, as voltas com a crise econômica batendo no escritório. Amália ainda mora com a mãe, que hoje sofre com uma espécie de catatonia seletiva e precisa de cuidados especiais, e para isso ela conta com a ajuda da melhor amiga. No trabalho, um conflito se desenvolve quando uma tomada queima, e ao providenciar o conserto Amália conhece Lázaro, e entre eles vai nascer uma amizade construída em meio a diversos defeitos no escritório, e uma sucessão de coisas tão bizarras quanto deliciosas começam a unir os dois. Uma quarta vertente do filme é aberta quando Amália decide ter aulas de dança, criando um novo vínculo com o faz-tudo Lázaro.

Burgos não pretende sonegar acontecimentos, então o filme parte para um turbilhão de eventos ligeiramente banais, mas que ajudam a construir primeiro a personalidade da protagonista e depois seus coadjuvantes. Dona de uma personalidade difícil e fechada, Amália não atrai simpatia com facilidade, e o público tende a obedecer contra essa construção. Talvez por se situar num terreno da comédia o filme tenha essa absorção popular garantida, mas não podemos deixar de dar as boas vindas a um olhar diferenciado e apurado sobre pessoas de gênio difícil. É como se fosse um filme duplo a Simplesmente Feliz, só que com as poses trocadas.

Felizmente Burgos conta com um elenco formidável encabeçado por Marcela Benjumea, uma estrela de TV local que entrega uma performance muito repleta de elementos que ela consegue levar para fora do exagero. Sua interpretação é aguda mas nunca estridente, e ela nos convence daquela rabugice graças também a sua química com Enrico, o tal funcionário que chega para consertar mais do que os problemas de sua sala. Com uma personalidade que contrasta com a de Amalia, esse homem falante, bem humorado e cheio de vontade de apreender. Ao redor de ambos, uma fauna de coadjuvantes defendidos por belos atores, amenizando os clichês e tornando a obra menos armazenada em processo quadrado. Os diálogos de autoria de Burgos também contribuem para a elevação da obra.

Ainda que o filme evite problematizar e levar mais profundamente questões interessantes como lesbianismo, sexualidade e até mesmo as pequenas corrupções no qual somos tentados para dar vazão a uma comédia mais leve e de caráter mais ingênuo, o filme consegue construir uma pegada menos vazia do que comédias recentes tem imprimido na tela, como Acertando o Passo. Se dentro da competição de um festival Amália, a Secretária carece de entendimento, no circuito e na apreciação do público certamente é um filme acima da média e consegue criar um diálogo sobre a qualidade dos produtos populares que o cinema oferece hoje. Que ele não se aprofunde nas questões que pincela aí já é outra discussão...

Filme visto no Cine Ceará 2018

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