Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Meu coração é de ouro. O que você me daria por ele? Ethan Hawke dessa vez na direção.

7,0

Um filme delicado sobre as dores de um primeiro amor. Mas não só isso: sobre o conflito entre sonhos e realidade. A sensibilidade que consegui extrair de alguns projetos que Ethan Hawke se envolve, me agradam muito. Lá pela metade do filme fiz uma relação entre a sua "mão" de diretor com a de uma sua amiga de profissão que recentemente se aventurou também do outro lado da câmera, Julie Delpy. E na minha cabeça os dois estão muito ligados um ao outro, assim como a Richard Linklater com quem já dividiram vários projetos.

The Hottest State é também o nome de um livro escrito por Hawke, que o transpôs em forma de roteiro, dirigiu e ainda atuou. E se não se pode observar um brilhantismo ofuscante em nenhuma das três funções, tampouco pode-se dizer que ele tenha fracassado. Ele mostra competência e sensibilidade no encaminhamento das três funções no decorrer da trama.

A história se passa entre Nova York e as reminiscências de um Texas de antigamente, que na verdade é o caminho que o protagonista William Harding (Mark Webber) vai percorrendo enquanto conhecemos a história de seu romance com Sara (Catalina Sandino Moreno), uma aspirante a cantora que chega à Grande Maçã para tentar a sorte, e logo em sua primeira noite na cidade, encontra esse rapaz que estava ali, desesperadamente pedindo para ser encontrado. Assim eles iniciam uma delicada relação. William é um ator também em início de carreira às voltas com uma audição no momento em que se encontra com Sara. E eles estão naquele momento em que devem escolher aquilo ou quem gostariam de tornar-se, divididos entre abraçar sonhos antigos ou percorrer uma realidade, que para eles seria vazia de significado.

William viveu a maior parte de sua vida ao lado da mãe, e sem dizer explicitamente isso, se ressente pela ausência da figura paterna ao descobrir que não sabe lidar com as mulheres da maneira que deveria. E durante todo o filme o vemos em conflito entre suas próprias ações e o resultado delas, sempre se questionando sobre como deve ser o próximo passo, o que afinal de contas ele deveria ter dito ou feito. Ele recorre aos amigos, à mãe, à própria namorada até que finalmente resolve procurar a única pessoa que pode desamarrar o maior nó de sua existência até aqui.

Uma experiência diferente foi ver Catalina Sandino Moreno interpretando um papel contemporâneo e urbano, com toques de suas origens latinas no figurino, que foi criticado por alguns, mas não chegou a me incomodar. Aliás, achei até interessante essa releitura de roupas latinas com influências de urbanicidade que ajudaram a compor uma personagem forte como ela deveria ser.

A trilha sonora também merece ser citada, pois sustenta a leveza do filme, e se enquadra muito bem à trama já que Sara canta numa banda e isso proporciona cenas em que a vemos compondo, por exemplo. Curiosidade inusitada é dar de cara com Sônia Braga, interpretando a mãe da personagem de Catalina Sandino. Infelizmente não há sentimento de co-patriotismo que possa me ajudar a dar uma boa nota à interpretação de Sônia. Carismático também me pareceu Mark Webber. Sem dúvida bem encaixado no papel do rapaz com sensibilidade de garota. Impossível não se identificar com suas dúvidas e até com seus sonhos de um universo real recheado de poesia.

Muitos pontos positivos, sim. Mas uma ressalva: a trama parece ter carecido de um momento de ritmo mais acelerado, pois muita leveza também faz a pipa se perder. Ainda assim, uma marcação de tempo, mostrada de maneira muito sutil, merece referência positiva: durante um período de separação entre o casal, William aparece caminhando sempre em frente ao mesmo cinema, em cujo letreiro percebemos a mudança dos filmes em cartaz, descobrindo que faz no mínimo três filmes o tempo que eles não se encontram.

Um filme pra descansar a mente de pensamentos mirabolantes, pois simplicidade é uma boa palavra para defini-lo.

Comentários (0)

Faça login para comentar.