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Anora

(Anora, 2024)
7,5
Média
68 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

O embuste medíocre de uma suposta pornografia (não)

1,0

Um pivete mimado e rico e uma prostituta montando altas confusões. É isso (?). Acho invocadíssima a escolha de determinados produtos como figurações de um presumível (de longe) zeitgeist sociocultural que merece ser contemplado. Com arrudeios e firulas diversas como proposições de discursos crítico como aposta de comentários sobre questões de classe entre outras marmotas. Nesta obra vejo tudo isso como um ardil peba na demonstração de um debate que não sai dos rudimentos do entretenimento – não do adulto, já que nem como erótico ou pornográfico se salva, longe disso aliás, e nem era a intenção obviamente, vou ser franco nisso {ou não?}. O que me pareceu ser aqui fora ser mais um exemplar de uma frescura escamoteada com um humor imbecilizante e com temática sobre prostituição usada como escudo para um discurso raso acerca do tema que o cerca. E um meretrício bem soft porn, pra não desagradar demais alas mais conservadoras. A experiência de saber pouca coisa do enredo e seus arroubos antes de assisti-lo foi ótimo. Porque fazia um bom tempo que um filme não quebrava tanto alguma expectativa que eu tivesse antes de contemplá-lo. Ser surpreendido diverte sim. Nesse caso, foi ter tido acesso a um troço tão fuleiragem, no qual quando não me entediou me tirara algumas risadas diante do despropósito vagabundo a perambular em tela. Tem essa serventia tão imunda quanto esculhambatória.

E faço aqui um comentário que busque se distanciar o máximo possível do falso moralismo que cercava quem criticava esse negócio. Pra mim foi exatamente o contrário, faltou foi mais putaria. Mais esculhambação, mais palavrão, mais violência. Tudo isso. Mas aí é apenas uma concepção espectatorial minha. E que se foda isso. A obra propriamente dita é o que importa. A farsa fuleira. E chamo de farsa pelo que promete ser como movimento de crítica social entre classes e acaba por ser uma espécie de road movie urbano de pangarés em perseguição a um adolescente tardio mimado expondo algumas firulas como se importantes fossem pelo caminho. Por isso o despropósito. É uma mensagem muito peba em seu formato. Uma gata borralheira que se lasca ao fim. Sim. Que não vence (pelo menos isso). Mas não nenhum estofo para haver qualquer tipo de preocupação sobre essa personagem, já que Anora (Anora, 2024) acaba sendo uma piada sem graça após seu início, e nisso percorre. Inclusive há uma preocupação centrada em demonstrações de jumentice e imaturidade por parte de Ivan (Mark Eydelshteyn), para promover um preparo para sua disposição à humilhação da personagem principal num futuro próximo. O foda é que estas ações dele e as contra-ações respectivas de Ani soam num limbo entre a comédia do exagero e uma seriedade, mas esta linha deixa o material com cara fraude [não na existência de uma farsa de si, mas como uma coisa medíocre que escamoteia opções para sobreviver], que não tem culhão para assumir uma linha menos cagona. Pelo menos a atuação histérica – pero no mucho – de Mikey Madison como Ani mantém o mínimo de interesse, seja por seu desnudar – físico e de personagem – seja por sacar o que diabos aquele filme precisaria numa protagonista no meio de um turbilhão de pangarelices. O resto do elenco não compromete, isso é verdade, mas de nada adianta enfeitar um pavão feito com sumo de esgoto.

A surpresa também que eu senti foi pelo caráter de caminhada que se propõe, numa de inversão de farras noturnas, com os personagens em vias de encontrar um pivete rico como objetivo. Porra, minhas expectativas eram de um filme de máfia e prostituição. Pancadaria pura [olha aí eu sendo canalha e querendo meter uma ideia de como o material deveria ser (maracutaia), mas filme vagabundo merece texto porco também – cada um com seus subterfúgios]. E esse vaguear pela noite não consegue gerar empatia ou humor que o valha, somente uma mesmice avulsa. Repetição de tropos dos mais preguiçosos de comédias juvenis. O personagem que deve ser encontrado ao fim da noite para se resolver a trama; os conflitos numa noite cheia de imprevisibilidades e confusões (fazendo força mental pra escrever isso como idiossincrasia dessa cangalhada); o aparecer dos pais mafiosos que não souberam criar o filho; e por aí vai, não tenho saco pra caçar mais outras merdas. E o uso desses males-ajambramentos não teria problema nenhum se bem usadas fossem, ou que se pisassem de vez numa farsa provocativa para mantê-los como sarro de si mesmo. Mas não, se leva a sério na tal linha farra/seriedade, como se a mensagem de classes que viesse a passar tivesse alguma validade tácita além do sonífero de suas escolhas de linguagem. Por falar nessas decisões do diretor Sean Baker, uma delas eu curti, o que não é novidade – muito pelo contrário – que é o uso de planos mais fechados na claustrofobia da noite. Inclusive o contraste entre os usos de câmera entre o cabaré, a casa do pivete rico e a putaria na noite são evidentes. Isso pelo menos estabelece espertamente o ambiente que se está vinculando a ação. Mesmo que seja algo absolutamente básico, mas vi aqui um mínimo destaque no deserto criativo existente. Foi o que consegui.

Mas é intrigante sacar como uma obra dessas alcança tanta envergadura com mensagens que diz vender, mas que mal arranham a superfície daquilo que é visto em seu início. Prostituição? Máfia (vai – outra pilantragem minha, assumo)? Comédia se tenta ser, claro. Questão de classes? Não. Talvez nem prometera porra nenhuma das minhas citações e seguira um fluxo consciencioso de uma bagaceira que se achasse assim divertida. Levar o material no sambarilove tem uma serventia de sagacidade quando a proposição de sátira é desenvolvida afim de frescar consigo mesmo, ou por sobre quaisquer conjunturas sociais afins. Não consegui enxergar qualquer elemento desses em Anora. Percebi um objeto metido a espertinho como uma camada crítica (supostamente) que brinca consigo mesmo por um ardil de escamoteamento narrativo e simbólico do que se é. Um simulacro de isenção para ser a porcaria que é, mas não a que almejava ser. Mas esse lacre de proteção não funcionou para a minha pessoa. Não é erótico. Nem engraçado. Nem corajoso. Nem subversivo. Nem (nem mesmo) pornográfico. Mas é ordinário. Isso é com ele mesmo.

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