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Críticas

Cineplayers

Mesmo com Nicholson e Freeman, roteiro não acrescenta muito ao grupo dos roadmovies e dos filmes sobre a amizade e seus códigos.

4,0

Rob Reiner já dirigiu vários filmes que caíram no gosto geral como Harry e Sally - Feitos um Para o Outro e Conta Comigo (um clássico incontestável das Sessões da Tarde). Este último inclusive guarda alguma semelhança temática com Antes de Partir, que dentre alguns de seus temas trata de amizade e morte, além de grosso modo confirmar a utilização de algumas mesmas fórmulas.

Pois bem, a amizade verdadeira continua sendo uma coisa bonita e talvez tão escassa que sejam necessários muitos e muitos filmes aos quais os futuros cidadãos do mundo possam recorrer quando quiserem entender este conceito. Só espero que Antes de Partir não seja o top da lista. Menos pela representação da amizade contida ali do que pela maneira como ela se ‘materializa’, se é que vocês me entendem...

Edward Cole (Jack Nicholson) é um empresário frio e ganancioso do ramo de hospitais e que um dia se vê traído duplamente: por sua saúde e sua ganância. (Parêntese importante é que já podemos encontrar aqui a primeira solução fácil a grandes questões que se apresentarão futuramente: uma grande fortuna conseguida com deméritos e que pode ser dispensada sem culpa). Na outra ponta da história, Carter Chambers (Morgan Freeman) é um mecânico que conhece tudo sobre literatura de almanaques e vive sossegado até o dia em que recebe um telefonema. O destino trata de unir as duas pontas da história no mesmo quarto de hospital e na mesma dor: ambos são diagnosticados com algum tipo de câncer que já sofreu metástase e a conclusão é cristalina como água e eles precisam aprender a conviver com a novidade de poderem agendar o próprio enterro.

Antes, porém, é preciso que eles aprendam a conviver um com o outro (o velho e batido tema dos "inicialmente inimigos que se juntam por um motivo comum e descobrem que tem mais em comum do que imaginavam"). Uma relação de amizade se constrói a partir e apesar das gritantes diferenças, tendo o personagem de Nicholson como o representante da parte imatura, excêntrica e ranzinza, enquanto Freeman tenta transformá-lo usando de sua tranqüilidade, simplicidade e experiência. E assim eles começam a se entender, e na tentativa de dizer que não morreu sozinho, Cole recolhe do lixo um rascunho dispensado por Chambers. Uma lista com os últimos desejos dele. 

Contrariando os ciúmes da esposa de Carter, Cole convence o amigo a compartilhar com ele desses dias que serão os últimos para ambos. E da maneira mais inusitada possível: usando toda a sua fortuna para patrocinar uma viagem que inclui todos os cartões postais do mundo, arranjando aí espaço para algumas aventuras juvenis que provavelmente não eram sonhos de consumo comuns na juventude dos dois. Mas tudo bem. Não me deterei listando os lugares e pirações da dupla de senhores. Mais importante é dizer que o chroma key foi usado sem moderação e o resultado foi tão inverossímil quanto a idéia de Morgan Freeman saltando de um avião em pleno vôo.

Por essas e outras considero que a parceria entre esses dois grandes expoentes do cinema norte-americano não foi feliz. Mas suas atuações conseguem sair ilesas desse processo, sem grande abalo das respectivas reputações. Apesar de achar que o iluminado Nicholson parecesse em alguns momentos mais cansado que seu próprio personagem, sem nenhuma cena digna do brilhantismo que vinculamos ao seu nome, em roadmovies de verdade como Easy Rider. Talvez também possa estar projetando sobre ele um cansaço meu em assistir filmes como esse. Em uma entrevista ele inclusive tentou jogar sobre esse trabalho uma nova luz, alegando que a equipe produziu um filme com uma ‘vibe’ diferente do que costuma ser feito em histórias que envolvem doentes terminais, trazendo alguma leveza e alegria a esse filão. É, talvez, senhor Nicholson. Com todo respeito, ok? Morgan Freeman também não faz nenhum esforço. Afinal, para quê? Desenvolve o seu lado da maniqueísta tipificação de maneira natural e clichê como deveria ser e o que vemos é um filme previsível e de intrigas pequenas, onde um tenta empurrar uma mulher mais nova ao outro para tentar desencorajá-lo a continuar, enquanto esse outro leva o um ao encontro de uma filha com quem não falava há anos.

Sobre a direção de Rob Reiner posso até arriscar dizer que ele talvez sequer tenha tido trabalho, pois com sua experiência somada às experiências dos dois protagonistas e mais um roteiro comum assim, esse até eu faria! No final ainda há uma carta, a velha carta de despedida do agora falecido e a confirmação dessa bonita união de opostos numa eternidade panorâmica. Fica agora a seu critério dar ou não uma chance de sobrevida a este filme. De repente, posso ser a única chata cansada por aqui.

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