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Críticas

Cineplayers

Um retrato de como os adolescentes podem entrar para a vida marginal de maneira fácil.

4,0

Christiane F. fez escola. Se a menina de 13 anos, drogada e prostituída, marcou toda uma geração na década de 80 (tanto o livro quanto o filme), agora ela tem uma sucessora. É a atriz Rachel Evan Wood, ou melhor, Tracey, sua personagem no longa de estréia de Catherine Hardwicke. Tracey é uma adolescente normal como qualquer outra - veste-se como as meninas de sua idade, possui bichinhos de pelúcia e ainda tem aquele ar angelical. Mas ao se sentir inferiorizada na escola por garotas moderninhas e mais "descoladas", acaba se aproximando da mais popular delas, Evie (Nikki Reed, que é uma das autoras do roteiro baseado em suas próprias experiências), uma garota que acaba levando a inocente Tracey para um mundo envolvendo drogas, sexo e pequenos crimes.

O que deveria ser uma interessante visão sobre como os jovens atualmente se desvirtuam em uma sociedade cada vez mais rala, puritana, hipócrita e voltada para o mundo da beleza e do consumo, acaba se tornando um trabalho incapaz de fazer uma observação mais profunda e eficaz sobre o assunto. As situações criadas pelo roteiro são inverossímeis e a constante tentativa de forçar a barra (o desenvolvimento da história parece uma colagem de fatos pretensiosamente chocantes que não se alinham direito) acabam por diluir o conteúdo - Hardwicke tenta criar um clima de realidade, usando câmeras digitais principalmente, mas consegue no máximo aproximar seu filme do mundo-cão dos noticiários da tevê.

Evan Rachel Wood, mesmo elogiadíssima pela crítica no papel, esforça-se em um papel superficial (até mesmo a sua transformação soa falsa, por culpa do roteiro) e a moça acaba sendo diminuída em cena pela colega Nikki Reed (que parece ser a irmã mais nova de Eva Mendez). Quem se sobressai mesmo é Holly Hunter, como a mãe esforçada, mas ao mesmo tempo bastante relapsa na criação dos filhos, além de ter um envolvimento amoroso com um viciado. Hunter rouba todas as cenas em que aparece e, mesmo recorrendo a alguns clichês (unhas sujas, nudez gratuita), acaba sendo o alívio em meio a um filme tão fraco. Hunter inclusive chegou a ser indicada ao Oscar de atriz coadjuvante.

Curioso é como constatar que a sociedade se torna cada vez mais moralista. Há mais de 20 anos a nossa garotinha, Christiane F., fazia coisas muito mais fortes do que esconder um piercing da mãe. Sinal dos tempos.

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