Apesar de ser divertido, está bem abaixo da capacidade real de fazer cinema de Luc Besson.
O cineasta francês Luc Besson teria dito que este seria seu último filme como diretor. Também produtor e roteirista, estaria tão ocupado nestas outras funções que desistiria de estar por trás das câmeras. Se isso realmente acontecer, o cinema estará perdendo um grande realizador, autor de obras de relevância das últimas três décadas como Imensidão Azul, Nikita – Criada Para Matar, Subway e O Profissional.
Quando Besson resolveu investir em algo mais comercial, deixando a verve autoral em segundo plano, perdeu a mão. Projetos ambiciosos como O Quinto Elemento e Joana D’Arc foram arrasados pela crítica, e o cinema europeu percebeu que um de seus maiores expoentes estava seduzido pelo capital hollywoodiano. O que ele jamais negou, por sinal, tanto que produziu (e produz) uma quantidade inacreditável de filmes-pipoca, em geral de qualidade duvidosa, como Cão de Briga, Táxi, Bandidas e muitos outros.
E aí que entra o seu chamado último filme como diretor, a aventura infanto-juvenil Arthur e os Minimoys (na verdade, estão agendadas duas continuações para ele, sob o comando do próprio Besson e, portanto, não seria seu derradeiro filme). De financiamento francês, seria um forma de despedida, digamos, mais patriótica. Misturando cenas de cenários e atores reais com animação, algo que ele jamais fez, é mais uma prova de seu inegável talento e versatilidade.
Curiosamente, “Arthur e os Minimoys” se envolveu em uma grande confusão. Inscrito na categoria de melhor filme de animação ao Oscar, foi desclassificado por não ter certa percentagem de animação em relação às cenas ditas “reais”. Isso alterou o número de inscritos na categoria e, pelas regras da Academia, o número de finalistas acabou sendo reduzido de cinco para três vagas, causando um enorme problema para os estúdios dos filmes Os Sem Floresta e A Era do Gelo 2, que já eram certos como candidatos e acabaram ficando de fora.
Baseado em livros escritos pelo próprio Besson, é sobre Arhur (Freddie Highmore, de A Fantástica Fábrica de Chocolate), menino que vive em uma pequena propriedade com a avó (a sumida Mia Farrow). Carente da presença dos pais, sempre ausentes, espelha-se no avô, um engenheiro e inventor há tempos desaparecido. Quando ele descobre que a avó está afogada em dívidas e que está prestes a perder a propriedade onde vivem, resolve ir atrás de um tesouro escondido nas terras da propriedade, como dizia uma das histórias contadas pela avó. Buscando pistas pela casa, descobre uma forma de adentrar, miniaturizado, no mundo subterrâneo dos Minimoys, que poderão ajudá-lo a encontrar o tal tesouro.
Espécie de tribo africana muito mais diminuta que os pigmeus, os Minimoys vivem escondidos no jardim do local trazidos pelo avô de Arthur. Aterrorizados pelo vilão Baltazar (voz de David Bowie, no original), que com a ajuda de insetos malvados (?) deseja exterminá-los e virar senhor do local, os Minimoys esperam que algum dia algum de seus integrantes possa retirar uma espada encravada em uma rocha e assim liderá-los contra o mal. Esse feito acaba caindo sobre Selenia (voz de Madonna no original), princesa e herdeira do trono. Ela alia-se a Arthur e ambos, com a companhia do irmão mais novo de Selenia, irão atrás do tesouro e do vilão.
Cheio de referências a outros filmes, como A Espada Era a Lei, Querida, Encolhi as Crianças e Indiana Jones (algumas situações parecem mais “chupadas” do que referências propriamente ditas), o filme peca por deixar muitas coisas sem explicação (o que poderá ser revertido nas continuações). A própria transição entre o mundo real e animação não é muito bem trabalhada, o que pode criar confusão na cabeça das crianças. Mais grave é o romance que surge entre Arthur e Selenia, com troca de beijos e tudo. Como Arthur tem, na história, apenas 10 anos, não seria precoce demais o desenvolvimento desse enredo, que além de tudo não acrescenta absolutamente nada à trama? Filmes de apelo infantil deveriam ter psicólogos e orientadores em sua construção, profissionais que fizeram falta por aqui. Em compensação, todo o trabalho estético do filme é muito bonito, principalmente a animação, de detalhados backgrounds e colorido intenso. O trabalho é tão bom que alguns cenários parecem reais. Outra escolha perfeita foi para a textura da composição dos Minimoys, algo como o látex, de efeito bastante interessante.
Enfim, Arthur e os Minimoys deve agradar aos baixinhos e divertir os adultos, mas está longe de ser um trabalho à altura de seu realizador, em seu dito último trabalho. Que Besson reveja a carreira e volte aos bons tempos. Os fãs (eu incluso) o aguardam.
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