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Críticas

Cineplayers

O contexto ajudou bastante, mas ainda sobram méritos para O Artista.

8,0

Na cena inicial, o astro do cinema mudo George Valentin (Jean Dujardin) é interrogado por torturadores em outro sucesso de bilheteria protagonizado por ele. Neste momento, O Artista (The Artist, 2011) já passa o seu principal recado. “Fale, fale”, aparecem as palavras do torturador escritas na tela. “Não vou falar”, surge da mesma maneira a resposta enfática de George. Não poderia começar de maneira mais apropriada. Recado duplo. Resume a essência daquele artista que entrará em decadência com a invenção do som, e mira o público atual, acostumado ao cinema explosivo, frenético e com muito barulho.

A áurea que cerca a obra, evidentemente, é de cinema inocente e de entretenimento. Essas definições se aplicam a Peppy Miller (Bérénice Bejo), fã de Geroge alçada à fama instantânea ao estampar capa de jornais ao lado do astro. Assim, faz pequenas pontas em filmes e começa a crescer na carreira. Algo ilustrado muito bem pelas imagens dos créditos de seus trabalhos. O nome dela aparece cada vez em maior destaque. O diretor Michel Hazanavicius aborda o crescimento da Peppy com bom humor ao focar em zoom o nome da atriz iniciante e, na sequência, ampliar a imagem para revelar o lugar minúsculo reservado a ela nos letreiros. 

Essencialmente divertido apesar de seus dramas, O Artista tenta ganhar o espectador pelo espírito de alegria. E deu certo com as associações responsáveis pelos principais prêmios da sétima arte graças ao saudosismo despertado. Não é nem de longe a melhor obra do ano, mas com o cinema adotando linguagens cada vez menos suas, preferiu-se reverenciar a essência do recado bem passado pelas imagens – algo feito com muito mais riqueza pelo “concorrente” A Árvore da Vida (The Tree of Life, 2011). Mas a nostalgia, a emoção do cinema cru e as eras que marcaram a evolução dessa arte são parte dos fatores responsáveis por tanto apego à obra. Chega a ser compreensível. 

A história é do declínio de uma estrela do cinema que terá sua vida mudada por completo com o aparecimento de Peppy. O enredo é sobre o cinema e sobre eles. Aquele velho recado da salvação pelo amor. Seja pelo outro ou pela profissão, principalmente se relacionada à fábrica de sonhos hollywoodiana. Então é, também, sobre transformação e evolução.

Hazanavicius é feliz quando constrói cenas com inserção de som, como aquela do sufocamento de George logo após ser apresentado a essa novidade. Cada objeto em cena provoca barulhos fortes, mas a voz do artista é incapaz de sair. É esse tormento o começo da decadência. Ele é um profissional da expressão, não da fala. E para representar George, o super expressivo Dujardin. Ele passa todas as mensagens do personagem pelo marcante sorriso e pelo mexer das sobrancelhas. Reviveu o melhor do pré-fala. Bérénice Bejo contagia pela alegria e, assim como o parceiro, pelas coreografias de dança. Sempre acompanhadas de caretas certeiras. São fantásticos. Sem esquecer, claro, do apaixonante cachorro de George.

Outro aspecto importantíssimo em O Artista é a trilha sonora. Esta, sem dúvida, não pode deixar de ser premiada. Justamente o único som presente de ponta a ponta é que dá o tom da narrativa. E faz isso com perfeição. A música trabalha para contar a história. Em nenhum momento é apenas complemento. É parte ativa e por isso muito mais importante para seu filme do que composições com a qual concorre em premiações. Soma-se a isso, a própria beleza das músicas instrumentais, principalmente a batizada como George Valentin. As composições são de Ludovic Bource.

O óbvio aqui é o poder da imagem, sem representações complexas. Não há desafio a mais para o espectador. A proposta é homenagear pela forma em desuso, não exatamente pela linguagem. Falta ritmo em certos momentos, não é arrebatador, mas lembra como a simplicidade pode ser superior à sofisticação mercadológica.

Comentários (14)

bruno dos santos | segunda-feira, 20 de Fevereiro de 2012 - 23:18

O artista é um filme excepcional, maravilhoso, estupendo...
Não tenho palavras para descreve-lo, pois foi uma experiencia muito boa.
Não é euforia momentanea, nem drama me expressar assim, mas quem já viu o filme
sabe do que eu estou falando.
Dujardin está simplesmente deslumbrante como George Valentin, e Bérénice Bejo... Sem palavras, uma atriz encantadora, que nos faz sorrir só de olhar para ela.
Em tempos de tantos filmes comerciais, Hazanavicius fez bem em dirigir o Artista, em prestar esta homenagem ao velhos tempos do cinema.
Sou cinéfilo de carteirinha, e é óbvio que assisto todos os tipos de filmes, porém os clássicos é que me fascinam.
Na sala de cinema, ao início da película, me senti nos anos 20, e foi muito agradável.
Ambos os atores merecem levar o Oscar, tanto Dujardin quanto Bejo, dois atores que mostraram a que vieram e me encantaram com suas interpretações.
E o cachorrinho Uggie ? Fenomenal, deveria também levar um oscar, atuou muito 😁

Patrick Corrêa | terça-feira, 21 de Fevereiro de 2012 - 08:53

A crítica está boa, mas não concordo totalmente com ela.
O artista já está entre os melhores do ano pra mim.
E uma correção: no começo do segundo parágrafo, a palavra "áurea" foi empregada erroneamente. Deve ser substituída por "aura".
Áurea significa relativa ao ouro.

Dnic Lima | quinta-feira, 01 de Março de 2012 - 00:58

Ótimo filme, mesmo não sendo o meu favorito do ano, nem pra levar o Oscar, sei que uma homenagem dessa, tão bem feita, não se ver todos os dias, fora a ousadia que tiveram, um filme francês, mudo, em P e B, nos dias atuais, e por isso achei justo levar todos os méritos.

Cristian Oliveira Bruno | sexta-feira, 22 de Novembro de 2013 - 17:03

Acho que só a coragem de se fazer um filme assim hoje já merece aplausos. O filme é muito bom. A direção e a interpretação de Dujardin ( e olha que ele fez Lucky Luke!!!) transmitem tudo o que o filme se propõe a passar. Prêmios merecidos!

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