Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Primeiro filme de Woody Allen como diretor mistura ironia, humor visual e nonsense.

7,5

Um Assaltante Bem Trapalhão – esqueça o péssimo título brasileiro – é a história de Virgil, um ladrão fadado ao insucesso em todas as suas empreitadas. Contado em forma de semidocumentário (com depoimentos intercalados com situações dramatizadas – tudo, evidentemente, falso), a produção gira em torno de seu personagem central, interpretado pelo próprio Woody Allen. No decorrer da história, Virgil passa por situações que vão do bizarro ao hilário, num esforço bem-sucedido de entreter, agradar e divertir o espectador.

Quem está habituado aos filmes do diretor, roteirista, ator e neurótico profissional Woody Allen não ficará surpreso se voltar ao seu primeiro trabalho e encontrar muitos dos elementos que estariam presentes em diversos momentos da sua filmografia.

De certa forma, este filme pode ser considerado o embrião de quase tudo que o diretor experimentaria em sua carreira de mais de quarenta filmes, principalmente naquilo que é uma de suas características mais fortes: o humor. Nessa produção, Allen faz uso de três formas que seriam marcantes no decorrer do seu trabalho.

A primeira delas é a ironia. Nesse ponto, Allen é mestre. Às vezes tão sutil quanto é possível; em outras, ácido e direto. O que importa é a inteligência do texto, que vai ao lugar certo e traz um olhar particular sobre as coisas.

A segunda é o humor visual, característico, principalmente, dos seus primeiros filmes (em especial os quatro primeiros). Aqui o humor visual se apresenta para mostrar o lado trapalhão de Virgil. Pode-se dizer que, entre as formas de fazer rir, essa talvez seja a mais fácil e menos valorizada - porém, aqui, faz render uns dois ou três bons momentos.

O terceiro é o nonsense. Existe uma boa quantidade de piadas que podem ser vistas como precursoras do tipo de humor consagrado pelo grupo Monty Python ou característico da leva de filmes americanos dos anos 80 (como Apertem os Cintos... o Piloto Sumiu!, Top Secret - Superconfidencial e Corra que a Polícia Vem Aí) que abusavam do absurdo como forma de fazer rir. Alguns dos melhores momentos de Um Assaltante Bem Trapalhão vêm daí – como a cena do rabino.

Além do humor, vale dizer que o roteiro é ágil e mescla na dose certa os depoimentos e as cenas dramatizadas. Jamais fica a sensação de que o diretor está abusando do recurso. Vale dizer, ainda, que o formato ajuda a compor o estranhamento do personagem, ou seja, está ali a favor do objetivo de contar uma história.

De caráter sutilmente autobiográfico (a data de nascimento do personagem é a mesma do diretor), Um Assaltante Bem Trapalhão traz um personagem deslocado do meio em que vive, alguém se que vê diferente dos demais e, ao mesmo tempo, inadequado, fora de lugar. No entanto, esse personagem não desenvolve a consciência de si mesmo, apenas age assim porque roubar é o que sabe fazer, o que está ao seu alcance. Nesse sentido, pode ser traçado um paralelo com o artista, que se vê diferente do padrão – e se expressa por que é preciso.

Para fechar, é possível dizer que já estava à vista o talento de um cineasta com gigantesca habilidade para o texto, com uma dose de originalidade fora do comum e que se tornaria um dos grandes nomes do cinema norte-americano.

Comentários (0)

Faça login para comentar.