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Críticas

Cineplayers

Recomendado não apenas para as crianças, mas para todos que sempre gostaram das aventuras do menino-robô.

7,0

Os mais novos não devem saber, mas Astro Boy foi o primeiro anime lançado no Japão, em 1963, baseado no mangá (quadrinho japonês) datado dentre os anos 52 e 68. Adaptado diversas vezes também para a TV, a história do agora filme gira em torno de um robô, criado identicamente a Toby, filho morto do famoso cientista Dr. Tenma, para saciar a dor de sua perda. Porém, o que deveria ser um recomeço feliz na vida do doutor, acaba se tornando um terrível pesadelo, pois ao olhar para o robô, percebe que ele não substitui seu filho, pelo contrário, sempre o lembra da trágica morte, em uma referência clássica, tanto em imagem quanto em desenvolvimento, à obra máxima de Mary Shelley, Frankenstein.

Se a história de Astro Boy já não fosse complexa o suficiente (morte de uma criança, depressão do pai, fixação para substituir o filho morto, repulsa pelo menino robô etc., tudo no começo da história), o filme conta ainda com uma bela ambientação, já que os humanos vivem em um pedaço de terra suspenso ao ar, Metro City, depois que o solo normal da Terra tornou-se um lugar inabitável devido à imensa quantidade de lixo que lá se encontra (mesmo ponto de partida do clássico recente Wall·E). A partir daí, quando Astro Boy é expulso de casa, ele encontra um mundo completamente novo lá embaixo, em uma jornada de auto-descoberta que mudará não apenas sua vida, mas de todos os que cruzarem o seu caminho.

Com esta proposta, um leque imenso de opções é aberto para que os pais discutam com seus filhos sobre situações da vida, como obediência, fixação, preconceito, ganância e muito mais. Como Astro Boy recebe todas as memórias do jovem falecido em que fora baseado, ele sente quando seu pai passa a não aceitá-lo mais e abre possibilidades para os pais também refletirem sobre suas vidas, principalmente aqueles que tiveram perdas de entes queridos (não necessariamente filhos, a mensagem é universal): será que poderíamos tê-los de volta se tivéssemos a oportunidade? Foi extremamente interessante conferir um tema complexo, pesado e delicado sendo discutido na tela com as crianças, mas sem tratá-las como incapazes de compreender aquilo e sem jamais alcançar o vulgar, já que tudo é dosado na medida certa.

Possuindo ainda uma crítica ao modo em que os políticos fazem suas campanhas (certamente Bush e sua guerra no Iraque), já que o presidente de Metro City, sedento por ser reeleito, tenta de todas as maneiras gerar uma guerra contra "o povo do solo", pois na mente doentia do cidadão isso faria com que ele ganhasse votos ao defender a cidade suspensa. Cidade, aliás, que é vista como uma divisora de status entre a população: quando Astro Boy chega ao solo e lá encontra com vários garotos, ele é tratado quase como um "riquinho", como alguém melhor e socialmente superior, o que novamente nos abre opções de diálogo com os filhos ao comparar esse endeusamento com o que ocorre na vida real, algo obviamente supérfluo e preconceituoso.

No quesito técnico, Astro Boy possui cenários bastante detalhados, bonitos, de cores vivas, mas sem parecer carnavalesco, com a realidade bem representada e a ficção inteirada de maneira convincente. Já as pessoas foram modeladas no estilo cartoon, o que chamamos de super deformed: não tentam representar 100% a realidade; são humanos de fato, mas com características que os diferenciam de tentar ser realista, como queixos grandes, narigões, cabelos espetados etc. Nesse sentido, não temos nenhum primor técnico, muito longe da qualidade da Pixar, mas não é nada que chegue a incomodar também. Os personagens estão lá, bem feitinhos, mas nada mais do que isso.

Investindo muito mais no sentimento do que na barulheira corriqueira e piadinhas de fácil aceitação para as crianças, o diretor David Bowers (que anteriormente dirigiu a também animação Por Água Abaixo) acerta não apenas no tom de seu novo longa-metragem, mas também no revival de uma série que, se não fosse tratada com o devido carinho e atenção, poderia ser facilmente fadada ao fracasso. Astro Boy vale a pena não apenas para as crianças, que ficarão eufóricas durante sua exibição, seja pela ação ou pela comédia de bom gosto, mas valerá a pena também como sessão nostálgica para os pais, que lembrarão de muitas coisas de suas infâncias ao lado de seus pequenos jovens durante todo o filme.

Comentários (1)

Bruno Cavalcanti | sexta-feira, 16 de Dezembro de 2011 - 11:21

Muito bom filme,só não gostei do final, praticamente não se encaixa com tudo que nos foi apresentado até o momento, e os vilões são estereotipados demais, mas pra quem não esperava nada dele, um baita filmaço animado😎

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