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Críticas

Cineplayers

Apesar de não ser um ótimo filme, representa uma evolução de Fuqua em relação a seus últimos trabalhos.

6,0

Com um roteiro que se enrola um pouco nas explicações, e uma estória nada original, Atirador, novo projeto do diretor Antoine Fuqua (Dia de Treinamento), escapa de ser uma total perda de tempo pelo modo competente como o diretor conduz a trama, mostrando que Fuqua ainda possui o "feeling" necessário para produções do gênero.

Bob Lee Swagger (Mark Wahlberg) é um atirador de elite dos Marines que, após ser abandonado em uma ação clandestina das tropas norte-americanas na Etiópia - vitimando seu companheiro -, resolve desistir da carreira militar. Passados três anos do acontecido, refugiando-se no alto das montanhas do Wyoming, tendo como única companhia o cachorro Sam, o solitário Swagger vive desacreditado e totalmente fora da ativa.

Contudo, o coronel aposentado Isaac Johnson (Danny Glover) encontra-o e lhe diz que o país necessita dos seus conhecimentos em tiro a longa distância, a fim de evitar um possível atentado contra o presidente dos Estados Unidos. Opondo-se, inicialmente, ao apelo, o atirador acaba aceitando - após Johnson "cutucar" o lado patriótico de Swagger. Ele passa, então, a estudar todas as cidades no roteiro de viagem da comitiva presidencial, analisando os diversos fatores (posição, por exemplo) que poderiam ajudar no fatídico ataque ao presidente.

Swagger só não esperava que estivesse sendo utilizado como bode expiatório por conspiradores da Casa Branca. O real objetivo da investida era matar um arcebispo etíope que visitava os EUA, e não o presidente. Swagger, então, seria eliminado e culpado pela morte do religioso. Porém, o jovem militar consegue escapar, partindo em busca dos verdadeiros culpados. No seu percurso, ele contará com a ajuda de Nick Memphis (Michael Peña), agente do FBI, e Sarah Fenn (Kate Mara), a viúva do amigo morto na África.

O ponto alto do longa é, sem dúvida, a maneira como os longos 124 minutos de projeção são levados pelo diretor. É bacana perceber que o filme simplesmente não fica chato em nenhum momento. Convenhamos que isso, hoje em dia, é bastante louvável, ainda mais se compararmos com os lixos produzidos rotineiramente por Hollywood. Logo, mérito de Fuqua, que não permite ao espectador que sua atenção fuja em boa parte da exibição da película.

O filme, diga-se, não foge dos velhos clichês. Eles, aliás, estão bem visíveis na trama. O mocinho e o bandido estão definidos; o relacionamento que existirá entre Swagger e Sarah é previsível desde a primeira vez que ambos dividem a telona; o policial, Nick, depreciado pelos colegas, torna-se o grande ajudante do mocinho; a tradicional cena de fuga do mocinho pela cidade em um carro em alta velocidade; o costumeiro atentado ao presidente; enfim.

Todavia, Fuqua acerta em mostrar todos esses clichês acima enumerados de forma deveras dinâmica. Como? Assim: o mocinho é um cara enrijecido com o mundo (em pouquíssimos momentos ele demonstra alguma sensibilidade); o tal relacionamento existente não é vulgarizado (nada de beijos exagerados ou cenas apelativas de sexo); as cenas de perseguição são, de certa forma, bem filmadas (embora nada de novo seja mostrado); o atentado serve apenas como pano de fundo para o desenvolvimento de graves e importantes assuntos políticos (questões como a impossibilidade de existir algo "podre" sem o conhecimento e a permissão de seu superior político); etc. Enfim, boas sacadas.

Falhas, lógico, o filme tem. Dentre elas, a falta de uma maior exploração dos personagens. Nick Memphis, por exemplo, começa a investigar o caso de Swagger "do nada". O policial apenas foi sendo levado pela sua suspeita, sem nenhuma explicação digna que comprove a forma como procedeu. Além disso, há personagens no filme que foram clararamente enxertados, servindo apenas de base para uma não completa desconexão da obra - como a agente do FBI amiga de Nick, Alourdes Galindo (Rhona Mitra), que o ajuda sem também ter algo convincente que a force a agir como agiu. Outro personagem que aparece é um velho durão (é..., não consigo lembrar o nome dele!) que entende tudo de armas. Mas por qual razão ele foi tão amistoso com Swagger e Nick, já que não os conheciam? E por que ele ajudou a dois estranhos sem maiores apresentações?

Afora isso, o roteiro de Jonathan Lembin - baseado no best-seller "Point of Impact", de Stephen Hunter - tem passagens muito rápidas, quase cuspidas, no começo da projeção, atrapalhando. A forma como os snipers atiram é exposta de maneira nada didática ao espectador, pois a linguagem utilizada é muito técnica (serve apenas para impressionar). As piadas insuficientemente inspiradas e os pequenos dramas que surgem também não funcionam. Por fim, a enrolada e pouco explicativa trama apresentada, havendo a possibilidade de um mau entendimento (eu, por exemplo, entendi certas passagens somente após bons minutos de reflexão). E isso não é proposital, já que em nenhum momento ele visa essa perspectiva (o longa não utiliza "flash-backs" e nem um estilo não-linear de contar a estória). Portanto, foi falha mesmo.

Quanto às atuações, o grande destaque é Mark Wahlberg. Conseguindo levar bem seu violento personagem, o ator não diminui o ritmo frenético adotado pelo diretor, conseguindo expressar-se corretamente. A sua indicação ao Oscar deste ano na categoria de Melhor Ator Coadjuvante - na pele do grosso policial Dignam de Os Infiltrados - só veio confirmar o talento de Wahlberg, tornando-se um dos atores mais talentosos de sua geração. O único problema é que ele não consegue ser tão carismático quanto Jason Bourne (Matt Damon) ou Jack Bauer (Kiefer Sutherland), personagens que vivem situações parecidas com as do policial nada original de Wahlberg. Outro que merece elogios é Danny Glover (Máquina Mortífera). Vivendo o coronel Isaac Johnson, Glover consegue ser falso e irônico na medida certa, transmitindo a tensão indispensável que o personagem exige. Os demais - Michael Peña, Kate Mara, dentre outros - estão apenas corretos.

Já a parte técnica do filme é assaz carente. Há efeitos que são visualmente bisonhos, como quando um helicóptero explode, além de existir cenas que pecam pelo modo exagerado como foram postas. A trilha sonora também não tem grande destaque. Caso fosse mais fluente, com certeza contribuiria para um melhor resultado das cenas de ação.

Atirador, finalmente, é um bom filme de ação. Se Antoine Fuqua não acerta em todos os pontos, ele consegue, com sua ótima condução, um resultado bem superior aos fracassados Rei Arthur e Lágrimas do Sol. Porém, como vários longas premiados e melhor divulgados ainda estão em cartaz, fica difícil que a trama alcance um público satisfatório.

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