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Críticas

Cineplayers

A proposta narrativa segue eficiente ao gerar tensão e nervosismo, mas o filme nada oferece de novo em relação ao original.

6,0

Em 1999, uma produção modesta começou a despertar a atenção do público que recém descobria a internet. Segundo o que se divulgava até o momento, tratava-se da filmagem real de um grupo de amigos que desapareceu em uma floresta norte-americana quando partiram para descobrir se a lenda sobre uma bruxa local era verdadeira. Diversos sites traziam informações complementares sobre o mito da assombração, alimentando o interesse em relação à suposta filmagem. Assim, quando A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1999) estreou nos cinemas, multidões correram aos cinemas, com uma boa parte das pessoas realmente acreditando se tratar de um acontecimento real e fazendo do filme um dos mais lucrativos da história.

Claro que era tudo mentira. A Bruxa de Blair não passava de ficção, desde as entrevistas com o pessoal da cidade sobre a lenda até as filmagens realizadas pelos personagens – na verdade, atores. No entanto, a abordagem realista e quase documental, supostamente registrada pelos próprios personagens, mostrou-se extremamente eficiente na construção de uma atmosfera de tensão, transformando a obra em um excelente filme de terror. Como não poderia deixar de ser, surgiram as variações utilizando o mesmo recurso, como Cloverfield – Monstro (Cloverfield, 2008), o espanhol [REC] ([REC], 2007) e o surpreendente sucesso do ano passado, Atividade Paranormal (Paranormal Acitivity, 2009).

Como em Hollywood tudo é negócio, a Paramount logo tratou de agilizar uma sequência para este último filme, que chega às telas pouco mais de um ano após a estreia do original. Em Atividade Paranormal 2 (Paranormal Activity 2, 2010), o espectador acompanha o que ocorreu antes dos acontecimentos da primeira obra – aqui, Micah e Katie são coadjuvantes, com a história sendo focada na família da irmã desta última, onde supostamente tiveram início os eventos. De certa forma, é uma ideia interessante, que realiza uma espécie de círculo com o filme original, tanto ao explicar um pouco mais a origem dos acontecimentos quanto ao oferecer uma nova conclusão à história.

Ainda assim, Atividade Paranormal 2 pouco oferece de novo em relação ao que foi visto na primeira obra. O diretor Tod Williams (Oren Peli, responsável pelo anterior, agora é apenas produtor) não consegue apresentar novas ideias na forma de filmar os acontecimentos dentro da casa; como consequência, a plateia é levada a acompanhar novamente filmagens durante a noite de portas se abrindo, objetos se locomovendo sem explicações e barulhos que não se sabe de onde vieram, entre outros. Claro que é difícil realizar uma história de fantasmas sem cair nestes artifícios, mas, se isso ainda tinha uma abordagem original na produção anterior, aqui parece apenas uma repetição de tudo o que já foi visto no ano passado – e, por extensão, ao longo da história do cinema.

Como se não bastasse, a história é praticamente a mesma. Mais uma vez, o suposto fantasma começa de maneira devagar, com aparições sutis, até mostrar a que veio perto do final. Aliás, é difícil entender por que eles sempre preferem assustar os indefesos seres humanos ao longo de muito tempo ao invés fazerem de uma vez o que devem fazer (resposta provável: se fosse assim, não haveria filme). Obviamente, os clichês comuns a obras do tipo também se fazem presentes em Atividade Paranormal 2, como a senhora excêntrica que parece saber mais do que todo mundo até as pessoas céticas que se recusam a acreditar no que acontece, mesmo diante de provas. Por sinal, a burrice dos personagens, um dos problemas do filme original, também prejudica a narrativa nesta continuação: por exemplo, mesmo com tudo aquilo acontecendo na casa, eles seguem deixando o bebê dormindo sozinho no quarto ou percorrendo a casa com as luzes apagadas.

De qualquer maneira, o recurso de fazer com que as câmeras estejam inseridas no universo fílmico continua rendendo ótimos resultados. Mesmo não sendo mais original, esta forma de filmar se destaca ao trazer alto grau de verossimilhança à produção, realmente fazendo com que tudo pareça verdadeiro e, por consequência, mais assustador. Em Atividade Paranormal 2, a atmosfera é novamente nervosa, realista, como se, nos momentos cruciais, a plateia realmente estivesse vivenciando tudo aquilo com os personagens.

Williams ainda aposta em longas tomadas na qual estica a tensão ao máximo, mesmo que seja apenas para um detalhe sutil como algo balançando sobre o berço do bebê. Da mesma forma, o cineasta é bem-sucedido ao criar sustos repentinos: ao invés de um recurso gratuito e apelativo, como normalmente acontece, aqui estes momentos se justificam, por estarem inseridos em uma construção narrativa que os privilegia – difícil não sentir um frio na barriga na cena na qual Kristi começa a ler uma revista na cozinha.

E o naturalismo proposto pela narrativa jamais alcançaria resultados tão positivos não fosse a boa interpretação do elenco. Katie Featherston e Micah Sloat retornam em rápidas participações aos papéis do primeiro filme (que, devido à estratégia, levam seus nomes), mas é a relação entre a família de Kristi que faz a plateia acreditar no que acontece na tela. A forma com a qual interagem e brincam entre si jamais soa artificial, realmente contribuindo para o clima de veracidade. Sprague Grayden (talvez a mais conhecida do elenco, inclusive com participação em 24 Horas), Brian Moland e Molly Ephraim parecem totalmente à vontade à frente das câmeras, convencendo tanto nos momentos mais tranquilos quanto nas cenas de puro nervosismo.

Utilizando o recurso das câmeras de segurança com inteligência – reduzindo, assim, os inverossímeis instantes nos quais uma pessoa normal certamente largaria a câmera ao invés de continuar filmando –, Atividade Paranormal 2 funciona de maneira eficaz em sua proposta de causar tensão. Não apresenta ideias originais e comete os mesmos erros de seu antecessor, mas sempre é bom acompanhar um filme que prefere construir uma atmosfera de medo ao invés de exibir litros e litros de sangue jorrando.

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