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Críticas

Cineplayers

Houve esforço para ser tão previsível ou foi sem querer?

5,0

Difícil entender o burburinho formado por parte da crítica norte-america em relação a Atração Perigosa (The Town, 2010), segundo projeto de Ben Affleck como diretor, isso porque em nenhum momento a história é capaz de parecer suficientemente interessante, principalmente para o espectador habituado ao gênero. A introdução do filme deixa a entender que haverá alguma crítica social contundente, ou uma análise mais profunda de Charlestown, bairro de Boston que serve de cenário. Logo de início, surgem na tela informações sobre a comunidade, conhecida por ser o local em que mais acontecem roubos a bancos, hábito ensinado de pai para filho.

Assim, o bando liderado por Doug MacRay (interpretado por Affleck) já é logo apresentado em ação, mas o didatismo da cena é muito prejudicial. Para possibilitar o desenrolar da história, Affleck posiciona sua câmera, em determinado momento, de forma a deixar bem clara para o público sua intenção de evidenciar a tatuagem de Jem, comparsa de Doug interpretado pelo indicado ao Oscar Jeremy Renner (Guerra ao Terror [Hurt Locker, 2008]). O motivo é evidente: se o espectador mais desavisado não perceber esse detalhe, metade da trama se esvai. Ao mesmo tempo, a mão pesada de Affleck neste momento tira o prazer do espectador de ter suas próprias percepções.

Após a cena inaugural, e que se pressupõe muito mais interessante do que de fato é, resta a espera pelo evidente momento de tensão oriundo do encontro entre Jem e a gerente do banco Claire Keesey (Rebecca Hall), feita refém pelo grupo após a ação. Outra aparente falta de sutileza de Affleck na direção, e também no roteiro coescrito por ele, é a sussurrada que seu personagem dá ao pé do ouvido da gerente. Naquele exato momento, a primeira coisa que vem à mente é: “ela reconhecerá a voz dele mais para frente”. Pelo menos em relação a isso, a tirada de Affleck é sagaz, mas, mesmo assim, não consegue fugir da previsibilidade do porquê de cada acontecimento na ação de assalto ao banco.

Na sequência, Affleck ainda tenta dar um tom sério ao flertar com a interessante reflexão da vítima que se apaixona pelo seu sequestrador. Mas sua passada pela Síndrome de Estocolmo é vazia, ainda mais porque a recíproca, do assaltante que rapidamente se interessa pelo alvo, faz parecer mais uma ladainha subtraída de romances impossíveis.

Desse modo, a história toma novo rumo: como tornar viável o romance entre duas pessoas com estilos de vida tão diferentes? Atração Perigosa, então, torna-se o conflito de um personagem que pretende alterar seu modo de vida, mas, ao mesmo tempo, não quer trair a amizade dos amigos, principalmente por dívidas passadas. Até aí reina a impressão da obviedade e essa tendência prossegue até o final, principalmente com as supostas sacadas inteligentes que só repetem velhas fórmulas.

Jon Hamm interpreta o agente do FBI responsável por liderar a caçada ao bando. Mas a forma como o roteiro facilita ou dificulta o trabalho da polícia para satisfazer o interesse de prosseguir com uma história que cada vez se afasta mais da realidade é deprimente.

Entretanto, Atração Perigosa tem bons momentos dentro de suas fraquezas. Os atores tornam o enredo digno e são eles os responsáveis por segurar a atenção do público em relação ao que é contado. Jeremy Renner destaca-se ao interpretar um tipo comum que facilmente poderia ser retratado pela caricatura. Rebecca Hall consegue dar graça a uma personagem sem sal e sem profundidade. Se Affleck já conseguiu ver a atriz de seu filme anterior ser indicada ao Oscar, Amy Ryan por Medo da Verdade (Gone Baby Gone, 2007), talvez a condução de atores seja seu maior talento atrás das câmeras. 

Atração Perigosa é bastante previsível, principalmente para o espectador mais calejado. Tem seus bons momentos, de fato, mas além de se desenhar óbvio no início, o desfecho chega a ser patético na tentativa de ser poético.

Comentários (1)

Lucas Castro | segunda-feira, 16 de Abril de 2012 - 12:24

"Não é como eu queria que fosse"

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