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Críticas

Cineplayers

A atriz Valeria Bruni Tedeschi, em seu primeiro trabalho atrás das câmeras, entrega um trabalho consistente e equilibrado.

6,5

Bastante interessante a estreia de Valeria Bruni Tedeschi como diretora. Obviamente, levando-se em consideração a origem de Tedeschi – renomada atriz do circuito europeu que aos poucos vai conquistando apreciação mundial – e o próprio título do filme, Atrizes segue a risca o esquema de filmes-de-ator, abrindo espaço para que cada personagem tenha seu momento de destaque em determinado ponto da trama e garantindo a importância da unidade de elenco na construção idiossincrática da protagonista - interpretada pela diretora, mulher que carrega uma infinidade de emoções em um olhar.

O filme acompanha a rotina de uma atriz de teatro prestes a completar quarenta anos e que se encontra em meio a um forte desencontro pessoal acarretado por sua falta de perspectivas. Um tema delicado e de certa forma já bastante estudado pelo Cinema – com certeza alguns devem torcer o nariz só de ler a sinopse -, mas existe surpreendentemente muita consciência de limites no tom imprimido por Tedeschi a este universo de desilusão. Distante de flertar com extremismos e compensando a dureza da história com uma leveza sempre carismática, a diretora opta por transformar o que poderia ser um dramalhão de segunda em um simples e afetivo drama cômico, equilibrando muito bem alguns temas de pessimismo latente com uma atmosfera descontraída.

Com isso, temos alguns momentos de forte apelo emocional - ainda assim falamos de uma mulher em desespero e à beira da loucura, chegando ao ponto de pedir à santa em que acredita para que lhe tire fama e dinheiro em troca de uma família - contrabalanceados por uma série de situações engraçadinhas - o acidente no restaurante, as conversas com a mãe, a resolução do caso entre o diretor e sua assistente e a cena final são bons e funcionais exemplos disso - mas que, ao contrário do que pode parecer, convivem de maneira bastante orgânica, sustentando a ideia de Tedeschi em manter o filme um tom abaixo do que seria caso fosse dirigido por um Sam Mendes, por exemplo.

Tedeschi também demonstra muita consistência no equilíbrio entre os dois universos das personagens, vida e teatro, que se confundem mesmo que delicadamente a todo o momento. Os ensaios e apresentações, que tomam alguns longos minutos do filme - especialmente na primeira metade, quando utilizados para construir a ideia de confusão mental entre a própria vida da protagonista e sua personagem na peça - são particularmente importantes para mostrar a influência da personagem na vida de Marcelline, assim como demonstram as dificuldades enfrentadas por ela para manter seu atual estado de espírito distante dos palcos. 

Mas o grande porém nasce exatamente onde deveriam surgir as maiores virtudes de Atrizes. Ok, o elenco é espetacular, tendo gente como Mathieu Amalric (da obra-prima A Questão Humana, de Nicholas Klotz) e Louis Garrel (de outro espetacular filme francês lançado no ano passado, Em Paris, de Christophe Honoré) interpretando com muita prioridade e liberdade, mas a medida que os coadjuvantes vão ganhando importância o foco parece se dilatar demais, chegando ao ponto de a narrativa necessitar de uma freada brusca para que todos tenham suas sub-tramas resolvidas - alguns de forma mais interessante, outros menos. Coisas que podem ser consertadas com um pouco mais de experiência, já que olhar de cineasta Valeria Bruni Tedeschi provou que tem.

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