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Aurora

(Aurora, 2017)
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Vidas negras importam

8,5

Assinado por Everlane Moraes e Tatiana Monge, 'Aurora' parte de um processo da necessidade de imersão absoluta, que precisa essencialmente do espectador adentrar aquela micronarrativa para compreender aqueles corpos, rostos, vidas quiçá. Um contínuo ato de perpetuação, não apenas de ações como principalmente de existência. E não apenas de uma existência qualquer, mas a efemeridade de uma mulher negra, que assim o é por conta de todo o desafio intrínseco a essa própria questão no simples fato de nascer nesse lugar, mulher e negra.

Três atrizes representam três estágios da vida humana, e complementam a si mesmas em suas corporalidades, suas repetições e suas intenções diante de dados em comum, como assistir a um temporal, ou a construção social da vaidade. Como se acionadas pela direção a reagir de maneiras livres a determinados elementos e/ou impulsos, suas verdades transparecem frente a câmera e projetam mais do que elas, mas tanto suas bagagens culturais e emocionais, despindo-se continuamente e introjetando na produção uma carga ampla de sensorialidades.

Fotografado num PB expressivo de Pablo Ascanio, que não só emoldura uma espécie de melancolia geral como evidencia a cor negra da pele dessas três belas mulheres em estágios tão díspares de vida, 'Aurora' não nos fornece texto, e por isso nos lega um lugar de entendimento sobre aquelas imagens muito particular e nada exato, tornando a experiência ampla e rica. Como a observar uma mesma personagens em épocas diferentes, respondendo de diferentes maneiras a estímulos contínuos, Everlane e Tatiana constroem um painel afetivo sobre mulheres que insistem em existir, apesar de lhes negarem mesmo esse básico.

Uma experiência de voltagem afetiva onde igualmente cada espectador acessará de modo diferente, porém cada um poderá ter compreensão da humanidade presente em cada uma daquelas pequenas inserções breves, aqueles encontros com recortes muito rápidos sobre aquelas três figuras impressionantemente expressivas e comunicativas apesar da ausência da palavra falada, que por fim desaguam no pranto da mais velha das três"; nesse momento, é impossível não se deixar levar pelo misto de sensações provocado por tanta delicadeza. 

Crítica da cobertura da 3ª Mostra SESC de Cinema de Paraty

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