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Críticas

Cineplayers

Baz Luhrman e Nicole Kidman falam de uma Austrália que eles conhecem e fazem lembrar os clássicos do bom e velho cinemão que atraia multidões.

8,0

Acostumados que estamos a associar o cinema de Baz Luhrmann a musicais, em geral misturando algum elemento clássico como a obra de Shakespeare ao que de mais pop poderia ser mostrado na década de 1990 (Romeu + Julieta) e depois, ao revisitar uma das manjedouras dos espetáculos da cultura de massa com Moulin Rouge, não é de se espantar que neste seu novo filme a música esteja presente também, assim como referências/reverências ao cinema, mais especificamente ao clássico O Mágico de Oz com a história da pequena Dorothy às voltas com o desejo de retornar à sua velha Kansas City.

Em Austrália, no entanto, a música surge de um lugar inesperado e pouco conhecido para só depois conectar-se ao universo da cultura pop. Neste filme o narrador é Nullah (Brandon Walters), um garoto que é a mistura de duas etnias desprivilegiadas na Austrália do pré Segunda Guerra: negros e aborígenes. Seguindo os passos de seu avô, King George (David Gulpilil), o menino recebe os ensinamentos do Gulapa, o feiticeiro ou mago maior da região de Arnhem Land. E como nos conta a longa história deste filme, o gulapa é aquele que guarda as canções secretas que os antepassados produziram para que o homem pudesse dominar e reverter qualquer problema com cada um dos elementos vivos da Terra.

E assim é que Lady Sara Ashley (Nicole Kidman) que vive em Londres, cansada da ausência do marido que vive enfurnado na propriedade que possui no país que dá nome ao filme, resolve ir até lá para ajudá-lo a vender este elefante branco e assim livrá-los da eminente falência. Enredada por uma série de interesses a respeito de suas quase duas mil cabeças de gado e pelo valor da propriedade que leva mais de dois dias para ser percorrida por inteiro, Lady Ashley acaba perdendo o marido e precisará então decidir sobre vender tudo por um valor aquém do esperado ou comprar uma boa briga com o dono do comércio de carne da cidade, o ganancioso King Carney (Bryan Brown). Tendo toda a cidade contra si, as únicas pessoas com quem ela poderá contar nesta empreitada serão os empregados da propriedade, Nullah e o arisco vaqueiro interpretado por Hugh Jackman.

O filme começa leve e despretensioso, como nos explica Nullah, já que contar uma história é o melhor que os homens tem a fazer e a deixar para seus sucessores. E as piadas sobre o relacionamento conturbado desta mulher refinada em meio a uma sociedade pouco polida e sua aceitação dos limites e belezas desta gente vão dando lugar a uma história de afeto entre uma mulher, uma criança e um homem unidos por um objetivo comum: manter de pé o seu lar.

Nesta aventura que envolve três pessoas e um objetivo, o filme tem espaço também para falar das jornadas individuais de cada um, jornadas estas que levam homens e mulheres a se conectar uns aos outros, ao mesmo tempo em que cada um preenche as páginas de seu próprio livro de histórias. E assim passamos de uma leve comédia, para uma entusiasmante aventura, que logo se transforma em uma história de amor e tragédia, ainda que a parte final seja um pouco aborrecida para quem já viu inúmeros filmes que narram as histórias pertencentes ao episódio da Segunda Guerra Mundial.

Unindo as belas e selvagens paisagens do país a cenários que lembram as produções hollywoodianas da década de 1940 e figurinos muito bem desenvolvidos de acordo com a personalidade de cada personagem, Baz Luhrmann leva quase todo o ritmo do filme pela rédia, pontuando as nuances que nos fazem embarcar e viajar por um filme que comporta vários gêneros em um só. O carisma da dupla Hugh Jackman e Brandon Waters cativa o público, assim como a beleza de Nicole Kidman é explorada na medida certa e o efeito disso é só um: não é nada difícil rir, chorar e torcer para que os três concluam suas histórias com finais felizes.

O que chama a atenção neste filme é a vontade de contar uma boa história, usando um pouco de verdade e muito de imaginação para deixar gravada uma imagem afetiva da Austrália, lugar que muitas pessoas chamam de lar enquanto outras sequer sabem onde fica. E plagiando Dorothy, o que Lady Ashley deixa dito ao final é que não há lugar melhor do que nosso lar, apesar de tudo que se possa dizer ao contrário disso.

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