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Críticas

Cineplayers

A ambição de Thor Heyerdahl e sua expedição em benefício da história.

7,5

Representante norueguês do Oscar 2013, Kon-Tiki (idem, 2012) traz a corajosa expedição pelos mares feita pelo explorador Thor Heyerdahl acontecida em 1947 em nome da ciência. A história é baseada neste fato, quando Thor afirmou que a Polinésia havia sido povoada por uma antiga civilização peruana, contrariando os livros que afirmavam outra colonização. Seus estudos de mais de uma década foram colocados em cheque por editores que se recusavam a publicar sua revelação, já que ele não possuía provas e se baseava em teorias observadas com o tempo sobre uma corrente marítima que atravessava naturalmente o pacífico. Confiante em sua descoberta, lançou-se ao mar sobre uma jangada de madeira feita exatamente nas mesmas condições que os povos antigos fabricavam. Junto com ele foram caras que dividiam a mesma expectativa, ou que não tinham nada mais para fazer e eram propensos à tal aventura midiática e perigosa. Subiram à bordo.

O empreendimento desses 6 homens foi bastante ousado. Atravessaram o oceano – 8.000 quilômetros – em companhia de uma arara e um caranguejo, sobre troncos presos por cordas umedecidas, apodrecendo pouco a pouco, e sendo devoradas por peixes. O tempo médio de viagem era de 3 meses. Mais de 100 dias foram contados e uma autêntica aventura de caráter épico fora realizada e registrada por uma Super 8 – o documentário produzido durante essa viagem faturou um Oscar no ano de 1951.

Ilustra-se a figura de um herói, Thor Heyerdahl (Pal Sverre Valheim Hagen), que foi longe, vencendo um temor da infância em benefício da ciência. Uma cena introdutória visa estabelecer um arco dramático, culminando no ato final como uma ligação de sua pessoa insubordinada desejando superar desafios. Ele marcou seu nome definitivamente enquanto um conquistador, gritando alvoroçado junto aos companheiros um desabafo contra a descrença de seu feito. Acessamos a verdadeira origem dos Tiki – nome dado ao povo que habitava a Polinésia.

A produção é luxuosa e os acontecimentos relativos ao esmero técnico são inteligíveis, coesos e bem trabalhados, sem exageros como provavelmente aconteceria em outros países, especialmente nos Estados Unidos, em Hollywood, que não economizaria nos excessos para transformar a viagem dos tripulantes ainda mais custosa. Mera especulação diante de muita coisa já vista. Temos tubarões rondando, baleias passeando embelezando o cenário exuberantemente detalhado e o sol torturando os corpos que pouco conseguem se proteger. Foi um natural sucesso de bilheteria em terras escandinavas e deverá ganhar alguma atenção do resto do mundo com o tempo, especialmente após uma consulta de professores e prováveis indicações em aulas.

Não é um longa que excitaria algum brasileiro em ver pela representação e significado, pois não tem o mesmo valor vaidoso como para o povo do norte europeu, mas talvez chame a atenção pela ação e beleza disposta, já que constatamos uma fotografia limpa registrando a jangada à deriva na imensidão azul. A narrativa é muito bem amarrada. Ainda há um plano cujo efeito é estonteante, quando a câmera, posicionada num tipo de zenital, provoca um efeito de distanciamento através de um zoom out, deixando o barco desaparecer na escuridão noturna; observamos o céu e logo a galáxia, focando a rotação terrestre numa ótica galante. O efeito gráfico é imperceptível. Logo retornamos até à jangada e com o sol iluminando o planeta, anunciando a manhã. Um outro dia. Uma sombra finalmente eclode no mar trazendo lapsos de esperança aos aventureiros.

É um blockbuster norueguês que custou US$ 16,4 milhões. A direção é de uma dupla, Joachim Roenning e Espen Sandberg, que faz um filme de devoção, bem realizado e contado, homenageando patrioticamente um nome de relevância do país nórdico. Thor morreu em 2002 aos 87 anos.  Há quem possa torcer o nariz pelo que provavelmente verá em cena, sacar a estima pela figura representada por Pal Sverre Valheim Hagen. O filme não se restringe unicamente ao episódio da viagem, há atributos da vida pessoal do protagonista, uma subtrama envolvendo sua família, especialmente a esposa, a qual vive um caso estremecido. “Kon-Tiki” é um variante do cinema norueguês que vem lançando filmes mundialmente salientando o folclore local, como O Caçador de Troll (Trolljegeren, 2010) e o recente inédito Thale (idem, 2012). Filme de heróis sem super poderes, o atrativo é demonstrar que são seres humanos que erram, relacionam-se e se desentendem, no entanto, audaciosos, se perpetuarão orgulhosamente na memória de um povo e na história.

Comentários (9)

João Davi Minuzzi | domingo, 11 de Agosto de 2013 - 02:10

Bom filme, eu como professor com certeza recomendarei. A relação entre o homem e a natureza, bem como deste com seus antepassados é primorosa.

Douglas Rodrigues de Oliveira | segunda-feira, 12 de Agosto de 2013 - 09:10

Considero melhor que As Aventuras de Pi, apesar de também ter uma fotografia de dar água na boca e queixo caído. Mas é que Kon-tiki consegue em várias tangentes superar a odisseia marítima de Ang Lee como exercício narrativo sem pragmatismos, principalmente. O que a crítica acima afirma e ponho aqui em outras palavras, é que o filme nos torna marujos sem precisar de 3D, em suma.

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