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Críticas

Cineplayers

Boas interpretações não garantem necessariamente um bom filme. Babel carece de um roteiro melhor.

6,0

Babel, como o nome sugere, é sobre um fenômeno sociológico que acomete o mundo contemporâneo: a incomunicabilidade, temática festejada do atual cinema ianque – basta perceber que tanto este quanto o vencedor do Oscar do ano passado, o maravilhoso e controverso Crash – No Limite, se aproximam tanto em estética formal quanto em conteúdo. 

O novo filme do mexicano Alejandro González Iñárritu encerra uma trilogia iniciada por Amores Brutos e que atingiu o auge no difícil 21 Gramas, sempre seguindo o modelo de causa e conseqüência. Em comum aos três filmes, a linguagem publicitária, que sempre irrita aos mais puristas, e o roteiro fragmentado, que já está virando lugar-comum, por conta do excesso de projetos que vem buscando essa solução.

Escrito por Guillermo Arriaga, colaborador indispensável de Iñárritu, Babel tem quatro linhas narrativas distintas que se entrelaçam com o decorrer do longa: no Marrocos, Richard (Brad Pitt) e Susan (Cate Blanchett, sem muitos diálogos) passam férias tentando fortalecer um casamento falido após a morte de um dos filhos; na América, seus outros dois filhos estão aos cuidados de Amelia (a surpreendente Adriana Barraza) , babá chicana às voltas com a possibilidade de perder o casamento do filho no país natal. No Japão, a adolescente surda-muda Chieko (Rinko Kikuchi), descobrindo a própria sexualidade, tem problemas em se relacionar com o mundo à sua volta e com o próprio pai. Por fim, duas crianças árabes recebem um rifle do pai para pastorear ovelhas e acabam desencadeando os fatos que interligarão as tramas.

Indicado a sete Oscar, vencedor do prêmio de direção no último Festival de Cannes e melhor filme dramático no Globo de Ouro, é deveras superestimado. Anacrônico em suas críticas sociais e previsível em seu desenrolar, é na sua estrutura frágil do roteiro que reside seu maior problema: a trama japonesa. Ótima idéia para ser desenvolvida em um curta-metragem, acaba deslocada no contexto geral. Sua fraca ligação com as demais narrativas acaba dissipando o interesse naquela que deveria ser o símbolo do filme. 

Enquanto a história do casal americano não desenvolve maior interesse, e a problemática dos meninos árabes resvala-se em exageros dramáticos (o cerco policial à família é incompreensivelmente exagerado), sobra para Adriana Barraza trazer algum frescor. Diretora de televisão no México e professora de atuação, a até então desconhecida Barraza dá credibilidade a um papel ingrato: sua babá é burra e irresponsável, a ponto de cruzar a fronteira com crianças que não são suas, colocando em risco a suposta estabilidade de sua vida ilegal nos Estados Unidos. Barraza exala desespero nas cenas mais dramáticas e engole Gael García Bernal quando estão juntos em cena. Um grande desempenho. 

Pelo menos o filme não se esquece de apontar a grande causa desencadeadora da falta de comunicação entre as pessoas: a forma de interação entre pais e filhos. Nos quatro fragmentos há a percepção de ruído nesses relacionamentos: o japonês que não consegue enxergar os problemas da filha; o pai árabe que castiga os filhos que alvejaram um turista da mesma forma como castiga a filha que se despe para o irmão; a chicana que abandona a família para buscar o sonho da prosperidade em outro país; e os pais americanos que não parecem próximos dos filhos nem quando estão por perto. Muito pertinente.

Tecnicamente irrepreensível, desde a montagem de cortes certeiros até a direção rebuscada e cheia de artifícios, passando pela belíssima trilha sonora de cordas de Gustavo Santaolalla, Babel carece de um roteiro mais bem amarrado. Do jeito que ficou, é apenas um bom filme.

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