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Críticas

Cineplayers

Um filme que dá continuidade à grande obra original, mas sem o mesmo brilhantismo e coragem.

5,0

Depois que a Disney anunciou sua infeliz decisão de não fazer mais filmes em animação tradicional para os cinemas, muitos ficaram espantados. Lançado diretamente em vídeo nos Estados Unidos, Bambi 2 – O Grande Príncipe da Floresta, a continuação de um dos maiores clássicos da empresa, chega de mansinho em uma época fria de filmes infantis, mas não deve fazer tanto sucesso; nem entre os mais jovens, nem entre os grandes fãs da obra de 1942.

A história conta como Bambi, nosso pequeno cervo, conviveu com seu pai, o grande príncipe da floresta, após ter perdido sua mãe, no primeiro filme. Apesar de bonitinho e de trazer todos os clássicos personagens de volta, a história não se sustenta por ser absolutamente simples e não ter nenhum grande momento. Aliás, é isso que diferencia os filmes normais da Disney de seus grandes clássicos: seqüências marcantes. Enquanto Aladdin, A Bela AdormecidaBranca de Neve e os Sete Anões e as demais obras-primas da empresa tem milhares de passagens inesquecíveis (transformando o simples em um imenso complexo), seus últimos trabalhos apresentam a mesma simplicidade na mensagem (sempre jogada na nossa cara, sem o menor trabalho para a digerirmos; ela cria a discussão, sempre nos tendenciando para algum lado), mas não cenas que marquem a experiência de quem quer que esteja assistindo.

Bambi 2 é simples demais, direto demais. Não trabalha, em momento algum, as possibilidades que sua história lhe dá. É tudo muito direto, superficial, e, por isso, difícil de embarcar. A falta de uma grande cena, de um grande momento, o faz ser apenas farinha do mesmo saco, mas com uma grande vantagem perante aos outros: o bom gosto. Enquanto muitas animações se apegam a maneirismos e estilos moderninhos de animação, tudo em Bambi 2 é criado com cuidado para estar semelhante a obra original – e é com grande orgulho que vemos lindas paisagens, personagens detalhadamente desenhados, fundos maravilhosos (e não aquelas sombras que ficam na grande maioria das animações atuais). Em qual animação, nos dias de hoje, vemos o filme perder tempo mostrando pingos de água caindo em folhas? Não muitos, claro, mas isso traz charme, estilo, glamour para a obra.

Mas ao mesmo tempo que há um grande bom gosto no aspecto técnico, na construção do roteiro temos várias e várias falhas. Mesmo que a opção de mostrar a ameaça dos homens seja acertada, fica faltando, além da falta de profundidade já citada e de seqüências mais fortes, um desenvolvimento decente dos acontecimentos. Digo isso porque só sabemos o que os personagens estão sentindo porque eles dizem, e não porque a mensagem é transmitida até nós. Um exemplo: só sabemos que Bambi quer agradar ao pai porque isso é dito no filme, e não porque o personagem faz valer o esforço. Há a tentativa, mas ela é falha, não convincente. Outro ponto falho no roteiro são algumas piadas desnecessárias, que não combinam com o "poder" que o nome Bambi tem: o que falar de um gambá que, para atordoar os adversários, solta um peido? Piada que, além de moderninha demais, já se tornou clichê.

Se comparado ao original, isso me deixa com a pulga atrás da orelha para essas continuações de clássicos da Disney. Bambi 2? Cinderela 2? O que virá depois? Pior que agüentar a própria exploração em cima das séries famosas é agüentar esses subtítulos horríveis e desnecessários que as distribuidoras cismam em colocar nos filmes que aqui chegam. Não me admira que a Pixar tenha agido desesperadamente para cancelar Toy Story 3, assim que começaram a trabalhar na Disney, logo após a compra da mesma pela nova irmã mais velha.

Os quatro anos que esse filme permaneceu no forno para chegar redondinho ao público acabaram não sendo suficientes – ou pior, parecem ter sido o principal motivo do bolo acabar murchando nesse meio tempo.

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