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Barão Olavo, o Horrível

(Barão Olavo, o Horrível, 1970)
6,7
Média
19 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

“Dizem que o macabro Barão gosta mesmo é de cadáver.”

7,0

Aqui um material altamente experimental de um Júlio Bressane em ebulição. Produção da BELAIR, produtora dos parceiros Rogério Sganzerla, o já citado Júlio e Helena Ignez. Calcados numa esfera de clandestinidade estes autores montaram esta produtora de cinema marginal. Numa preocupação com o caráter absolutamente autoral de liberdade total dos próprios. Tudo isto em pleno 1970, no grosso do regime militar no Brasil. A BELAIR produziu em alguns meses 7 filmes, entre eles este terror amálgama, objeto do texto.

Pura transgressão e simbolismo. Ou tudo solto? Não interessa. Um cinema de sensações. Experimental até o talo. Desespero e iconoclastia. O terror como sensação strictu sensu. Uma fita Inclassificável? No mínimo um mosaico de cores em estupefação. Bressane aposta no sensorial daquilo que o terror pode possibilitar dentro do campo da confusão narrativa. Nisso as escolhas do diretor transparecem vívidas neste quase média-metragem. Com seus planos longos e contemplativos com várias aleatoriedades ligadas aos mesmos. O experimento desta liberdade de criação não tem por obrigação o resultado final, mas, sim o processo como um todo e o que o mesmo implica. Por isso a confusão.

Não parece um terror propriamente dito. Mas a sensação de desconforto que causa o encaixa no gênero. E nem era esta a intensão. Mas a perambulação em locais macabros, tais quais um cemitério e gemedeiras outras de uma Helena Ignez impondo beleza e confusão nas mesmas proporções trazem o filme para a seara sensorial horrorífica.

Um terror calcado naquilo que causa como filme de gênero propriamente dito e também com a sagacidade – e cara de pau – a causar socialmente com a desenvoltura que mostra crimes e tabus. Onde nos quais o primeiro é representado pela necrofilia do Barão em seu absorto tesão por cadáveres, com o combo de profanar um em momento próximo de velório – e num tom de iconoclastia com os personagens antes disso tendo acesso a ressalvas de reza e tratando-as com o sarro de seus rostos. E no segundo por conta da relação lésbica protagonizada por Helena Ignez. Aqui numa inversão do terror, não causando-o por uma questão de gênero fílmico, mas numa de gênero sexual, principalmente num país altamente conservador tal qual o Brasil e dentro de um período de repressão política/social/moral como era a ditadura. Bressane e sua trupe alopravam os filmes de sua produtora sem submetê-los ao crivo da censura. Por isso mesmo a alcunha de clandestino lhes cabia tão bem.

Som. Voz off solta carregando o filme em alguns momentos. E barulhos e grunhidos para obtenção do pavor. Sem necessidade de encaixe com outras sequências. Por isso a batalha por um cinema de sensações, que tem mais proeminência daquilo que pode causar num primeiro momento que não tenha uma narrativa a destrinchar. Nisso vem a repetição de sons em desconexão ao que rola na imagem. Claro que esta afirmação é mediante o rol classicista dos signos do cinema. Bressane aqui quer quebrar esta parede e meter seu estilo na soltura de suas marmotas.

Fita incômoda cheia de aleatoriedades. Uma tropicália de cores e um migracionismo cinematográfico. O êxodo. Sai do colorido forte do meio do mato para a selvajada de pedra de uma urbs em descontrole em seu final, ou seja lá o que o término da fita o seja. Nisso tudo acelera no campo diegético, já que os planos de Bressane ainda contemplam tudo com poucos cortes, mas denotam mais movimento, como num conhecer daquele novo ambiente por personagens aparentemente avulsos em sua existência e dentro daquilo que não pretendem. Perambular e correr a solta numa cidade grande. Uma busca por expiação das figuras? Não. Só gritaria, dor e marmota em pouco mais de uma hora que causa aflição mais pela existência de tal material implicado do que o terror propriamente dito que sua titulação e trilha sonora inicialmente propunham.

Crítica integrante do especial Abrasileiramento apropriador do Halloween

Comentários (2)

Luís F. Beloto Cabral | quinta-feira, 29 de Outubro de 2020 - 19:43

Lá no fundo deste poço tem um copo de veneno, quem bebeu morreu!
Lílian Lemmertz também tá linda nesse filme.

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