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Batman Begins

(Batman Begins, 2005)
7,6
Média
1302 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

O filme definitivo de Batman.

8,0

Como qualquer adolescente nos anos 80, eu vivi a era de ouro dos quadrinhos com títulos como O Cavaleiro das Trevas, Watchmen e Sandman chegando nas bancas regularmente. Eram quadrinhos revolucionários, com narrativas adultas e arte mais ousada. O Cavaleiro das Trevas e A Piada Mortal me apresentaram ao universo do Batman, magnificamente recontado em Ano Um, outra genial revista. Por causa disso, nunca fiquei satisfeito com os filmes antigos do personagem, para mim, os filmes do Tim Burton eram mais um exercício de estilo do diretor, em que o personagem ficava em segundo plano para o visual delirante e os vilões, sempre muito melhor explorados. Os filmes do Joel Schumacher nem contam.

Mas Batman Begins ignora tudo o que foi feito antes e recomeça a história estabelecendo um tom muito mais próximo dos quadrinhos. Saem o "freak show" de Tim Burton e o carnaval do Schumacher, entra Christopher Nolan de Amnésia com seu estilo de narrativa não linear, mais focalizado em esclarecer a psicologia e os mitos de Batman. Bruce Wayne se torna o centro de interesse e o filme destrincha o personagem com uma avalanche de detalhes que podem pegar o espectador de surpresa. Não é exatamente o que se esperava em um blockbuster de super heróis, mas é muito bem vindo.

Não que o filme tenha se tornado difícil, o ritmo é relativamente rápido apesar de tanta exposição e, mesmo se levando a sério, não é desprovido de humor e ação, o que torna a experiência bastante recompensadora. Bruce Wayne leva bastante tempo para vestir o uniforme e o início do filme revela detalhes obscuros do seu passado, de como se tornou um exímio lutador e foi buscar sentido para seu combate contra o crime exilando-se no oriente, onde encontra seu primeiro inimigo, o misterioso Ra's Al Ghul. Esse personagem não é muito conhecido do grande público mas é um dos melhores dos quadrinhos. O interessante dele é que, ao contrário dos inimigos psicóticos e caricatos que o Batman costuma enfrentar, Ra's é mais racional e, assim como Batman, também deseja combater o mal mas sua visão é muito radical. Ele é um terrorista e genocida.

De volta a uma Gotham menos gótica que nos filmes anteriores, mas ainda com alguns elementos surrealistas, Wayne tenta recomeçar sua vida e dar início a seu plano. O filme estabelece os personagens secundários interpretados por um elenco excelente, com destaque para Michael Caine como Alfred e Morgan Freeman como Lucius Fox, ambos estão perfeitos e suas falas são as mais divertidas. Katie Holmes não brilha, mas é competente como o interesse romântico de Wayne, já Gary Oldman se saiu melhor como comissário Gordon e é bom vê-lo no papel de um homem íntegro, ao contrário dos pervertidos que sempre interpreta. Mas quem merece atenção é mesmo Christian Bale pois o seu Bruce Wayne é complexo e cativante, finalmente um filme do Batman em que ele é tão bom quanto os vilões, ou melhor. Bale faz com que acreditemos no personagem, algumas vezes ele soa como o filho de papai rico que é, mas compreendemos seu sofrimento e acompanhamos passo a passo a sua transformação em Batman. Quando ele finalmente veste o uniforme tudo faz sentido, dentro de um universo de super-heróis, claro.

Mas os vilões não ficam tão para trás, além de Ra's Al Ghul há também o Dr. Johnatan Crane, mais conhecido como o Espantalho. Como o medo é um dos temas centrais do filme, a escolha foi perfeita entre os vilões mais clássicos. Ele está completo com a máscara grotesca e seu gás venenoso, que leva as pessoas a uma alucinação paranóica, o ator que o interpreta é o pouco conhecido Cillian Murphy, de Extermínio, que até mesmo sem a máscara dá arrepios em sua atuação convincente, pouco caricata. Não gosto de discutir muito a história pois prefiro não entregar nada da trama, que é intrincada como um bom quadrinho do Batman. Vê-lo investigando coisas como o detetive que é vai animar os fãs, mas o grande público também não foi esquecido e logo o filme embarca em elaboradas sequências de ação.

As cenas de luta infelizmente são feitas no estilo câmera tremida e cortes rápidos, o que torna tudo caótico e causa dores de cabeça, mas as seqüências com o Tumbler (nunca usam termos como batmóvel no filme) são muito boas e o final tem seqüências de destruição espetaculares. É notável o uso discreto de computação gráfica depois de filmes de herói recentes como Homem-Aranha e Demolidor, que a usam indiscriminadamente. Chega até a ser reconfortante ver dublês de carne-e-osso e efeitos práticos sendo empregados. O visual do filme é estiloso mas não chama atenção demais para si e, apesar da trilha sonora do Danny Elfman ainda possuir um tema mais memorável, o trabalho do Hans Zimmer é bonito.

Na minha opinião, Batman foi um filme tão bom ou superior aos da Marvel, ele respeita o universo e os personagem como os filmes dos X-Men, encanta e diverte como os do Homem-Aranha e foi mais bem sucedido em explorar os dramas e complexidade dos personagens do que o Hulk. Se o filme do Super-Homem ficar nesse patamar, a DC tem tudo para emplacar e nós, como espectadores, só temos a agradecer.

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